Resenha - Toys In The Attic - Aerosmith
Por Leo Rodrigues
Postado em 05 de janeiro de 2003
Antes de sofrer uma crise criativa no final dos anos setenta (regada a doses cavalares de entorpecentes e todos os excessos típicos de um conjunto roqueiro), e muito mais distante ainda do retorno ao estrelato promovido por uma famosa trilogia de vídeo clipes veiculados na MTV, o Aerosmith traçava uma bela trajetória dentro do panorama do hard rock da época. Ao lado de Rocks (1976), Toys In The Attic divide, entre os fãs mais antigos, o posto de melhor disco gravado pelos "Bad Boys From Boston". Porém o quinteto capitaneado pela dupla Steven Tyler (vocalista) e Joe Perry (guitarrista), só viria a se transformar em uma das maiores bandas americanas dos anos 70, lotando estádios e vendendo milhões de cópias, após o lançamento do seu terceiro trabalho, um clássico do rock. Mais do que isso, Toys In The Attic foi fundamental para a evolução da carreira do conjunto, que até então era obrigado a conviver com o estigma, criado pela imprensa, de ser mera cópia dos Rolling Stones, mito difundido muito mais pela semelhança física entre Tyler e Jagger (principalmente pela enorme boca) que pelo som que executavam.
No primeiro semestre de 1975 o LP já podia ser encontrado nas prateleiras das lojas de discos. A produção da bolacha ficou, como de costume, por conta do fiel escudeiro Jack Douglas, e as gravações foram feitas no hoje lendário Record Plant Studios, em Nova Iorque.
A faixa-título abre o lado-A. Rápida, eficiente, sem firulas, como todo bom rock deve ser. Desde então, Toys In The Attic sempre teve presença cativa nas apresentações ao vivo, influenciando toda uma geração de roqueiros. Até mesmo o R.E.M., umas das mais cultuadas bandas underground da atualidade, já revisitou a canção. Na seqüência, em Uncle Salty, é apresentado pela primeira vez um tema polêmico, o abuso infantil. O assunto seria novamente abordado na década seguinte com o hit Janie's Got A Gun. Arranjos e vocais um tanto quanto atmosféricos dão mais charme à canção, lançada como lado-B do single de Sweet Emotion. Seguindo o estilo de One Way Street, do auto-intitulado primeiro trabalho, Adam's Apple mostra um rock bem trampado, baseado em R&B, com destaque para os arranjos de guitarra dobrada.
A quarta faixa é sem sombra de dúvidas um grande clássico. Estou falando de Walk This Way, cuja base rítmica foi criada por acaso, numa passagem de som da banda. Com a letra escrita em apenas um dia, essa faixa é um funk-rock de riff marcante, facilmente reconhecido pelo público ao ser executado, assim como é (I Can't Get No) Satisfaction para os Stones. Ninguém imaginaria que após onze anos, uma parceria entre o Aerosmith e um grupo de rap, faria da música a peça chave para resgatar o grupo de um ostracismo ao qual foi levado pelas drogas.
Big Ten Inch Record, uma cover de autoria de F. Weismantel, no estilo rockabilly com pitadas de Jazz, fecha o primeiro lado do disco. Conjuntos contemporâneos ao Aero, como os ingleses do Queen e Black Sabbath, também gostavam de tocar músicas dos anos 50, como Jailhouse Rock e Blue Suede Shoes (ambas já gravadas por Elvis Presley). Uma justa homenagem aos primeiros músicos a fazerem a cabeça de jovens como Freddie Mercury, Ozzy Osbourne, dentre tantos outros.
O Lado-B tem início com um petardo capaz de derreter o cérebro de qualquer desavisado que foi apresentado ao grupo através de sua fase mais recente. Sweet Emotion foi inicialmente criada por Tom Hamilton (baixista do grupo) nos tempos de escola, mas só foi apresentada à banda durante as sessões de gravação. Uma das melhores - senão a melhor - músicas do quinteto, ouça e comprove. Em 91 foi lançada uma versão remixada, juntamente com um novo clip. Essa versão também pode ser encontrada na trilha sonora do filme Armageddon (1998).
Para No More No More cabe o papel de faixa mais Rock n'Roll. Um rockão básico cuja levada chega a lembrar Beatles e a letra faz apologia às loucuras a respeito de fazer parte de uma banda. Em todos os aspectos, toda a ideologia de um período da história da música, em que o estilo possuía bastante popularidade e recebia uma maior atenção da mídia, é sintetizada nessa composição.
A parte densa do álbum termina com a pesadíssima e hipnotizante Round And Round, composta por Tyler e Brad Withford (guitarrista). Toda a influência do Heavy Metal de bandas como Led Zeppelin e Black Sabbath pode ser sentida aqui. Infelizmente é uma música que com o passar dos anos foi sendo esquecida no repertório (assim como muitas outras boas canções da fase antiga) dos shows.
Para encerrar, depois de tanta sonzeira, You See Me Crying, única balada de Toys In The Attic (bons tempos aqueles). Nada de apelativo ou de intuito comercial, apenas um tema romântico escrito por Tyler ainda nos anos 60, quando o vocalista (na época também baterista) atendia pelo sobrenome Tallarico e fazia parte do grupo Chain Reaction. Vale destacar, em toda a obra, o trabalho e esforço do baterista Joey Kramer. Discreto, nunca faz questão de aparecer mais que qualquer outro integrante, sempre dando toda a pegada e energia que cada faixa exige.
Certamente, Toys In The Attic está no mesmo patamar de outros grandes clássicos do rock, tanto que permaneceu dois anos no topo das paradas de sucesso. Recentemente, o Aerosmith recebeu através da Recording Industry Association Of América (RIAA), pela 8a vez, um disco de platina pelo álbum. São 8 milhões de cópias vendidas somente nos Estados Unidos, desde o lançamento.
O LP tem duração de cerca de 37 minutos, pouco, mesmo para os padrões da época, mas naquela distante década o grupo não precisava mais do que isso para mostrar todo o seu poder de fogo. Se o rock for sua praia, compre.
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