Dark Side of the Moon: A longa e complicada jornada do Pink Floyd até o topo do mundo
Por Yuri Apolônio
Postado em 14 de janeiro de 2025
O "The Dark Side of the Moon", 8º álbum dos ingleses do Pink Floyd, é um daqueles raros casos de uma obra não somente aclamada pela crítica profissional, mas também com um sucesso comercial absurdamente gigantesco, afinal, trata-se do disco mais vendido da década de 70 e 4º maior em números de vendas da história da música.
O que pouca gente sabe, contudo, é o quão árduo foi caminho que o Pink Floyd teve de percorrer para alcançar tal patamar, em especial depois do compositor e grande estrela do grupo, Syd Barrett, sucumbir para as drogas após somente um disco lançado.
Sem sua força motriz, a banda lançaria ainda 6 álbuns de estúdio, até finalmente descobrir o método promissor que gerou o "The Dark Side of the Moon", e que, por consequência, resultaria numa sequência de discos incríveis e de enorme sucesso comercial ao longo da década de 70.
Não é de se estranhar, então, que a mais famosa obra de um grupo tão popular seja cercada lendas e mitos. Nossa sorte é que a quantidade de informações que temos disponível hoje, é possível traçar um panorama bem factual sobre como o Pink Floyd traçou seu caminho, construiu o Dark Side of the Moon e conquistou o mundo.
Esta é a versão de texto do vídeo "The Dark Side of the Moon: a complicada jornada do Pink Floyd ao topo do mundo", publicado no canal "No Rastro do Som". Se você prefere a versão narrada e com imagens, o player para o vídeo está no final deste texto.
A formação do Pink Floyd
O Pink Floyd se forma na primeira metade na década de 60, quando Syd Barrett se junta para tocar com Roger Waters, Nick Mason e Richard Wright, três amigos haviam se conhecido na faculdade de arquitetura.
A partir de 65, o Pink Floyd se torna banda residente no Countdown Club, de Londres. Mas, tendo que realizar três shows de 90 minutos todos os dias, o grupo começa a estender as canções com longas jams e longos solos, em cima de um repertório formado basicamente por canções covers de rhythm and blues.
Outras características que chamavam a atenção desde cedo eram os efeitos singulares criados pelo tecladista Richard Wright e pelo guitarrista Syd Barrett, assim como o uso das luzes coloridas, utilizando técnicas rudimentares, mas efetivas, para gerar diversos tipos de efeitos psicodélicos durante os shows.
As apresentações, que logo começam a abandonar os covers e integrar canções comportas por Barrett, chamam atenção da EMI, com quem assinam contrato no início de 1967.
Os primeiros singles da banda, "Arnold Layne" e "See Emily Play", alcançam as incríveis 20ª e 6ª posições nas paradas britânicas, respectivamente. O problema é que, paralelo a tudo isso, Syd Barrett se torna um usuário regular de LSD, o que, segundo os envolvidos, faz com que ele comece a se distanciar de tudo que lhe rodeava.
O primeiro sucesso e o encontro com os Beatles
No mês de agosto de 1967 é lançado o primeiro LP do Pink Floyd, o "The Piper at the Gates of Dawn", que, embalado pelo sucesso dos singles, alcança a ótima 6ª posição nas paradas do Reino Unido, onde permanece entre os mais vendidos por 14 semanas.
Um curiosidade é que o álbum foi gravado no Abbey Road, estúdio que, na época, não tinha esse nome, mas já tinha os Beatles. Enquanto o Pink Floyd gravava seu 1º disco, o quarteto de Liverpool registrava ali o "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club", seu já 8º álbum, que, para muitos, trata-se da obra mais importante do rock.
Conta-se que com o auxilio do produtor do "The Piper at the Gates of a Down", Norman Smith, que havia trabalhado com os Beatles anteriormente, o Pink Floyd consegue adentrar o local no momento em que os Fab Four trabalhavam na canção Lovely Rita.
Nick Mason comentaria anos mais tarde: Sentamos humildemente, no fundo da sala de controle, enquanto eles trabalhavam na mixagem, depois de um período de tempo adequado, fomos conduzidos para fora novamente. Eles eram figuras divinas para nós. Todos eles pareciam extremamente agradáveis, mas estavam em uma classe tão distante de nós que estavam fora do nosso alcance.
