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A Estação da Luz: evolução e tradição dos 70s juntas no novo álbum

Por Júlio Verdi
Postado em 04 de outubro de 2017

Como já se ouviu muitas vezes em conceitos futebolísticos, em time que está ganhando não se meche. Pois é. Pegando carona nesse clichê, poderíamos aplicar tal conceito ao que acontece à banda paulista Estação da Luz (São José do Rio Preto/SP). Após lançar seu primeiro e icônico disco, "Estação da Luz", o Estação solta agora seu segundo álbum, simplesmente intitulado "O Segundo". E nesse caso, não só o time não se alterou como também se manteve o esquema tático. Isso porque a banda manteve a sonoridade na qual estreou em gravações e na qual continua se desenvolvendo. Ancorada por sonoridades setentistas e com elementos de gente como Rita Lee, Beatles, MPB, e bandas clássicas nacionais dos 70 como O Terço e Casa das Máquinas, o Estação parece que conseguiu algo sonhado por muitas das bandas da atualidade: criar uma cara própria. Uma marca que identifique sua música e que a se associe a seu nome. Isso mesmo, porque, se alguém ouvir suas novas músicas sem saber quem as interprete vai lembrar do Estação. É uma situação rara hoje em dia. A mistura da suavidade vocal junto à cozinha, baixo/batera, enraizada à variedade clássica do rock 70, ao teclado com efeitos psicodélicos e graves da atmosfera vanguardista e aos fraseados de guitarra hora colados em Beatles, hora com pés no modernismo, fazem com que o som que o Estação faz se torne ao mesmo tempo atual e saudosista, e principalmente, se situe no território do agradável.

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"O Segundo"

O álbum foi gravado e mixado pela própria banda, em seu estúdio, o histórico Área 13. A capa é de autoria do excepcional designer brasileiro Fábio Matta.

O título do disco é óbvio que é auto explicativo. Quando lançou "Estação da Luz", em 2012, a banda veio com uma proposta saudável e admirável de fazer o antigo soar atual, soar agradável, na ideia de que a música rock é atemporal. E a sequência mostra tratar-se da filosofia musical da trupe. Não há música antiga. A sonoridade psicodélica e poética dos 70 pode ser atual, pode ser contemporânea.

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Quando se ouve "Segundo" sentimos o Estação à vontade com suas propostas. Não é algo forçado ou planejado para soar assim ou assado. É assim que o quinteto quer expressar sua música. Sobre temas que versam sobre romantismo ou existencialismo se fazem como esteio uma estrutura musical calcada no rock, na MPB e em passagens que flertam com o jazz.

Algumas faixas incursionam (e muito bem) elementos do rock progressivo, como na instrumental "Papo Furado" (guitarras com efeitos dos 70 e o baixo num ótimo contraponto), a mais viajante do disco, "Na Contra Mão" (o teclado nos remete a algo de Jethro Tull), com os backing vocals característicos da banda, e "Real Loucura" (muita referência a jazz pela levada da bateria e a participação de sax - cortesia do músico rio-pretense Victor Hugo - na parte final da música) com sua letra carregada de psicodelismo.

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"Sem Direção" abre o disco e cativa pelo refrão que gruda na mente. "Pensar em Você (Tudo é Saudade)" tem um doce apelo radiofônico (se é que pudemos usar esse termo hoje em dia, em se tratando de rock). "Dia de Domingo" é cantada por Cristhiano (guitar), sendo a mais enérgica do disco e onde o teclado conversa intensamente com baixo e guitarra e a batera mais rápida. "O Segundo" (a faixa), conta com uma breve participação canina ao fundo (alguns latidos) e intercala momentos suaves com quebradas melódicas no refrão, lembrando muito o trabalho do primeiro disco.

"Meu Amigo George" traz boas referências de Beatles, principalmente nas influências orientais de Harrison e tem um clima intenso por conta do teclado e boas doses também de psicodelia na letra. "Vícios Sem Fim" é a faixa que mais se aproxima dos padrões da MPB, levada pela cadência do baixo e dedilhados da guitarra. Soa como a mais introspectiva do álbum.

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Enfim, o Estação da Luz acertou novamente. Não sei até onde Renata Ortunho (vocal), Cristhiano Carvalho (guitarras), Alberto Sabella (teclado), Vagner Siqueira (baixo) e Junior Muelas (bateria) podem levar a banda em termos de exposição e conquistas mercadológicas pelo Brasil afora, mas uma coisa é certa, talento, bom gosto nas composições e textura visual não lhe faltam para isso.

Um papo com Junior Muelas

Ready to Rock - Após 5 anos, eis que é lançado o segundo álbum. O que mudou pra banda nesse intervalo?

Junior Muelas - Nesses 5 anos acredito que a banda tenha adquirido um pouco mais de experiência, esse processo de amadurecimento como banda tem acontecido ano após ano desde o início em 2005 e isso com certeza reflete positivamente de um disco para o outro.

