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Dobradinha Fibonattis e Rota 54 levou o punk rock 77 paulistano ao Bomber Pub

Resenha - Fibonattis e Rota 54 (Bomber Pub, São Paulo, 08/07/2023)

Por André Garcia
Postado em 14 de julho de 2023

Eu não sei explicar, mas há alguma relação entre Londres e São Paulo que faz com que o rock inglês — especialmente o punk, combine tanto com esta cidade. Nos anos 80 o Ira! provou que The Clash, The Jam e The Who tinham tudo a ver com São Paulo. Arrisco dizer que até hoje, décadas depois, segue sendo a cidade que gera as bandas punks mais britânicas — entre elas Fibonattis e Rota 54.

Essa dupla se juntou em uma dobradinha na noite de 8 de julho no Red Star Sudios/Bomber Pub. A primeira eu já conhecia, mas Rota 54 não. Portanto, me pareceu uma ideia interessante escrever uma resenha dupla: duas bandas do mesmo gênero, uma banda conhecida e outra desconhecida.

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E com uma provocação no ar — vale a pena assistir duas bandas de punk 77?

Fibonattis

Às 19h40, a banda montava o som ainda sem o baterista. O combinado foi começarem a tocar às 20h20, e ainda tinha que passar o som. Ele chegou às 20:05, cobrindo um imprevisto do trabalho — um dia na vida em São Paulo. Fizeram uma passagem de som relâmpago, acertaram alguns detalhes na conversa e 20h23 o pessoal já entrou. Contei pouco mais de 30 pessoas, mas o número foi aumentando até quase 50.

Em homenagem a um amigo recentemente falecido, José Tiago "Bedois", sua música favorita foi dedicada a ele: "Duda".

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A forma como o guitarrista base toda me lembra Joe Strummer, com acordes brutos martelados pela palheta; a forma como o guitarrista solo busca melodias paralelas em segundo plano me lembra o guitarrista solo do Buzzcocks. Já o baterista tem uma certa grandiloquência técnica como o representada no gênero por Travis Barker. Ele, diga-se de passagem, não alivia a mão nos pratos — os amplificadores dos colegas que lutem! Ao baixista cabe delinear e grifar a melodia básica, como fazia Dee Dee Ramone, muitas vezes sendo um elo entre as guitarras tocando coisas diferentes; ocasionalmente tocando riffs rápidos no estilo Green Day.

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Pode ser que seja eu que esteja precisando limpar os ouvidos, mas quando assisto FIbonattis fico querendo que os vocais fossem um pouco mais alto, para eu conseguir entender as letras com mais clareza. Até porque seus refrões entoam coros que a galera adora cantar junto — lembram cantos tanto de pubs quanto de arquibancadas.

É uma banda séria, sem pirotecnia ou presepada, que tocam como operários — bem o que no punk inglês se considera working class. Geralmente poucas ideias entre as músicas, tem como fim transmitir um discurso. Como uma cadeira feita apenas para sentar, e não para decorar o cômodo.

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O que levei em minha memória foi uma garota que dançou todo o show graciosa e desajeitadamente — uma dança só dela, um mundo só dela. Como Phoebe, de Friends, fazendo cooper. Tal dança seria ridicularizada em qualquer outro lugar, mas em um show de punk rock é normal. É um espaço onde todo mundo pode ser como realmente é, sem julgamentos. Já diziam os Ramones, "Gabba gabba we accept you one of us" (nós te aceitamos como um de nós).

A banda tem um público cativo que está sempre em seus shows. Esses conhecem as músicas para além de apenas saberem a letra. Na plateia amigos se reencontrando, muitas mulheres, família… Ao final do show, às 21h30, a banda autografou o vinil de uma fã adolescente acompanhada de seu pai — trajando uma jaqueta com um grande A nas costas.

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Setlist:
Sempre Estarão
Distintos Jamais
Duda
Vidas
Fibonattis
Jura Eterna
Midias Sociais
Singelos Votos
Pra que Viemos
Última Estação
Tarde Demais
Sempre no Bar
Cidade Mórbida
Velhos Trapos
Nossa Hora

Rota 54

Começou às 21h48; já de imediato estabelece ser uma banda com influências excêntricas e contrastantes. Se o Fibonattis é mais como uma gangue, Rota 54 é um Frankenstein musical, no bom sentido, um Mega Zord formado por robôs de diferentes seriados japoneses oitentistas. Seu frontman é o piloto, alternando entre o powerchord marretado do The Clash e os irreverentemente palhetados acordes abertos do Buzzcocks.