A turnê com o Jimi Hendrix e a derrocada de Syd Barrett
Apesar do sucesso do álbum, a turnê evidencia a derrocada de Syd Barrett. O comportamento errático do líder do Pink Floyd faz a primeira passagem da banda pelos Estados Unidos terminar mais cedo, com o empresário do Floyd optando por cancelar a participação da banda em um programa de TV.
De volta à terra da rainha, contudo, não haveria descanso, uma vez que a banda tinha agendada uma turnê através do Reino Unido ao lado do The Jimi Hendrix Experience, que havia estourado recentemente no país. O que não ajuda em nada na fama de excêntrico de Syd, digamos. Havia shows em que Barrett subia no palco e tocava uma única nota durante toda apresentação, o que alguns interpretavam como um tipo de experimento anarquista.
De acordo com um envolvido com a turnê, Syd sempre saia da vista de todos e não retornava até o momento do show. Ele então subia ao palco e sumia novamente. Para outro envolvido, Syd nunca falava com ninguém e às vezes mal se movia, como se estivesse em outro planeta.
A raro quinteto com Syd Barrett e David Gilmour
Sem a coragem de demitir sua principal estrela, o Pink Floyd torna-se um quinteto ao anunciar David Gilmour como guitarrista. Inicialmente, a ideia era que Gilmour somente cobrisse as "excentricidades" de Barrett, mas a formação dura muito pouco.
Há um história que conta que em um desses shows, Barrett ficou circulando Gilmour no palco, enquanto o encarava, como que se estivesse se perguntando quem era aquele cara e o que ele está fazendo ali. Assim, a caminho para um dos shows a banda decide que não mais buscaria Syd para as apresentações. A saída oficial ocorre pouco tempo depois, e, agora com Gilmour na guitarra, o quarteto, que conquistaria o mundo alguns anos depois, estava formado.
A Saucerful of Secrets: Aos trancos e barrancos o Pink Floyd segue em frente
É durante o período caótico de Syd Barrett com o Pink Floyd que tem início o desenvolvimento do 2º álbum do grupo. A ideia era que Syd desempenhasse um papel similar ao de Brian Wilson com os Beach Boys, onde, mesmo sem participar dos shows, o músico seguiria compondo as canções para a banda.
A questão é que Barrett segue, de certa forma, sabotando o grupo. De acordo com Waters, Syd apresenta ao grupo uma nova canção, que inicialmente parecia simples, mas que era impossível de ser acompanhada pela banda, uma vez que Barrett mudava o arranjo a cada vez que tocavam
Com isso, quando lançado o "A Saucerful of Secrets", em junho de 68, a participação de Barrett se resume à composição de somente uma canção e a participação em outras duas.
O álbum até mantém parte do sucesso do grupo em sua terra natal, ao obter a 9ª posição nas paradas britânicas, mas não alcança as paradas nos Estados Unidos, dessa vez.
Trilha sonora para o filme More: o Pink Floyd pós-Syd Barrett
Após a saída definitiva de Syd Barrett, o primeiro lançamento do Pink Floyd sem qualquer participação do músico é a trilha sonora para o filme More, de junho de 1969. Diga-se de passagem que a banda já havia participado da trilha sonora para o filme The Committee, no ano anterior. Mas, naquele caso, além de a trilha nunca ter tido um lançamento oficial, na verdade, ela se trata muito mais de uma coleção de efeitos sonoros do que música no formato tradicional.
No que diz respeito ao "More", trata-se de um álbum montado em praticamente duas semanas, com a maioria das letras escritas por Waters e todas as canções sendo cantadas por Gilmour, exceto as instrumentais, claro.
Apesar das críticas mistas, o disco alcança novamente a 6ª posição nas paradas do Reino Unido.
Ummagumma: o "experimento não deu certo"
O 4º álbum do Pink Floyd é o duplo "Ummagumma", lançado em novembro de 1969. O primeiro disco contém gravações ao vivo de shows realizados entre abril e maio daquele ano, enquanto o segundo conta com canções compostas e executadas individualmente por cada um dos membros do grupo.
Embora bem recebido na época de seu lançamento, a meu ver, o "Ummagumma" não envelheceu muito bem. As gravações ao vivo até que são interessantes, em especial por apresentarem uma qualidade muito boa para a época. A questão é disco 2, além de passar a ser visto de forma de desfavorável pelos críticos, a própria banda o consideraria um desastre... ou um, entre aspas, "experimento que não deu certo".