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RR - Percebi uma clara evolução na sonoridade final do disco. Comparando à produção do primeiro disco, como foi fazer "O Segundo"?

JM - Algumas músicas do disco já estávamos tocando nos shows há algum tempo, isso facilitou um pouco na produção por já sabermos que rumo o disco tomaria, as gravações de nossos discos são sempre tranquilas e ficamos muito à vontade em relação a timbres, arranjos, ideias. Acho que no final isso acaba definindo a sonoridade do disco e da banda.

RR - Eu percebo a banda procurando se aventurar por outros braços musicais, tentando variar mais em termos de arranjos. Teve essa intenção?

JM - Isso acaba acontecendo, mais flui naturalmente. Somos influenciados sonoramente a todo momento isso acaba refletindo nos arranjos e na sonoridade das músicas.

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RR - A veia setentista clássica ainda se faz presente. Parece ser a marca da banda. Mas não há uma prisão. Dá a impressão que vocês querem se expressar sobre essa base vanguardista. Como foi o processo de composição?

JM - Nossas maiores influências são das décadas de 60/70 e gostamos da sonoridade dessa época que acaba sendo uma forte característica da banda. Não temos uma linha que seguimos nas composições, as vezes temos primeiro a música, depois fazemos a letra ou vice e versa. Sempre que alguém chega com uma ideia, desenvolvemos a música e letras juntos ou já chega com a música pronta e tocamos colocando a pegada de cada um, depende....nunca seguimos uma formula.

RR - Faixas como "Real Loucura" flertam claramente com jazz. Como foi a experiência?

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JM - Eu diria mais pro progressivo do que pro Jazz. Desde o primeiro disco já flertamos com esse estilo que está muito presente em nossas influências.

RR - Como ocorreu a participação "canina" em "O Segundo"?

JM - A ideia de gravar na madrugada os cachorros da vizinhança e colocar na intro foi do Alberto Sabella, que acabou criou uma atmosfera sonora incrível.

RR - A faixa "Meu Amigo George" é uma homenagem à Harrison? Tem muito de Beatles nela.

JM - É uma homenagem com certeza. Tem muito de Beatles e George Harrison solo também.

RR - Quando o disco sairá em mídia física?

JM - Ainda não temos uma data prevista.

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RR - Num universo musical do Brasil, onde não existe mercado para quem quer apostar em rock autoral, principalmente de uma escola clássica, qual a visão de vocês em termos de aceitação da música do Estação?

JM - A aceitação do público é muito boa , temos fãs por todo país. Existe uma cena independente que não tem o apoio da grande mídia, mas sobrevive mesmo assim graças a internet que ajuda a espalhar seu som pelo mundo todo muito rapidamente que é um meio de divulgação muito eficaz. E existem algumas Rádios(AM/FM) que dão uma força para os artistas independentes.

RR - Aqui em Rio Preto, temos o circuito tradicional de covers em bares e espaços específicos. Como vocês sentem a aceitação do Estação, enquanto banda autoral nessa cena?

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JM - Sempre transitamos por esse circuito com um ótima aceitação, em Rio Preto atualmente tem uma ótima cena autoral, tem muitas bandas/músicos/compositores sensacionais a aos poucos o apoio e a cena vem crescendo.

RR - Como você sentiu a aceitação do primeiro trabalho, mesmo em termos nacionais, e como será a expectativa para este segundo?

JM - Tivemos ótima aceitação com o nosso primeiro trabalho, nos rendeu vários shows pelo país e ótimas críticas nas mídias e acredito que agora com "O Segundo" será muito legal também e hoje a internet tem várias ferramentas que ainda não rolava em 2012 quando lançamos nosso primeiro disco e que ajuda demais na divulgação do trabalho.

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RR - Sua música é algo que a cena do rock brasileiro tem aderência. Até onde você acredita que o Estação pode chegar?

JM - Não saberia te dizer, vamos continuar lançando nossos discos e vamos deixar rolar...(risos)

RR - Quais os planos do banda para os próximos meses?

JM - Nos próximos meses faremos os shows de divulgação do disco e logo vamos começar a trabalhar nas músicas do próximo disco.

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Sobre Júlio Verdi

Júlio Verdi, 45 anos, consome rock desde 1981. Já manteve coluna de rock em jornal até 1996, com diversas entrevistas e resenhas. Mantém blogs sobre rock (Ready to Rock e Rock Opinion) e colabora com alguns sites. Em 2013 lançou o livro ¨A HISTÓRIA DO ROCK DE RIO PRETO¨, capa dura, 856 páginas, trazendo 50 de história do estilo na cidade de São José do Rio Preto/SP, com centenas de fotos, mais de 250 bandas, estúdios, bares, lojas, festivais e muitos outros eventos. Curte rock de todas as tendências, em especial heavy metal e thrash metal.
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