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Resenha - Visions of Atlantis (Hangar 110, São Paulo, 07/10/2023)

Por Marcelo R.
Postado em 25 de outubro de 2023

Resenha originalmente publicada na página Rock Show, no site Medium.

No último sábado, 7 de outubro de 2023, a capital paulista sediou alguns eventos bastante especiais, que abrilhantaram o dia e o fim de semana dos apreciadores de boa música.

Àqueles atraídos por uma sonoridade mais intimista e imersiva, São Paulo serviu de palco, no Teatro Bradesco, para o concerto acústico Six strings and a voice, capitaneado pelos gigantes Anneke Van Giersbergen (ex-The Gathering) e Marko Hietala (ex-Nightwish).

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Foto: Reprodução YouTube
Foto: Reprodução YouTube

Aos entusiasmados por um som mais épico, potente e vigoroso, tampouco faltou opção. Afinal, na mesma data, os "piratas" austríacos do Visions of Atlantis desembarcaram em solo tupiniquim para um poderoso show, que aconteceu no Hangar 110, tradicional casa de eventos de São Paulo. E foi para esse evento que rumei na ocasião.

Exatamente às 21h23min – ou seja, com um pequeno atraso, já que o show estava programado para início às 21h00min –, as caixas de som ao palco emitiram as primeiras notas pré-gravadas da introdução da épica canção Master de Hurricane, faixa pertencente ao mais recente trabalho da banda, Pirates.

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Paramentados com um figurino temático – que representa o conceito da banda –, o Visions of Atlantis assomou imponente ao palco e, então, iniciou o desfile de clássicos vigorosos.

Alguns adjetivos poderiam, por si só, definir o estilo do Visions of Atlantis, em poucas palavras: potente. Enérgico. Vigoroso. Poderoso. Épico. Esses superlativos, que espelham também a performance da banda ao vivo, talvez até dispensassem frases mais longas e descritivas, ou mesmo maiores digressões sobre o show.

De todo modo, vale o registro mais minucioso.

Master de Hurricane, sistematicamente tocada como canção de abertura nos shows dessa atual turnê, foi escolha certeira. Com uma breve introdução instrumental épica executada, inclusive, com alguns arranjos pré-gravados de teclado, a canção alterna-se e sequencia-se com quebras de tempo ao longo de sua estrutura.

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Enquanto o trecho pré-gravado era executado, a banda ingressou ao palco, apresentando-se diante de uma plateia entusiasmada e efusiva que, ao longo de todo o show, cantou sonoramente as canções da banda.

À primeira desaceleração rítmica de Master de Hurricane, que dá espaço a um arranjo mais atmosférico e acústico, Clémentine, já presente ao palco, preencheu a canção com a sua doce e angelical voz, espargindo um efeito imersivo, quase hipnótico, na plateia. Nesse pequeno aperitivo, amostra do que seria entregue ao público ao longo dos próximos 90min, Clémentine demonstrou, já na largada, que "se garante" ao vivo, reproduzindo, com segurança, equilíbrio e domínio, todos os tons e timbres executados nas canções de estúdio. É como diz a frase: quem sabe faz ao vivo.

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Após esse momento mais imersivo de Master de Hurricane, a canção é sequenciada por uma explosão sonora que, daí em diante, ditou o tom não apenas desse hino de abertura, mas da própria atmosfera épica, vigorosa e potente do show (com alguns entremeios de canções mais intimistas, imersivas e introspectivas, conforme adiante detalhado).

Encerrada a primeira canção – sob uma saraivada de aplausos da sonora plateia –, o show foi emendado, imediatamente, com a curta, direta e igualmente potente New Dawn e, após, com A Life of Our Own, que mantiveram elevados o ânimo e a temperatura do público caloroso naquela capital paulista.

Após, a banda executou Clocks, uma faixa mais cadenciada e que, em minha opinião, funcionou muito melhor ao vivo.

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O show da banda é bastante dinâmico. Para além da precisão técnica de todos os integrantes – que entregam ao vivo exatamente o que executam em estúdio –, o Visions of Atlantis é formado por dois vocalistas: o italiano Michele Guaitoli e a francesa Clémentine Delauney. As canções são, em geral, construídas com participações alternadas entre ambos e, em alguns trechos, cantadas, em uníssono, conjuntamente pelos dois vocalistas, sobretudo nos momentos mais épicos e vigorosos.