Ainda em 69, o Pink Floyd participa de outra trilha sonora, desta vez para o filme "Zabriskie Point", ao lado de outros artistas. As gravações, realizadas, entre os meses de novembro e dezembro daquele ano, incluem a canção The Violent Sequence, que, apesar de não lançada na trilha sonora, serviria de base para Us and Them, do Dark Side of the Moon.
Atom Heart Mother: a primeira vez no topo
Concluídos os trabalhos para a trilha sonora do filme "Zabriskie Point", o Pink Floyd inicia a produção de sua próxima obra, o "Atom Heart Mother", primeiro disco da banda a alcançar o topo das paradas do Reino Unido. Lançado em outubro de 1970, o álbum representa também o melhor resultado da banda nos Estados Unidos até então, com a 55ª posição na Billboard.
"Atom Heart Mother" é também o nome da canção instrumental e orquestrada com quase 24 minutos, que ocupa todo o Lado A do disco. Trata-se de uma faixa oriunda de diversos trechos que o Pink Floyd começou a incluir nos shows ainda no início de 1970, ocasião que o grupo aproveitou para desenvolvê-los e para testar sua recepção.
O Lado B do álbum, por sua vez, segue um conceito similar ao do "Ummagumma", com canções compostas individualmente por cada um dos membros, embora contenham, nesta ocasião, a participação dos demais nas gravações.
Meddle: o fim do período de transição
O 6º álbum de estúdio do Pink Floyd, o "Meddle", lançado em novembro de 1971, é considerado a obra que marca definitivamente o fim do período de transição do grupo, de uma banda fortemente influenciada pelo experimentalismo de Syd Barrett para a era sob a liderança criativa de Roger Waters.
Assim como no anterior, o álbum possui uma canção que ocupa todo um lado do disco, no caso, a épica "Echoes". A diferença é que, desta vez, as demais faixas são colaborações entre os músicos.
Apesar de considerada uma obra superior à anterior pelos críticos e pela própria banda, Meddle teve um sucesso comercial pior, com o 3º lugar no Reino Unido e a modesta posição de número 70 nos Estados Unidos. Na época, a banda culpa a fraca publicidade por parte da Capitol Records pelo o fracasso na América, que, por sua vez, culpa o Pink Floyd por se focar na produção de álbuns completos, e não em singles.
A concepção do "The Dark Side of the Moon"
Os primeiros trabalhos relacionados ao "The Dark Side of the Moon" têm início logo após o lançamento do Meddle, quanto Roger Waters propõe que a banda componha um novo álbum para executar nos shows na Grã-Bretanha, Japão e Estados Unidos que se seguiriam.
Waters sugere que o grupo trabalhe, nesta ocasião, com um tema central, acerca de coisas que "enlouquecem as pessoas", usando como inspiração as pressões associadas ao estilo de vida da própria banda, assim como sobre os problemas mentais sofridos pelo ex-líder do grupo: Syd Barrett.
É nesse período inicial que o obra recebe o título provisório "The Dark Side of the Moon", em alusão à loucura, com o intuito de mostrar que até mesmo os mais belos astros possuíam um lado obscuro.
A primeira versão do "The Dark Side of the Moon"
Em janeiro de 72, em um show em Brighton, na Inglaterra, mais de um ano antes do lançamento do disco que tornaria o Pink Floyd gigantesco, a banda apresenta pela primeira vez a obra "The Dark Side of the Moon: A Piece for Assorted Lunatics", em tradução livre "O Lado Escuro da Lua: Uma Peça para Diversos Tipos de Lunáticos".
O pouco mais de um mês que a banda passou compondo e ensaiando o novo álbum é utilizado também para que eles adquirissem novos equipamentos de som quadrafônicos para as apresentações, uma inovação que permitia uma experiência sonora tridimensional aos privilegiados que assistiram um show do Pink Floyd naquele período.
Outra estréia dessa turnê são os novos equipamentos de iluminação, que, somado aos anteriores, representam um total de 9 toneladas de aparatos necessários para os shows, transportados por 3 caminhões ao longo de toda a turnê.
A turnê, elogiada pela crítica e pelo público, apresenta um "The Dark Side of the Moon" na mesma sequência do álbum original, contudo, com diferenças significativas no que diz respeito ao andamento de algumas canções, o menor uso dos sequenciadores, das partes faladas, dos efeitos sonoros e a ausência dos vocais em "The Great Gig in the Sky".
Por que não participar de outra trilha sonora?
