Resenha - Continuum - John Mayer
Por Rodrigo Simas
Postado em 04 de novembro de 2006
Nota: 8
Depois de ser comparado incansavelmente com a Dave Matthews Band após o ótimo Room For Squares (2001), e tentar fugir dessa comparação com Heavier Things (2003) - que realmente já não mais se assemelhava à banda da Virgínia, mas mantinha sua vertente pop rock intacta - John Mayer achou um novo caminho com o disco Try! (2005). Se apresentando como John Mayer Trio, com Steve Jordan na bateria e Pino Palladino no baixo, e repertório voltado para seu lado mais rock e blues, mesmo suas músicas mais pop ganharam uma roupagem diferenciada, conseguindo visibilidade e respeito de pessoas que nunca haviam se interessado pelos seus trabalhos anteriores.
Nessa época e durante o período de composição e produção de Continuum (seu quarto trabalho de estúdio, se levarmos em conta o EP independente Inside Wants Out, de 1999), Mayer participou de diversos trabalhos com nomes de peso, como Eric Clapton, Buddy Guy, John Scofield e BB King. Tudo levava a crer que a sonoridade apresentada no novo trabalho de estúdio seguiria a linha apresentada em Try! e que sua fase inicial mais pop seria deixada de lado.
Nem uma coisa, nem outra. John Mayer soube incorporar suas influências, mostrando um trabalho que não soa como nenhum outro da sua carreira, mas traz referências de todas suas fases. A entrada com "Waiting On The World To Change" lembra Marvin Gaye no auge: soa pop, dançante e sensual. Sua voz já chama atenção de primeira, idem a produção, impecável. A letra, não menos boa, fala do sentimento de impotência em mudar as coisas erradas no mundo hoje em dia. A pegada blues da guitarra se mantém presente, mas ainda não é nessa faixa que Mayer mostra todo seu potencial.
Com músicas mais introspectivas, primando pela sutileza dos arranjos (a maior parte delas têm como base os dois músicos da fase "trio") e pelo groove criado nas gravações, Mayer desfila uma série de músicas com elegância ímpar. Entre elas, "Belief", com guitarra gravada por ninguém menos que Ben Harper e refrão que remete diretamente a Sting em seus melhores momentos, "Gravity", em sua versão de estúdio (já que havia sido lançada previamente ao vivo no já citado Try!), as belíssimas "The Heart Of Lies" e "Stop This Train", além da impagável "Bold As Love", de Jimi Hendrix, que recebe tratamento de luxo e mostra toda destreza de John Mayer nas seis cordas.
Um disco que mostra a maturidade deste jovem talento, que já não se importa com quantos CDs vai vender, e sim com a qualidade de seu trabalho. Como ele mesmo diz no final do encarte do CD "If you are reading this with an instrument in your lap – get to work, and deep in it. We all need you" (algo como: se você está lendo isso com um instrumento em seu colo, trabalhe, e vá fundo nisso. Todos nós precisamos de você). Música de gente grande.
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