Porno Para Ricardo: o grupo cubano que desafia governo dos Castro
Por Gustavo da Silva Bezerra
Fonte: Diversas, citadas no corpo.
Postado em 12 de agosto de 2014
Todo governo totalitarista que se preze é dependente de uma manipulação cultural para manter a população sob as rédeas; os artistas e intelectuais que corroborarem com as ideologias impostas pelo partido dominante, independente da qualidade do conteúdo que produzem, são exaltados. Do outro lado temos aqueles que são incapazes de alinhar seus ideais para agradar o governo despótico e acabam tendo sua liberdade suprimida, no mais brando dos casos. Não precisamos ir longe para ver exemplo, basta olharmos para trás, na própria história do Brasil, onde artistas do calibre de Caetano Veloso, Chico Buarque e mesmo Raul Seixas se viram obrigados a deixar o país e se exilarem em outras nações. O apogeu do absurdo aconteceu na Camboja sob o pulso comunista de Pol Pot: o Khmer Vermelho (partido que detinha o poder) assassinava aqueles que usavam óculos por considerá-los prováveis intelectuais e, então, subversivos. É um fenômeno pandêmico que se alastra pelos dois extremos do espectro ideológico.
Não é diferente na ilha dos Castro. Pouco se conhece daqueles que embatem o despotismo de dentro do país, a maioria dos cubanos que criticam o governo dissidem antes para não encarar face-a-face a tirania cubana. No entanto, o movimento Punk não é exatamente conhecido por andar dentro da linha e por se conformar com o status quo.
A banda PORNO PARA RICARDO surgiu como uma maneira de afrontar o governo dos Castro de dentro, com coragem e sem escrúpulos. Fundada em 1998, o conjunto é formado por Górki Aguila (vocais), William Retureta (baixo), Renay Kairus (bateria) e Ciro Díaz (guitarra), e cumpre uma lacuna fundamental, sendo a voz de muitos jovens que se encontram insatisfeitos com a condição política do país. A quebra de paradigmas lograda pela banda já começa com o próprio nome, PORNO PARA RICARDO, que satiriza a proibição de conteúdo erótico no país, por ser considerado transgressor, assim como o grupo.
Desde o lançamento do primeiro álbum, "Rock para las masas cárnicas", a trupe de Górki se destacou no cenário musical entre a juventude, todavia, foi só a partir de 2003, com a prisão do vocalista, que o conteúdo das letras do PORNO se tornou majoritariamente político. Naquele ano, Górki fora tido como réprobo pela justiça cubana acusado pelo crime de posse de drogas, durante um festival na cidade de Pinar Del Rio. Ele acabaria solto num período de dois anos.
Em março de 2004, o vocalista foi indicado ao prêmio da organização britânica Index On Censorship na categoria "música", que luta pela liberdade de expressão por artistas ao redor do mundo, o que atraiu a atenção do mundo para a banda, mas não passou incólume pelo poder cubano: em pouco tempo, o site da banda foi excluído pela justiça e a banda temporariamente proibida de atuar em concertos.
Górki Aguila então percebeu a sua sina de não viver em sua relativa liberdade por muito tempo; em 2008 foi novamente preso, desta vez por "periculosidade", que ocorre quando a justiça cubana julga que alguém seja bastante propenso a vir a cometer um crime, mas dessa vez não ficou por lá um grande período, tendo sido liberado após pagar uma fiança de cerca de 25 dólares (lembrem-se, estamos falando de Cuba, não estranhem o valor), já com uma grande cobertura da mídia internacional, que parece ter diminuído um pouco o ímpeto das investidas do governo contra o músico doravante.
Em 2011, o conjunto fora convidado para o que seria o show de maior exposição da carreira, no United Islands Festival, em Praga, na República Tcheca, no entanto os músicos não obtiveram permissão para deixar o país, e apenas o vocalista Górki rumou para a Europa, pois já se encontrava fora de Cuba; estava no México cuidando de sua mãe. O show, então, foi feito em conjunto com uma banda local, o ALAVERDI.
Além do nome que representa o grupo, o primeiro grande símbolo a representar o descontentamento com o sistema governamental e econômico de Cuba é o emblema do Grupo, que satiriza a clássica bandeira vermelha do comunismo surgida na URSS, substituindo o facão por um símbolo fálico.
Já as letras ácidas da banda podem muito bem ser representadas pela canção "El Coma Andante", que faz um trocadilho satirizando a inércia (coma andante) de um governo tacanho e inerte em referência ao grande líder (comandante). O versos "El coma andante, quiere que yo trabaje/ Pagándome un salario miserable/ El coma andante quiere que yo lo aplauda/ después de hablar su mierda delirante" servem como uma perfeita metonímia para o que a banda apresenta, e faz jus ao incomodo e desconforto do alto escalão do governo cubano. O título dos discos segue esse mesmo tom, como "Soy Porno, soy popular" que satiriza uma canção popular e nacionalsita cubana chamada "Soy cubano, soy popular".
A banda, não obstante seja a oposição, rejeita qualquer rótulo de posicionamento político. desprezam tanto a esquerda quanto a direita, e bradam apenas a liberdade quando dizem que lutam apenas por si mesmos. O PORNO PARA RICARDO é um exemplo de que a música não é apenas arte; é política, é embate, e também é arte, e mostra que o rock de atitude tem lugar, não só sobre os palcos, mas dentro das cabeças.
Vídeo da canção "El Coma Andante":
Apresentação em Praga:
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