No primeiro semestre de 72, nas pausas entre as pernas da turnê, o Pink Floyd ainda encontra tempo pra participar de outra trilha sonora, desta vez para o filme "La Vallée", do mesmo diretor de "More". Um desentendimento com a gravadora, contudo, faz a banda lançar a trilha com o título de "Obscured by Clouds", levando o filme a incluir tal frase em seu subtítulo.
Segundo Mason, as sessões de gravação da trilha foram muito apressadas, com o grupo trancado nos estúdios em Paris durante o curto tempo que eles tinham disponível para compor e gravar o disco. Apesar disso, "Obscured By Clouds" atinge uma posição melhor que o Meddle nos Estados Unidos, além de uma boa 6ª colocação nas paradas do Reino Unido.
Mais shows e o início das gravações
Terminada a gravação da trilha sonora, o Pink Floyd volta aos palcos, com uma rápida passagem de uma mês pelos Estados Unidos, seguida de quatro apresentações na Alemanha.
Tendo resultados satisfatórios nas performances ao vivo do "The Dark Side of the Moon", a banda entra em estúdio mais uma vez, desta vez no Abbey Road, em Londres, onde realizam as primeiras gravações do álbum.
Assim como nos três álbuns anteriores, a produção fica a cargo da própria banda, além de contar novamente com o engenheiro de som Alan Parsons, que havia participado "Atom Heart Mother" e possuia experiência ao lado dos Beatles e de Paul McCartney em sua carreira solo.
"E aquelas gravações malucas que fizemos?"
Em meio aos shows e gravações para o "The Dark Side of the Moon", o Pink Floyd lança seu primeiro vídeo, o "Live at Pompeii", gravado ao vivo no anfiteatro das ruínas da antiga cidade romana de Pompeia, em outubro de 1971, em um show em que a banda utiliza seu equipamento regular da turnê.
Imagens adicionais para o filme, incluem a banda em um estúdio de TV em Paris, registradas no final daquele mesmo ano. A falta de recursos para investir na obra faz tanto a banda quanto o diretor ficarem decepcionados com o resultado final. Contudo, segundo a banda, não havia outra alternativa a não ser lançar o filme.
The Great Gig in the Sky e a inusitada participação de Clare Torry
No restante de 72, o Pink Floyd realiza mais algumas dezenas de apresentações, o que inclui um mês de shows através dos América do Norte, a volta para três noites em Wembley e mais algumas dezenas de shows pela europa continental.
No início de 73, o Pink Floyd realiza as últimas gravações para o "The Dark Side of the Moon", o que inclui um detalhe bastante importante: a célebre participação da cantora Clare Torry em "The Great Gig In The Sky", convidada pelo produtor para improvisar um vocal sem qualquer letra e cantar como se ela mesma fosse o instrumento.
Conta-se que Torry gravou duas tomadas completas e parou no meio da terceira, sentindo que estava se tornando repetitiva e que já havia feito o seu melhor.
A cantora conta que então pediu desculpas à banda e saiu do local extremamente decepcionada, acreditando que sua participação não faria parte da versão final da faixa. Contudo, a banda havia ficado bastante surpresa e resolve incluir partes de cada uma das três tomadas.
Clare Torry, que recebeu somente 30 libras – o que dá algo em torno de 500 libras hoje –, só descobriria que sua participação estava na versão final do álbum ao visitar uma loja de discos e ler seu nome nos créditos da canção.
O baixo salário acabou gerando um processo da cantora ao Pink Floyd e a EMI no ano 2004. Antes da audiência, contudo, as partes fecharam um acordo extra judicial, com termos e valores não divulgados. Fato é que desde então o nome de Clare Torry tem sito creditada como autora de "The Great Gig In The Sky" ao lado de Richard Wright.
As vozes do "The Dark Side of the Moon"
Outro detalhe bastante importante da obra desenvolvido somente em sua fase final, mais especificamente na última semana, foram as entrevistas realizadas por Roger Waters à equipe de apoio da banda, ao pessoal do Abbey Road e alguns conhecidos, que geraram os inúmeros trechos falados ao longo do disco.
Inicialmente, foram realizadas perguntas como "Qual é sua cor favorita?", "Qual é sua comida favorita?" até passar para questionamentos pertinentes ao tema do disco como, por exemplo: "Quando foi a última vez que você foi violento?", seguidas imediatamente de "Você estava certo?".
