Patti Smith: O rock político continua sendo fonte para manifestos
Resenha - Trampin - Patti Smith
Por Roberto Almeida
Postado em 23 de outubro de 2004
O rock político, se depender de Patti Smith, continua sendo fonte para manifestos. Esse é mais um para o governo Bush.
Uma das faixas de Trampin’, nono álbum da poetisa do punk Patti Smith, vai longe além dos 10 minutos. Nela, o pau come solto em cima da pauta política do momento, a guerra do Iraque, com uma delicadeza que só uma compositora do calibre dessa quase sexagenária (espero que ela não leia isso) consegue fazer. E Radio Baghdad, título da música, termina com:
They’re robbing the cradle of civilization
(Eles estão roubando o berço da civilização)
Patti Smith capricha no lado político, que se percebe imerso em todas as faixas do disco. Trampin’, sem dúvida alguma, nasceu em um ano politicamente conturbado nos E.U.A. e Patti fisgou bem o momento. Radio Baghdad é apenas um exemplo, fácil de citar porque é literal. Em Jubilee, faixa que abre o disco, Patti dá suas metaforizadas de praxe para valorizar a liberdade estadounidense. E segue assim: defendendo o livre e detonando o submisso.
Até aí, parece que é mais um daqueles discos bons de ouvir uma vez só. Lê-se a letra, tudo parece claro. "Legal". Mas, para ouvi-lo de novo, só daqui a alguns meses. Para manter Trampin’ livre do limbo das coleções de CDs, Patti e seus colegas de banda - Lenny Kaye, Jay Dee Daugherty, Tony Shanahan e Oliver Ray - capricharam no rock para embalar a poesia tanto falada quanto cantada. É, de fato, bem elaborado, mas não atinge elevados graus de atenção do ouvinte. Enfim, quem conhece o som de Patti em seus últimos discos (Gung Ho, de 2000, e Peace and Noise, de 97), não deve esperar muitas surpresas.
Os destaques do disco ficam para a poderosa My Bleaken Years e a já citada Radio Baghdad que, mesmo em se tratando de um manifesto, é boa música. No segundo time, entram o rock de Stride of the Mind e a quase marchinha Jubilee.
Patti Smith - Trampin’
Columbia - 2004
Faixas
01 Jubilee (Daugherty, Kaye, Smith) 4:43
02 Mother Rose (Shanahan, Smith) 4:56
03 Stride of the Mind (Ray, Smith) 3:37
04 Cartwheels (Kaye, Smith) 6:01
05 Gandhi (Daugherty, Kaye, Ray, Shanahan) 9:21
06 Trespasses (Daugherty, Smith) 5:00
07 My Bleaken Year (Smith) 5:16
08 Cash (Ray, Smith) 4:20
09 Peaceable Kingdom (Shanahan, Smith) 5:09
10 Radio Baghdad (Ray, Smith) 12:17
11 Trampin’ (spiritual) 2:56
Esta matéria foi originalmente publicada na coluna Vitrolaz do Whiplash!. Informação para quem gosta de cultura. O Vitrolaz é uma revista eletrônica que fala de música, cinema e literatura. A proposta é apresentar sempre críticas, resenhas e entrevistas onde o que é novidade se mistura com o que fez história. O site, que tem uma equipe de jornalistas dividida entre Recife e Curitiba, também abre espaço para enquetes, comentários e promoções.
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