Clémentine domina uma voz de soprano doce, limpa, angelical e encorpada, ao passo que Michele Guaitoli é responsável por um estilo mais grave e agressivo (mas que, em determinados momentos, eleva-se a tons mais agudos). Essa alternância e pluralidade de estilos conferem à música do Visions of Atlantis – e, assim, ao próprio show – um aspecto multidimensional. É dizer: essa miríade de influências, cadências, andamentos, quebras de tempo e alternâncias vocais torna dinâmica e cativante a experiência de assistir o conjunto ao vivo.

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Regressando ao show.

Após uma extensa sequência de canções mais enérgicas – com algumas incursões mais cadenciadas (como em The Deep & The Dark) –, o espetáculo desacelerou brevemente, abrindo espaço, então, a uma das faixas mais intimistas do conjunto: Freedom.

Freedom é desenvolvida num clima obscuro e dramático, que, ao vivo, funcionou extremamente bem. O tom atmosférico da canção, com as conhecidas alternâncias entre os vocais (aqui, desempenhadas com intenso feeling) novamente espargiu efeito hipnótico na plateia, completamente imersa naquela aura mística proporcionada por uma canção tão intensa e marcante em sua própria sutileza e brandura.

O tom épico da apresentação foi resgatado com as canções apresentadas em sequência – A Journey to Remember e In My World –, até o anúncio daquela que é, para mim, uma das melhores, mais belas e mais inspiradas músicas do conjunto: Darkness Inside.

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É difícil descrever experiências sensoriais, transmitindo-as em palavras na mesma intensidade. É necessário vivenciá-las. Assim afirmo porque, ao menos em aspecto pessoal, Darkness Inside é aquele tipo de canção que provoca, no ouvinte, vivas e reais sensações, para além da mera apreciação artística de uma bela melodia. Ao menos para a minha experiência como ouvinte – sempre pessoal e dotada de alto grau de subjetividade, evidentemente –, Darkness Inside transmite sentimentos palpáveis, íntimos e diretos de melancolia e de introspecção. Creio que o efeito buscado era, aliás, justamente esse, a começar pelo próprio título, com seu tom lúgubre e soturno.

Darkness Inside foi mais um dos momentos de desaceleração rítmica do show, com uma plateia magneticamente vidrada na execução de uma das canções mais intensas – na sua própria obscuridade e sentimentalismo – do conjunto. Ao vivo, o efeito hipnótico que ela provocou ao público era evidente e, para mim, representou o apogeu do show, permeado pela movimentação de tantas, e tão díspares, sensações e emoções.

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Recuperado o fôlego, o conjunto retomou o desfile de seus clássicos ritmicamente mais agitados e épicos, embora com algumas incursões pontualmente mais serenas (como em Nothing Lasts Forever).

A primeira parte do show encerrou-se com a sequência de Heroes of the Dawn (com seu estilo mais folk e cadenciado. Essa é uma das minhas canções favoritas do grupo) e Melancholy Angel, cantada em uníssono pela plateia incansável.

Em Melancholy Angel, o vocalista Michele convidou a todos os presentes a pularem vigorosamente. Por questões de segurança, Michele convidou as pessoas do camarote para que descessem à pista, o que foi prontamente atendido. Então, o saguão do Hangar 110 ficou repleto. Com enorme entusiasmo e empolgação, os fãs curtiram, a vigorosos pulos, o fim da primeira parte do show.

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Ao final de Melancholy Angel, a banda saiu rápida e silenciosamente do palco, mas, em poucos minutos, regressou, após insistentes e sonoros pedidos da plateia, que repetidamente clamava pelo seu retorno aos brados de "Visions! Visions!".

Os vocalistas do Visions of Atlantis são bastante carismáticos e comunicativos, interagindo constantemente com a plateia com gestos, cumprimentos ou com frequentes diálogos diretamente com o público. Por ocasião do retorno ao bis, Clémentine anunciou que a banda estava em processo de composição, prometendo, em breve, o lançamento de um novo álbum.