Paul e Linda McCartney chegaram a ser entrevistados, mas suas respostas não agradaram Waters, que julgou que eles estavam tentando ser engraçados. Assim, os trechos mais famosos dos disco acabaram sendo de pessoas desconhecidas, como as do porteiro do Abbey Road e dos roadies do Pink Floyd.
Um bom produto precisa de uma bela capa
No que diz respeito à icônica capa do "The Dark Side of the Moon", trata-se novamente de uma parceria com o estúdio de design Hipgnosis, o mesmo que havia produzido as capas do últimos álbuns do Pink Floyd, e ainda produziria boa parte das artes para os demais discos da banda.
Para esta ocasião, Richard Wright comenta ter requisitado algo mais inteligente, organizado e simples, como a arte de uma caixa do chocolate Black Magic.
Os artistas então se baseiam na ilustração de um livro de física, que mostra um feixe de luz branca projetado em um prisma, de onde emerge um arco-íris, assim como na arte da capa de um disco com canções de Beethoven, dos anos 40, criada por Alex Steinweiss, basicamente o homem que inventou as capas de álbum.
De acordo com Roger Waters, a Hipgnosis ofereceu side designs diferentes para a capa do disco, mas não houve discussões, uma vez que todos da banda escolheram prontamente a arte com o prisma.
O sucesso avassalador e o fenômeno Money
Lançado no mês de março de 1973, o "The Dark Side of the Moon" é o maior sucesso comercial da história do Pink Floyd e o 4º maior da história da música. Logo após sua estréia, o álbum vende absurdamente bem no Reino Unido, em toda a Europa Ocidental e, o mais importante, na América do Norte.
Apesar de passar somente uma semana no topo das paradas nos Estados Unidos – a 1ª vez da banda nessa posição –, o disco se torna a obra a mais tempo permanecer na lista da Billboard 200, com 990 semanas. Talvez enquanto você esteja lendo este texto, o álbum já tenha alcançado a incrível marca de mil semanas na lista.
Parte do sucesso comercial da banda na América é atribuído aos esforços do novo presidente da Capitol Records, Bhaskar Menon, que buscava reverter as vendas relativamente baixas do álbum anterior do Floyd por lá, o "Meddle", em 1971.
Outro fator que torna o Dark Side of the Moon um sucesso nos Estados Unidos é o single da canção "Money", que atinge o 13º lugar nas paradas. Lembremos, uma das reclamações da gravadora era justamente a falta de um single forte para impulsionar as vendas de um LP da banda.
Curiosamente, o Pink Floyd não queria lançar "Money" como um single, pois acreditavam que seu andamento incomum, com o uso de compassos 7/4, tornava uma canção não comercial. Isso parece fazer sentido, exceto pelo fato de que a maioria das pessoas nem sequer percebe a levada incomum da faixa.
O sucesso de "Money", contudo, acaba por causar problema nos shows do Pink Floyd, uma vez que o público, em especial nos Estados Unidos, passa a pedir pela canção durante todo o show, mesmo durante as longas passagens instrumentais, parte fundamental das apresentações da banda até então.
A aclamação da crítica
A aclamação geral da crítica ocorre desde o lançamento do "The Dark Side of the Moon". Destaco dois textos daquele período.
Primeiro o de Lloyd Grossman, para a revista Rolling Stone, que define o Pink Floyd como o principal grupo techno-rocker da daquele período, ao elogiar o domínio da banda nos instrumentos eletrônicos e o arsenal de efeitos sonoros, utilizados com autoridade e sutileza.
De acordo com Lloyd, o som é é exuberante e multicamadas, ao mesmo tempo em que permanece claro e bem estruturado, embelezado pelos sintetizadores, efeitos sonoros e trechos falados. Para o crítico, os assuntos tratados no The Dark Side of the Moon vão além do lugar comum no rock, ao lidar com a fugacidade e a depravação da vida humana.
Os pontos fracos do álbum, segundo ele, vejam só, são o às vezes fraco e sem brilho vocal de David Gilmour e a duração de "The Great Gig in the Sky".
Mas pra finalizar, ele cita a grandeza do álbum, que excede meros musicais melodramáticos, e busca uma fórmula raramente é tentada no rock.
Para o jornal canadense The Star-Phoenix, o Pink Floyd havia desistido das drogas que estimulavam sua loucura musical para começar a produzir um som ainda a ser copiado.
