Resenha - Songs For The Deaf - Queens Of The Stone Age
Por Alexandre Avelar
Postado em 19 de julho de 2003
Em primeiro lugar, vamos esclarecer duas questões importantes: 1 - o Queens Of The Stone Age não é grunge (se fosse eu não perderia meu tempo escrevendo esta resenha); 2 - chamar o Queens Of The Stone Age de "stoner" também é bastante questionável, tanto que nem mesmo Joshua Homme, mentor e líder da "banda" (que na verdade mais parece um projeto, com músicos diferentes a cada disco, com exceção do fiel escudeiro Nick Oliveri) gosta do termo. O rótulo "stoner", aliás, servia como uma luva para a banda anterior de Josh, o Kyuss, um estranho no ninho surgido em meio ao "fenômeno" grunge da década de 90.
Então, como "rotular" o Queens Of The Stone Age? Bem, trata-se de um rock com evidentes raízes setentistas, construído em cima dos pesados riffs da guitarra de Josh Homme, e tocado com uma precisão que cria um efeito hipnótico no ouvinte. Seria então a criação do "hypnotic rock"? Não importa, o que vale é a criatividade de Josh, grande demais para ficar se limitando a rótulos.
Quanto a Songs For The Deaf, terceiro "full lenght" do Queens Of The Stone Age, há algumas novidades em relação ao anterior "Rated R" (também conhecido como "Feel Good Hit Of The Summmer", nome da música de abertura do disco), CD que se tornou um fenômeno na crítica especializada mundial, com alguns engraçadinhos proclamando a chegada de um "novo Nirvana" (quem precisa disso?). A consagração advinda do disco anterior rendeu a Josh e seus asseclas inclusive uma desastrosa passagem pelo Brasil no Rock in Rio 3 (quem mandou colocar os caras para tocar no mesmo dia de Halford, Sepultura e Iron Maiden, ainda mais em nossa terrinha, onde o radicalismo/fanatismo é nossa marca registrada?).
Voltando a S.F.T.D., as novidades não se restringem à (discreta) participação de Dave Grohl (Nirvana, Foo Fighters) comandando as baquetas e Mark Lanegan (Screaming Trees) em uma ou outra intervenção nos vocais. O disco como um todo soa bem mais linear que os anteriores, as músicas tocadas de forma ainda mais perfeccionista, enfim, trata-se de uma evolução natural na carreira do Queens Of The Stone Age Isso não significa que S.F.T.D. seja necessariamente melhor que os discos anteriores. Não há nada tão espetacular como "Regular John", do LP de estréia, e não há mais o impacto causado em "Rated R", o CD anterior. Mas, mesmo assim, é um CD de aquisição obrigatória para aqueles que sabem apreciar o talento de Homme e querem entender os rumos que o rock'n'roll deve tomar neste início de século.
A faixa de abertura, "You think I ain't worth a dollar, but I feel like a millionaire", iniciada por uma falsa transmissão de rádio, é talvez a que mais se aproxime de "Feel Good Hit Of The Summer", faixa de abertura do CD anterior, e é o tipo de música ideal para iniciar um álbum em grande estilo, com peso, vibração, e um refrão bem marcante.
"No One Knows" e "First It Giveth" dão uma acalmada no clima, com suas melodias mais leves e grudentas, lembrando "The Lost Art Of Keeping A Secret", do disco anterior.
"A Song For The Dead", faixa número 04 do CD, é o tipo da música que poderia entar em um disco do Cream (lembra?) tranquilamente. A partir daqui as melodias psicodélicas do final dos anos 60 começam a ficar mais evidentes, como nas faixas seguintes "The Sky Is Falling" e "Hangin Tree", misturando-se aos riffs setentistas de Homme.
"Go With The Flow" e "Gonna Leave You" aparecem para quebrar o clima "viajante", com levadas mais animadas, que novamente remetem a "Feel Good Hit Of The Summer", de Rated R.
A pegada mais "stoner", herdada do Kyuss, aparece em "A Song For The Deaf", com seus riffs arrastados e melodias psicodélicas. Esse tipo de música tem aparecido nos discos do Queens Of The Stone Age de forma mais discreta, como se fosse apenas para "matar as saudades" do finado Kyuss.
Desta vez a influência punk ficou restrita à faixa de abertura e à curtinha "Six Shooter", que dura pouco mais de um minuto. Por outro lado, mais para o final, aparecem "Another Love Song" e, como bônus, o cover de "Everybody's Gonna Be Happy", com aquele clima alegrinho de programa de auditório dos anos 60, destoando completamente do restante do disco. Essas faixas, juntamente com a desnecessária "Mosquito Song", poderiam ter ficado de fora, não fariam a menor falta. Mas vá entender o que se passa pela cabeça de um cara como Joshua Homme.
Quer uma dica? Escute S.F.T.D., ao menos uma vez, com fones de ouvido. O "efeito hipnótico" da música do Queens Of The Stone Age funciona melhor assim.
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