Resenha - Let It Bed - Arnaldo Baptista
Por Anderson Nascimento
Postado em 15 de setembro de 2004
Arnaldo está vivo. Me aproprio da forma com a qual Arnaldo nos ensinou a brincar com as palavras para dizer que ele está vivo. Vivo também no sentido de esperto, antenado, corajoso e como sempre, revolucionário.
Let It Bed, seu novo disco (que gostoso falar que é o seu novo disco), deve ser ouvido livre de qualquer preconceito que a música há muito tempo carrega. Ele traz um Arnaldo bem mais curado que o mesmo Arnaldo de 1987, quando lançou o sofrido "Disco Voador".
Neste novo disco, Arnaldo toca todos os instrumentos e o produtor John (Pato Fu) procurou se envolver o mínimo possível, para deixar a obra exatamente do jeito que o Arnaldo queria, deixando o resultado final com cara de um tremendo caos criativo. E é aí que talvez muitas pessoas podem ficar com uma impressão estranha sobre o álbum.
O álbum tem sim o nonsense da época dos Mutantes, tem sim um pouco da dor que o Arnaldo carregou em seus dois primeiros álbuns solo e traz, além disso tudo, um artista que olha para frente sem se esquecer do passado.
O álbum abre com uma canção folclórica aclimatada com sons da selva, resgatada lá do fundo da memória do compositor, "Gurum Gudum", segundo Arnaldo, era cantada pelo seu avô ele ainda era um menino. Segue com uma versão para uma música tirada do desenho do Pica-Pau, apropriada por Arnaldo, "Evereybody Thinks I’m Crazy", tem além do tradicional piano, um acompanhamento de gaita. "LSD", ao contrário do que possa parecer, é uma canção de exaltação à música "Louvado Seja Deus, que nos deu o Rock’n’Roll", é profunda, e apesar da letra, soa dramática, Arnaldo sussurra as frases da música falando em Deus, Cristo, clone e Rock. "To Burn or Not To Burn", a quarta faixa é super interessante, embalada em um baixo ultra pulsante (o próprio Arnaldo é quem diz "Esse é o meu lado baixista falando alto!"), a música funcionaria perfeitamente em uma pista de dança! "Bailarina", a próxima música, já é um novo clássico no cancioneiro do ex-Mutante, a letra é puro lirismo "...eu sei que você ao se deixar tocar, me dará o prazer de ser um mortal, imortal...", é, sem dúvida, a música que mais me impressionou no álbum, inclusive pela forma que o Arnaldo a canta, senti arrepios ao ouví-la pela primeira vez. "Deve ser amor", te leva diretamente ao som do Arnaldo na Segunda metade dos anos 70, Arnaldo Baptista dá outro show no baixo, a música começa no piano e acaba virando um rockão psicodélico, juro que lembra "What’s a shame Mary Jane" do Beatles. Antes de entrar em "Cacilda", Arnaldo faz uma adaptação de uma música Gospel americana. Aliás "Cacilda" e "Tacape" são duas músicas resgatadas do baú do Arnaldo, chamado pelos fãs de "Elo mais que perdido", neste cd elas receberam um tratamento especial para sair do anonimato, antes só conhecidas através de uma velha fita K7. "Cacilda" um Rock lisérgico e crescente, não possui nem mesmo data certa da gravação, cabendo no encarte somente a informação de que foi gravada no fim dos anos 70 e início dos 80. Já "Tacape", foi gravada ao vivo em 1981 no Teatro da Universidade Católica de São Paulo, e é bastante aplaudida. O disco segue com "Imagino", uma reflexão sobre a sua própria existência. "Ai Garupa" tomou os produtores do disco de assalto, um dia Arnaldo chegou e falou que tinha ensaiado muito uma música e queria gravá-la naquele dia, e aí saiu a música, que traz a participação de Lucinha, esposa de Arnaldo, a pedido dos próprios produtores. Em "Encantamento", onde o forte é novamente a letra, Arnaldo volta a citar o gosto pela sua "loucura", "...sou louco e gosto de sê-lo assim...".
Esse é o Arnaldo que conhecíamos e o Arnaldo que queremos. Louvado seja Deus por nos proporcionar este momento.
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