Seus solos são bem mais destacados e emoldurados do que os da banda anterior. Ele me pareceu ter referências bem mais cabeças e setentistas, ora intervindo como Augusto Licks nos Engenheiros do Hawaii. O baixista é tão tímido que é difícil concluir algo sobre ele, mas me pareceu uma pessoa metódica. Musicalmente, me pareceu curtir mais Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin do que Ramones, Sex Pistols e The Clash.

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O baterista domina a gramática musical do hardcore, com outros elementos como pop sessentista e as levadas de Marky Ramone. Houve uma ou duas escapulidas (prontamente corrigidas) justificáveis, já que ele aparentemente sentia os punhos. Ao longo de toda a apresentação fez um esforço que merece ser aqui reconhecido. Espero que esteja tudo bem com ele.

As músicas são muito voltadas para os contos urbanos narrados pelas letras. Liricamente, contrasta com Fibonattis pelo tom mais otimista em relação ao futuro. Rota 54 parece esperar que dias melhores virão, Fibonattis parece não contar com isso.

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Acabou às 22h32, e eu nem falei com ninguém porque já parti para o metrô antes de o caminho ficar deserto. Para economizar um Uber. Sabe como é, né? Uma noite na vida em São Paulo.

Setlist:
Dente por Dente
Em Ninguém
Honestidade
Liberdade
Ali
Não Quero Mais
Mais uma Estação
Hiro Song
Sobrevivência
Garotos do Suburbio
São Paulo (Cólera)
Rudes Tempos
Hey Ho Catadão
Garota Suicida
Garoto Pequeno

Pra que assistir duas bandas punk de São Paulo?

Faz sentido assistir duas bandas de punk? Sim. É um reducionismo restringir uma banda a seu gênero. São duas bandas de punk 77 de São Paulo, que escrevem sobre a vida na mesma cidade; apesar disso, são diferentes pelo simples fato de serem feitas por pessoas diferentes. O punk rock é uma linguagem, e com essa linguagem cada banda escreve seus próprios textos e conta suas próprias histórias. Corações diferentes contam histórias diferentes quer usem linguagens diferentes ou não.

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Como banda, Fibonattis é seis anos mais jovem que Rota 54, mas, liricamente, há algo de velho, fatalista e socialmente desiludido em sua música. Algo que transparece em seus títulos: "Última Estação", "Tarde Demais", "Velhos Trapos"... Rota 54 é mais velha, mas traz em seus títulos algo mais jovem, mais socialmente otimista e idealista: "Honestidade", "Liberdade", "Mais Uma Estação", Garotos do Subúrdio"…

Curiosamente, o contraste entre as bandas foi acentuado até mesmo pelos setlists que levaram impressos: Fibonattis tinha os títulos numerados e agrupados, como uma marcha; Rota 54 era uma lista tendo como marcador uma estrela (um pentagrama) — simbólico.

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Considero ser tão interessante quanto ouvir a música, observar as diferenças e individualidades das bandas. Mais me atrai o que elas têm de diferente do que o que elas compartilham em comum.

Portanto, concluo que ir ao pub assistir a duas bandas punks faz tanto sentido quanto ir ao cinema assistir a dois filmes de drama produzidos na Inglaterra.

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Sobre André Garcia

Sou redator e tradutor freelancer e escritor, autor do livro de contos Liber IMP. Ouço rock desde pequeno, leio coisas sobre bandas desde sempre e escrevo sobre ela já tem anos. Cresci como fã de Iron Maiden e paladino do rock, mas já me tratei. Hoje sou fã de nomes como Beatles, David Bowie, The Cure, Kraftwerk e Velvet Underground, e de cenas como a Londres psicodélica, a Nova Iorque proto-punk e a Manchester pós-punk. Escrevo notas e notícias rápidas para o Whiplash.Net visando compartilhar conteúdo relevante sobre música e cultura pop.
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