A seguir, o Visions of Atlantis executou as duas últimas canções da noite: Pirates Will Return, com suas mudanças intrínsecas de andamento, e Legion of the Seas, com um tom festivo e um movimento ritmicamente veloz, além de um refrão vigoroso e potente. Escolha perfeita para encerramento do show, transmitindo ao público sensação de alegria e animação, deixando-lhe, ainda, aquele típico gosto de "quero mais".

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Após um demorado e respeitoso cumprimento reverencial da banda ao público, o Visions of Atlantis saiu do palco e coroou, nessa sua segunda passagem pelo Brasil, a posição de consolidado expoente do metal sinfônico. Entregou um show potente, vigoroso, animado, dinâmico e variado, com entremeios mais atmosféricos e desacelerados, transformando esse momento numa rica e agradável experiência. Inesquecível, por certo.

Vale ressaltar que a banda adota um conceito específico de letras: piratas. Para além da extensa imagem/bandeira elevada ao fundo do palco, a banda se apresenta paramentada com um figurino típico desse conceito, inserindo o público, assim, nesse contexto e cenário (conferindo à apresentação, dessa forma, um tom, em certa medida, interativo).

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Merece destaque, também, o fato de que, para além do aspecto musical – de altíssima qualidade –, o desempenho da banda é bastante teatral e performático. Os movimentos dos vocalistas Michele Guaitoli e Clémentine Delauney ao longo das canções são tão sincronizados, que parecem coreografados para uma peça de teatro, impressão potencializada pela vestimenta típica ao seu conceito, como já mencionado.

O conjunto é comunicativo não apenas com a plateia, mas também entre si, no palco, com trocas de brincadeiras e piadas entre os integrantes (é inesquecível e impagável a reação de contrariedade – evidentemente já combinada – de Clémentine no momento em que Michele, provocando-lhe, afirmou, ao microfone, que a França não pertencia à Europa!). Esse tom leve e bem-humorado marcou a relação da banda entre si e com o público.

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Por último, mas não menos importante, merece destaque que, ao menos do lugar onde me posicionei na pista, o som estava perfeitamente audível e muito bem equalizado. Aliás, não ouvi nenhuma queixa – seja de pessoas na pista, seja daquelas que assistiram ao show do camarote – de qualquer problema envolvendo o som. Parabéns, portanto, ao respectivo responsável técnico.

Ao final de aproximadamente 1h30min de show, o Visions of Atlantis se despediu do público. Deixou o palco. Deixou, porém, algo a mais: a vontade e a expectativa dos fãs tupiniquins para o próximo show, já ansiosamente aguardado.

O show no Brasil foi o penúltimo da turnê (no dia subsequente, a banda tocou na Argentina).

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Com o fim da turnê e o anúncio de que a banda trabalha, atualmente, em novas composições, torcemos para que o Visions of Atlantis revisite o Brasil em breve, brindando-nos com seu vigoroso e sempre empolgante espetáculo sonoro. Um verdadeiro desfile de clássicos!

Experiência inesquecível, marcada com brasa quente na memória e no coração.

Voltem logo!

SET-LIST:

1. Master the Hurricane
2. New Dawn
3. A Life of Our Own
4. Clocks
5. Mercy
6. The Deep & the Dark
7. Freedom
8. A Journey to Remember
9. In My World
10. Darkness Inside
11. Return to Lemuria
12. Nothing Lasts Forever
13. Heroes of the Dawn
14. Melancholy Angel

Bis:

15. Pirates Will Return
16. Legion of the Seas

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Sobre Marcelo R.

"Marcelo R. é natural de Itu. Da fama de sua cidade, herdou alguns exageros, como o gosto pela música e pela literatura. Ávido leitor e aficionado por uma imensa gama de subgêneros do rock, possui especial paixão pelo metal nacional, do qual é incansável apoiador. É colecionador de discos, já tendo completado algumas discografias, como a do Katatonia e a do Bruce Dickinson. Nas horas vagas, é um despretensioso escritor, aventurando-se especialmente em resenhas de livros e de música. Colabora com a página Rock Show, sediada no site Medium. É formado em Direito."
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