Segundo a publicação, o som da banda ainda era estranho, mas não como boa parte daquilo que consideravam vanguarda, pois a música do Pink Floyd é muito profunda, cuidadosamente motivada e executada com precisão.
O jornal prossegue comentando que a banda possuía o hábito de construir seus álbuns como uma jornada, onde para realmente apreciá-lo, é preciso ouví-lo do início ao fim e entender o contexto.
Para a crítica, o álbum sobe e desce com uma mecânica estranha, até chegar em um hino chamado Eclipse, que aumenta a pressão até voar para o lado obscuro da lua.
Por fim, o texto, escrito pouco antes do Pink Floyd estourar, profetiza que a banda se tratava de um dos maiores artistas da música que o mundo possuia, mas que eles somente ainda não haviam sido aceitos dessa forma.
Por que não mais um single?
Aproveitando o sucesso do single Money, o Pink Floyd lança "Us and Them" como segundo compacto do "The Dark Side of the Moon" no mês de fevereiro de 1974. O single alcança a posição de nº 72 na Cash Box Top 100 dos Estados Unidos e a posição de número 85 nas paradas no Canadá.
"Us and Them é uma composição primariamente do tecladista Richard Wright, baseada numa peça instrumental composta para citada a trilha sonora do filme "Zabriskie Point", mas que acabou ficando de fora da versão final da trilha. Segundo Roger Waters, o diretor do longa achou a canção linda, mas muito triste, e que o fazia pensar em igrejas.
A turnê e os primeiros shows em grandes estádios
Na iminência do lançamento do "The Dark Side of the Moon", a banda realiza três dias de ensaios o equipamento completo no Rainbow Theatre, em Londres, em preparação para o turnê.
Para a ocasião, a tecnologia do palco e o sistema de som quadrifônico foram aprimorados, além de incluir efeitos visuais extras. Pela segunda vez, o Pink Floyd contaria também com músicos adicionais no palco. São eles: o saxofonista Dick Parry, amigo de infância de Gilmour, que havia participado das gravações do álbum, e um trio de mulheres, que irá ter algumas formações diferentes ao longo da turnê.
O setlist inclui um início com canções dos álbuns anteriores, a execução do "The Dark Side of the Moon" na íntegra, conforme a sequência do disco, e um bis com a instrumental "One of These Days".
A turnê, do The Dark Side começa Estados Unidos, uma semana após o lançamento do álbum naquele país, onde realiza 16 shows. Em maio, a banda realiza duas apresentações na Inglaterra, mas o sucesso de "Money" e do álbum na América, faz com que eles retornem para aquele país, desta vez para shows em estádios, com ingressos esgotados. Mudança esta que causa estranhamento no grupo.
Até então, o Pink Floyd lidou, na maioria do tempo, com um público que permanecia em silêncio durante a execução das canções, mas agora tinham de lidar com uma plateia barulhenta que queria dançar e ouvir os sucessos que tocavam nas rádios.
Não consegui confirmar essa informação, mas li em alguns lugares que o show da banda no Roosevelt Stadium, em Nova Jérsei, bateu o recorde arrecadação para uma única apresentação até aquela data, redendo um total de 110 mil dólares em venda de ingressos, o que hoje representa aí cerca de 785 mil dólares, ou quase 4,5 milhões de reais.
Após a passagem pelos Estados Unidos, a banda realiza ainda alguns shows ocasionais na Alemanha, na França e em Londres, mas só voltaria a pegar a estrada na metade e no final de 74, daí já apresentando material inédito dos próximos álbuns, o "Wish You Were Here" e o "Animals", que são assuntos para outros textos.
Um detalhe importante é que há um registro em áudio dessa parte final da turnê, recentemente relançado pelo Pink Floyd, juntamente da edição especial de 50 anos do "The Dark Side of the Moon". Trata-se de material das apresentações realizadas em Wembley, nos dias 14 e 15 de novembro de 1974. Outras canções dessas apresentações lançadas oficialmente incluem versões iniciais de "Shine On You Crazy Diamond", "Sheep" e "Dogs".
As críticas da turnê
Já que não existem registros em vídeo decentes da parte mais emblemática da carreira do Pink Floyd, o que inclui a turnê do "The Dark Side of the Moon", e de modo a entendermos como era estar presente em show daquele período, trago algumas críticas da época.
Começo com o texto de Bill Mann, para a Gazeta de Montreal, referente à apresentação do dia 11 de março de 74, no Maple Leaf Gardens, em Toronto, no Canadá.
