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Riff Mania Fest levou o metal autoral e cover ao palco da Iglesia La Borratxeria

Resenha - Riff Mania Fest (Iglesia La Borratxeria, São Paulo, 04/08/2023)

Por André Garcia
Postado em 16 de agosto de 2023

Em 4 de agosto a Iglesia La Borratxeria cedeu seu palco para a realização da primeira edição do Riff Mania Fest — um festival de metal e rock pesado tanto autoral quanto cover.

Do lado autoral tivemos Finis Hominis, Dead Jungle Sledge e Válvera; do outro lado, The Hammer (Motörhead cover).

Aquela foi minha primeira vez na Iglesia — cujo ambiente interior foi minuciosamente pensado para sua estética peculiar. Como uma anti-igreja católica, em todo canto temos seus signos e imagens de forma profana, embora uma profanidade até respeitosa, sem baixaria. O palco é um altar, e o bar é um confessionário… Achei bacana.

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Finis Hominis

O primeiro show estava marcado para as 21h, e começou com 9 minutos de atraso. Foi, acredito eu, a primeira vez que ouvi — ao vivo ou em casa — uma banda de sludge metal (metal pesado e intencionalmente arrastado ao extremo). Para um leigo como eu, soa como um stoner death metal, inspiradíssimo pelos primeiros discos do Black Sabbath.

A primeira coisa que me chamou a atenção foi o fato de o guitarrista tocar de costas para o público. E o faz o show inteiro!

Nas composições deles, há certos elementos do gênero que se repetem em diversas músicas, como a conclusão com o riff cada vez mais arrastado, com batidas cada vez mais espaçadas. Mais me agradaram os momentos inesperados, como revira-voltas musicais à la Metallica no "Kill 'Em All". As letras me pareceram serem em português, mas, para meus ouvidos não experimentados com vocal gutural, é difícil entender o que é cantado.

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O equipamento e a acústica estavam bons, e assim estiveram por todo o evento. Em muito graças à equipe da casa, sempre dedicada a auxiliar os músicos durante o show cuidando de qualquer imprevisto que pudesse os atrapalhar. Já a iluminação foi pouco utilizada pela banda: o tempo quase todo, os cinco refletores à cima e à frente do palco ficaram estáticos em vermelho. Como a banda é um trio, o baixista não se move muito por ser o vocalista principal, e o guitarrista fica todo o show de costas para o público, pode não empolgar muito às pessoas mais visuais.

A interação com o público foi escassa, no estilo "poucas ideias", quase que se limitando a avisar das camisas e bottons à venda. Eu não me recordo de a banda ter dito seu nome em algum momento, ou sequer ter apresentado o nome de seus integrantes.

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Acabou às 21:45.

Dead Jungle Sledge

Começou às 22:05.

Seu som é um heavy metal meio thrash, meio bandas como Sepultura e Pantera nos anos 90. Mais do que pesado, seu som é grave — muito grave. Tão grave que sinto dificuldade para diferenciar as notas tocadas pela guitarra. Como o baixista é tão focado em marcar as melodias da base, o guitarrista poderia se aventurar mais em frequências médias e agudas.

Eu diria que ao vivo o destaque foi o baterista. Com mãos pesadas como John Bonham e Bill Ward, mais de uma vez parecia que a bateria ia quebrar (o que felizmente não aconteceu). E ele ainda possui um vasto repertório de batidas e viradas do gênero. Até por isso senti que o vocal poderia estar mais alto.

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A iluminação foi mais dinâmica do que a do Finis Hominis, mas os momentos em que ela mudava de cor ou piscava me pareciam não ter lá muito a ver com as músicas. Aquela apresentação foi a primeira da banda em São Paulo, então não sei se isso contribuiu inibiu seus membros no palco. Eu diria que a interação com o público foi tímida.

Acabou às 22:30 — com um público 50% maior em relação à primeira música.

Válvera

Começou 23:03

Já de cara me chamou atenção a aplicação dos guitarristas pela apresentação, pela presença do palco, ao contrário das bandas anteriores, paradonas, mais focadas em tocar. Seu sou é praticamente um estudo de thrash metal: ora soa como Metallica, ora Megadeth, ora Slayer… e também possui influências mais modernas. Provavelmente seja por isso que a banda se define como neo thrash.

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Contrariando essa coisa de que metal tem que ser tocado de cara fechada e com uma atmosfera fúnebre, Válvera contrastou com as bandas anteriores pela descontração. Os guitarristas, principalmente, sorriem, brincam e se divertem enquanto tocam — o que diverte mais a mim, enquanto público. Foi também a banda que mais interagiu com a plateia. Formada em 2010, é a banda mais veterana do evento. E toca e se porta com a segurança de veteranos.

Curti particularmente os ocasionais duetos de guitarras, com riffs uníssonos em harmonia, no melhor estilo Judas Priest, Iron Maiden e Thin Lizzy. A guitarra solo estava alta e em bom som, no volume perfeito, com o destaque que o gênero pede. O baterista é muito bom: enquanto toca, há em seus olhos um brilho de uma criança com seu brinquedo preferido. Parece haver algo de lúdico no instrumento para ele. Curti mais os momentos em que as composições o deixam solto para fazer algo mais improvisado e ousado.

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É provável que o quarteto tenha feito o melhor uso da iluminação. De tempos em tempos, as luzes batiam com o que eles estavam tocando, algo que poderia ter acontecido mais vezes na noite.

Acabou às 23:47

The Hammer

A primeira coisa que me chamou atenção foi o fato de a banda ter uma dupla de guitarristas — eu, particularmente, sou mais fã das formações em trio do Motörhead.

O vocalista/baixista, embora fisicamente lembre mais Jimmy London (Matanza), canta e toca idêntico a Lemmy Kilmister: o instrumento, a pose, os sapatos, o cinto de balas… Até mesmo seu senso de humor e suas interações com o público são parecidas.

O repertório não se limitou aos clássicos da formação original, se estendendo também a clássicos oitentistas e noventistas, como "Going to Brazil", "Hellraiser", "Born to Raise Hell" e "R.A.M.O.N.E.S". Só as músicas pós-anos 2000 não tiveram espaço, mas é compreensível, por se tratar de um repertório de apenas 40 minutos.

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É evidente o quanto eles se divertem tocando aquelas músicas, e o carinho, esmero e atenção que dedicaram aos detalhes. O momento mais inusitado foi a primeira vez que vi uma banda cover fazer cover: quando eles tocaram Black Sabbath.

Acabou por volta de 1 da manhã em grande estilo, com o clássico "Overkill".

Em São Paulo, o punk e o hardcore parecem estarem sempre em alta, mas o rock pesado e o metal me parecem meio em baixa no circuito independente. É por isso que eventos como o Riff Mania são muito bem-vindos para dar mais diversidade musical à maior cidade da América Latina.

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Sobre André Garcia

Sou redator e tradutor freelancer e escritor, autor do livro de contos Liber IMP. Ouço rock desde pequeno, leio coisas sobre bandas desde sempre e escrevo sobre ela já tem anos. Cresci como fã de Iron Maiden e paladino do rock, mas já me tratei. Hoje sou fã de nomes como Beatles, David Bowie, The Cure, Kraftwerk e Velvet Underground, e de cenas como a Londres psicodélica, a Nova Iorque proto-punk e a Manchester pós-punk. Escrevo notas e notícias rápidas para o Whiplash.Net visando compartilhar conteúdo relevante sobre música e cultura pop.
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