Ringo Starr: o beatle esquecido
Por Thiago El Cid Cardim
Postado em 24 de junho de 2006
Dia 18 de junho, Paul McCartney completou seus 64 anos. A imprensa de entretenimento de todo o planeta, é claro, perseguiu o sujeito alucinadamente por conta da profética letra da canção "When I'm Sixty-Four", do disco "Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band" (1967) - e também por causa de sua separação da modelo Heather Mills, atual alvo favorito dos tablóides britânicos. Mas a pergunta que não quer calar é: será que todo mundo esquece que, em Liverpool, nasceu um quarteto que mudou a história do rock - e não um trio? Será que os jornalistas realmente não se lembram que, além de McCartney, Lennon e Harrison, tinha um narigudo sujeito canhoto segurando as baquetas por trás do kit de bateria feito para destros? Um sujeito de nome...Ringo Starr.
Nascido Richard Starkey no dia 7 de julho de 1940, Ringo prepara-se para completar seus 66 anos daqui a duas semanas em grande estilo. Afinal, desde o dia 14 de junho ele está novamente em turnê pelos EUA com a sua All-Starr Band, que nesta nova versão reúne nomes como Rod Argent (tecladista, um dos fundadores do grupo sessentista The Zombies), Richard Marx (cantor e compositor de rock contemporâneo), Sheila E. (percussionista, conhecida por seu trabalho com Prince), Billy Squier (cantor de baladas roqueiras dos anos 80 como "The Stroke"), Edgar Winter (saxofonista, tecladista e percussionista albino) e Hamish Stuart (guiatrrista que já trabalhou com Paul McCartney) - um supergrupo, que em outras formações, deu origem aos álbuns ao vivo "All-Starr Band" (1990), "Live From Montreaux, Vol.2" (1994), "Third All-Starr Band, Vol.1" (1997) e o recente "Tour 2003" (2004).
No ano passado, o músico lançou "Choose Love", disco de inéditas que conta com a participação especial de Chrissie Hynde, do grupo The Pretenders - e que, vejam só, foi muitíssimo bem-recebido pela crítica como uma continuação competente dos também divertidos "Ringorama" (2003) e "Vertical Man" (1998, com Alanis Morissette e Scott Weiland).
Último a ingressar nos Beatles, em 1962, Starr era também o membro mais velho do grupo. Isso não impediu, no entanto, que ele contribuísse de maneira fundamental para a sonoridade dos Fab Four, com sua abordagem rítmica inovadora para a época. Além disso, o sujeito se encaixou como uma luva na fogueira das vaidades que rapidamente se tornariam os Beatles depois do sucesso e da histeria em território ianque, contrastando perfeitamente com a inteligência sarcástica de Lennon, o carisma pop de McCartney e a seriedade quase muda de Harrison. Starr sempre foi o cara simpático, aquele tipo sorridente e receptivo que parecia muito comum, quase como um vizinho com quem você se dá muito bem. O tal "everyday man".
Mesmo depois do fim da banda, em 1970, Ringo continuou amigo dos outros três membros - pelo menos, na medida do possível. Tanto é que a tradição que McCartney, Lennon e Harrison tinham de enviar cartões postais ao baterista colecionador continuou por alguns anos depois da traumática separação, dando anos mais tarde origem ao livro "Postcards From The Boys". Embora seu casamento, em 81, com a atriz Barbara Bach (a bond girl do filme "007: O Espião Que Me Amava") tenha lhe dado a esperança de talvez começar uma carreira no cinema - ele esteve em filmes diversos como "Mande Lembranças Para Broad Street" (84), "O Homem das Cavernas" (81), "Lisztomania" (75) e no clássico "200 Motels" (71), ao lado de Frank Zappa e Keith Moon, batera do The Who - o negócio de Starr era mesmo a música. Ainda bem, só para constar, já que como ator ele é um excelente cozinheiro.
Sua incursão na carreira solo não foi das mais fáceis, é preciso admitir. Seus talentos como compositor e letrista sempre foram muito limitados se comparados com os de seus ex-colegas de banda. E portanto, era de se esperar que, apesar de lançar praticamente um LP por ano no começo de sua discografia, Starr sempre contasse com diversas participações especiais do calibre de Elton John, Eric Clapton, David Gilmour (Pink Floyd) e obviamente de Lennon, McCartney e Harrison (devidamente separados, é bom que se diga).
As tentativas de Ringo Starr no universo musical foram muitas, e boa parte delas absolutamente detonadas de maneira impiedosa pela crítica musical. Em "Beaucoups of Blues" (70), por exemplo, ele fez uma jornada rumo ao country, de Nashville. Já em "Ringo The 4th" (77), a idéia foi flertar com o soul e a disco music que estavam em alta na época. Com "I Wanna Be Santa Claus" (99), ele tentou as canções natalinas. E em bolachas como "Ringo's Rotogravure" (76) e "Bad Boy" (78), o ex-beatle rendeu-se de vez ao pop rasgado. Mas nada disso surtiu efeito. Somente como o auto-intitulado "Ringo", de 73, é que o baterista encontrou a sua verdadeira identidade musical pós-Beatles: um rock divertido, sem compromissos, bem-humorado, e abordando temas leves, sorridentes e de bem com a vida. Exatamente como o próprio Ringo, aliás. Seus três últimos álbuns de inéditas, incluindo o recente "Choose Love", vêm seguindo esta fórmula. E para um dos ídolos de Marge Simpson, parece mesmo que "em time que está ganhando não se mexe".
Além do retorno aos palcos, as últimas novidades sobre Ringo Starr incluem a vaga no "Percussive Hall of Fame", ao lado de nomes consagrados como Gene Krupa, Tito Puente e o lendário Buddy Rich, e também os planos para estrelar uma animação "super-heroística" produzida por ninguém menos que Stan Lee - a mente criadora por trás de personagens como o Homem-Aranha, o Incrível Hulk e os X-Men.
Para saber um pouco mais a respeito de Ringo Starr e seu dia-a-dia, basta acessar o seu site oficial: www.ringostarr.com. A página é atualizada pessoalmente pelo próprio Ringo, que disponibiliza galerias de fotos de suas estripulias como artista plástico, vídeos de suas mais recentes atividades e uma área de notícias para os fãs. Ele pode não ser tão "popstar" quando McCartney, afinal de contas. Mas ainda assim, é um beatle. E o mais engraçado dos quatro.
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