Na crítica, Bill cita que o que o Pink Floyd faz aquele que deve ser um dos shows visualmente mais impressionantes, senão o mais impressionante do entretimento naquele período. Ele elogia o sistema de som quadrifônico de 100 mil dólares, instalado em cada canto da arena, e os mais de 120 kg de gelo seco que cercam a banda durante todo o show.
Apesar de considerar que a segunda metade da apresentação, onde a banda executa o "The Dark Side of the Moon", menos satisfatória que a primeira, pelo fato de o público ainda não conhecer tão bem as canções, o texto considera o Pink Floyd uma banda rara, talvez o único grupo de rock pesado realmente inteligente e com bom gosto, uma vez que sua musica não sacode o público, mas atua como um veículo para flutuar, sem abrir mão de cortes e mudanças rápidas de andamento.
Bob Ross, que acompanhou o show do estádio de Tampa, na Flórida, no dia 29 de junho, último da segunda passagem da banda pela América do Norte em 73, descreve muito bem o caos que era acompanhar o Pink Floyd tocando em grandes arenas.
O texto, publicado no St. Petersburg Times, descreve que o que ocorreu no palco se tratou de um lindo sonho, enquanto o que ocorreu com o público foi um pesadelo. Para Bob Ross, idiotices como obstruir a visão um do outro e gritar constantemente até pareceram menores diante da estupenda desumanidade que foi a soltura de rojões e de de fogos de artifício em um local cheio de pessoas. De acordo com a publicação, contudo, a banda seguiu imperturbável às insanidades daqueles que estavam em sua frente, criando sons incríveis com grande volume, mas sem ofender os ouvidos mais sensíveis.
Para Bob, a execução das canções do "The Dark Side of the Moon" conseguiram aprimorar a magia produzida no estúdio, onde, mesmo aqueles mais longe do palco puderam se tornar passageiros de uma nave espacial exótica.
Segundo ele, o aspecto visual original, as luzes estroboscópicas e os holofotes estilo hollywood, bastante condizentes com o espírito da apresentação, envergonhavam os fogos de artifício dos malfeitores da platéia.
Por fim, trago a crítica de Chris Welch para a Melody Maker, referente aos shows beneficentes que o Pink Floyd realizou no dia 4 de novembro de 73, no Rainbow Theatre, em Londres, visando arrecadar fundos para a recuperação músico Robert Wyatt, ex-baterista do Soft Machine, que havia ficado paraplégico alguns meses antes.
De acordo com o texto, o Pink Floyd apresentava um dos melhores shows daquele ano, ao combinar perfeitamente o som quadrifônico com fitas pré-gravadas, luzes, fumaças e efeitos teatrais.
Em seguida, Chris elogia os cada um dos membros da banda, começando pela bateria concisa e econômica de Nick Mason, que martela pesadamente quando necessário e diminui o volume quanto uma há alguma mudança de curso. Sobre David Gilmour, ele comenta que o músico tem um dos trabalhos de guitarra mais dificeis do rock, ao ter de conter sua exuberância em benefício do grupo, ainda assim fazendo com que cada nota seja sentida. Em relação à Richard Wright, o crítico expressa que seus teclados eram melódicos e de extremo bom gosto, estimulados pelas poderosas linhas de baixo de Roger Waters.
Para finalizar, o texto comenta que instrumentalmente o Pink Floyd se tratava de um mecanismo finamente ajustado que merecia um prêmio Nobel ou um Oscar.
O "The Dark Side of the Moon" é somente o início
O "The Dark Side of the Moon" consolida o Pink Floyd como uma das maiores bandas de rock de sua época, reconhecimento que seguiria crescendo ao longo das obras seguintes.
O "Wish You Were Here", de 75, o melhor do grupo em minha opinião, mantém as vendas em níveis elevadíssimos. O "Animals", de 77, apesar de manter a qualidade artística, acaba com menos aceitação, o que é recuperado com sobras em 79, com o "The Wall", a segunda obra mais vendida do Pink Floyd.
Ocorre que a centralização de Rogers Waters se torna cada vez maior, até eventualmente separar a banda na metade dos anos 80. Falo sobre o auge da liderança de Waters sobre o Pink Floyd em um vídeo sobre o "The Final Cut" no canal, e sobre a batalha judicial entre Waters e Gilmour em relação ao nome do grupo no vídeo a respeito do "Momentary Lapse of Reason", de 1987.
Qual clássico não é recheado de lendas?
Certamente um álbum com tamanho sucesso não poderia deixar de conter diversas lendas e teorias da conspiração a seu repeito. Há quem diga que o "The Dark Side of the Moon" é repleto de mensagens ocultas, que, claro, só podem ser ouvidas quando o álbum é reproduzido ao contrário.
Outros, sugerem a existência de simbolismos que representam um portal para outra dimensão na capa, ou ainda, que ela se trata de uma reprodução visual da alma humana. Há, ainda, aqueles que dizem que o álbum contém referencias à morte de Paul McCartney, que teria ocorrido em 66, quando o baixista dos Beatles teria sido substituído por um sósia.
Mas a teoria mais famosa, sem dúvida, se refere à sincronia do "The Dark Side of the Moon" com o clássico filme de 1939, "O Mágico de Oz". A teoria, que surgiu em um fórum da internet em 1994, sugere que se colocado para tocar o álbum no início do filme, enquanto o leão da MGM ruge na tela, os resultados seriam surpreendentes.
De fato, há partes que se encaixam muito bem para parecerem somente uma coincidência, como em The Great Gig in the Sky começando a tocar no momento em que o tornado atinge Dorothy, ou em Money, enquanto a protagonista pisa pela primeira vez no estrada de tijolos amarelos;
Há também sincronias em relação às letras. Em Money, por exemplo, com a protagonista começa a correr no momento em que é cantado "ninguém te disse quando correr". E em Brain Damage, quando Waters canta que "é preciso manter os lunáticos no caminho" no momento em que o Dorothy encontra o espantalho, que começa a cantar e dançar.
Mas, certamente, o trecho mais curioso acontece enquanto o disco toca batimentos cardiacos enquanto Dorothy tenta ouvir o coração inexistente do homem de lata.
A questão é que os membros do Pink Floyd sempre negaram quaisquer conexões entre o disco e o filme. Para David Gilmour, tratava-se de um produto de alguém com muito tempo livre. Roger Waters, por sua vez, comenta a sincronia era uma besteita. Enquanto Nick Mason diz ser um absurdo, uma vez que o "The Dark Side of the Moon" era baseado no filme "A Noviça Rebelde".
O engenheiro de som do álbum, Alan Parsons, também nega qualquer conexão entre as obras, pois a banda nem sequer tinha meios para assistir vídeos no estúdio durante as gravações.
Para a psicologia, o fenômeno nada mais é do que uma tendência da mente humana em buscar padrões em informações desordenadas, se concentrando muito mais nos momentos coincidentes enquanto descarta todas as demais partes que não se encaixam.
O legado para a banda e para os membros
As canções do "The Dark Side of the Moon" seguiram sendo executadas nas turnês seguintes do Pink Floyd, exceto durante o "The Wall", que incluia, entre aspas, somente a performance daquele álbum.
Em 1994, já sem Waters e na última turnê do grupo, a banda executou em diversas datas o Dark Side na íntegra e na sequência original, performance que pode ser conferida no "Pulse", de 1995.
Rogers Waters, por sua vez, executou o"The Dark Side of the Moon" na íntegra durante os anos de 2006 a 2008, em um setlist que incluia também diversos sucessos do Pink Floyd. E mais recentemente, tivemos o lançamento do polêmico "The Dark Side of the Moon Redux" por parte do letrista e baixista, que foi achincalhado pela grande maioria do público e da crítica. Segundo Roger, sua intenção foi trazer a tona o coração e a alma do álbum, musical e espiritualmente, sob a perspectiva de um homem mais velho.
O legado para o rock e para a música
Mesmo após mais de 50 anos de seu lançamento, o "The Dark Side of the Moon" é frequentemente classificado como um marco na história da música, sempre listado entre os álbuns mais importantes e influentes de todos os tempos.
A Rolling Stone, em 1987, classificou a obra como a 35ª melhor dos 20 anos mais recentes. A revista ainda o classificaria como 43º na lista dos "500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos" nos anos de 2003 e 2012.
Em relação aos melhores álbuns de rock progressivo de todos os tempos, tanto a própria Rolling Stone quanto a revista Q colocam o "The Dark Side of the Moon" no topo.
Dezenas de outras listas de publicações relevantes destacam a importância do álbum, em alguns casos, inclusive, reconhecendo outros aspectos da obra. Como na lista do canal VH1, que coloca a capa do disco como a 4ª melhor da história.
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