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Amon Amarth e Powerwolf: mais uma noite de vikings, mas sob o ataque de lobos

Resenha - Amon Amarth (Complexo Armazém, 01/03/2020)

Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 09 de março de 2020

Mais uma vez a capital do calor do nordeste brasileiro foi transportada por uma noite para as gélidas terras do nordeste europeu. No domingo, 1 de março, mesmo sob a ameaça da falta de segurança no estado (foi o último dia de motim da Polícia Militar), headbangers cearenses (e de cidades e estados vizinhos) transformaram-se em guerreiros vikings, mas não sem antes provar o gosto do sangue trazido pelos lobisomens romenos. Numa produção esmerada da Liberation, POWERWOLF e AMON AMARTH, esta última retornando à cidade, onde já havia se apresentado anteriormente com o ABBATH, conquistaram o público do Complexo Armazém, ávido por metal, sangue e guerra.

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Infelizmente não conseguimos o credenciamento de fotos. Assim, perderemos a chance de ver as belíssimas imagens de nossos grandes parceiros das lentes. No entanto, ao ler este texto, como ao ler um livro, imagine ou relembre o poder das duas bandas que arrasaram o Armazém.

POWERWOLF

Pontualmente sobem ao palco Charles Greywolf (guitarra), Markus Pohl (guitarra, substituindo Matthew, que não pode vir para a turnê), Roel Van Helden (bateria), o impagável sacerdote Falk Maria Schlegel (teclado) e o bispo lobo Atilla Dorn, que comandaria a missa metálica a partir dali, iniciando com "Fire and Forgive". E é em português que o romeno Attila Dorn se dirige ao público (ressalte-se, Attila, o personagem, é da terra do Conde Drácula, enquanto Karsten Brill, o homem sob a maquiagem, não). "Obrigado. Boa noite, Fortaleza.". Depois ele segue no inglês que não é sua língua natal, nem a nossa, mas é a universal hoje. "Bem vindos a única missa heavy metal no mundo. Vocês querem ser nosso exército heavy metal essa noite?" Ao que o público responde sim. Impressionante desde o início é o quanto Falk Maria (Christian Jost) não deixa escapar um só momento em que não esteja tocando. Sempre que sua presença não é exigida soando atrás dos teclados, cujo suporte imita um convento, ele disputa o centro do palco com Attila, provocando a agitação do público.

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O show prossegue como numa missa e no rito litúrgico powerwolfiano "Incense and Iron" exige que alguém da produção, vestido como monge (franciscano talvez) entregue a Attila um insensário. "Para manter nosso exército forte, para manter nosso exército vigilante", diz ele.

"É a primeira vez que fazemos turnê em seu país. Sua acolhida calorosa nós faz sentir em casa", ressalta o vocalista antes de fazer à capella a chamada-resposta, como se fosse uma oração Heavy Metal, do refrao de "Amen & Attack". Mais tarde, enquanto os guitarristas solam, o irriquieto Falk Maria até pega um grande estandarte PW (quase atingindo a cabeça de Attila). O esforço, no calor de Fortaleza, é demais para o magro tecladista, que não aguenta é tira a batina que cobria outra indumentária (também preta é clerica, claro), dando vez a Átilla para comentários jocosos acerca do corpo do tecladista, mas tudo num clima de extrema camaradagem.

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Para "Demons Are a Girl's Best Friend", carro-chefe do mais recente álbum dos lobos alemães, "The Sacrament of Sin", o vocalista pede ajuda principalmente das mulheres. E depois brinca: "Temos letras muito fáceis porque muitas vezes apenas repetimos hoho hoho hoho". Não deixa de ter razão. Das dez canções que tocaram, todas as dez eram fearofthedarkísticas. E ele rege novalente o coro de hoho, explicando as quatro partes de hoho do exército de mortos vivos. E o público bota em prática o que aprendeu em "Armata Strigoi" (Exército dos Mortos-Vivos, na mais estranha das línguas latinas, o romeno).

"Vocês explodiriam por mim, pelo heavy metal, pelo Powerwolf", pergunta ele antes de "Sanctified With Dynamite", momento em que, se fosse o ambiente propício, certamente contaria com alguma pirotecnia. Os apetrechos cênicos ígneos seriam interessantes, mas não fazem tanta falta ao público, já conquistado. Ali havia inclusive pessoas que nunca tinha ouvido a banda licantropa, tinha vindo ao Armazém apenas pelo AMON AMARTH, mas quedava-se irremediavelmente preso ao som da alcateia sacerdotal dali em diante. O estilo é Power Metal, mas é particular. É próprio e único. Attila canta menos agudo e mais lírico como um sacerdote, os teclados soam predominante como órgão de sé, a bateria não soa como metralhadora e, visualmente, eles optam por um corpse paint cinza. O resto é power metal puro.

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O público muitas vezes faz "uuuuu", o que poderia ser confundido com vaias, mas, na verdade são uivos de lobos.

E, além de tudo, ainda há a simpatia de Attila Dorn, que faz questão de comentar cada canção. "Hoje de manhã, acordei no meu hotel, olhei pro meu cobertor e vi uma pequena ressurreição" é um exemplo e "Ressurrection by Erection" é a canção.

O show é curto porém. O POWERWOLF é banda convidada para a turnê, mas não o ato principal. Logo chega a hora da ótima "Werewolves of Armenia", a do Uh-AH", que, antes, mereceu explicações de Attila sobre como fazer os urros apropriadamente. E chega também a hora de "We Drink Your Blood". Agora ele não precisa anunciar nem reger nada. O público já toma a iniciativa de puxar o coro. Já éramos todos lobisomens.

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AMON AMARTH

Longe das polêmicas, se queríamos ser tupinivikings, tudo o que importava naquela noite para quem quis ir ver o AMON AMARTH subir pela segunda vez ao palco do Armazém, na tropical e boémia Praia de Iracema, era a música. Assim, quando também pontualmente subiram ao palco Johan Hegg, de chifre no cinto, Olavi Mikkonen (guitarra), Ted Lundström (baixo), Johan Söderberg (guitarra) e Jocke Wallgren (bateria) a recepção foi mais calorosa que Surtur.

O show começa com a dobradinha que abre o último álbum, "Berserker", lançado ano passado, "Fafner's Gold" e "Crack The Sky". Depois do carisma do padre lobo, seria impossível não achar um viking beberrão um tanto menos carismático, mas Johan faz questão de iniciar com um grande número de palavras em português. "Boa noite, Fortaleza. Tudo bom. Bem vindo a nossa festa Viking" (SIC), diz o barbudo na língua do minúsculo país da peninsula ibérica ates de continuar no anglo-saxão falando que "era bom estar de volta" e convidando para um banquete naquela noite. Banquete só se for de sangue, porque é isso que traz "First Kill". E é como se o Armazém fosse o salão do Earl nos primeiros cinco capítulos da série do History Channel. Seguidamente, Mikkonen e Soderberg fazem a parede sonora perfeita para o funeral de um guerreiro viking na belíssima "Runes to My Memory".

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Sem piedade os guerreiros escandinavos mandam "Death in Fire" e a excelente "Deceiver of The Gods". Se o AMON AMARTH tivesse criado apenas uma música, essa, já seria suficiente para que fôssemos fãs deles. O peso ainda aumenta com "Asator". E ao público não restou escolha senão botar mais energia no mosh.

Apesar de não se valer de toda a conversa de Attila, Johan costumeiramente citava urrando um trecho da próxima canção, como "The Fate of Norns Awaits Us All", da canção que dá nome ao álbum de 2004. Ou fazia um breve comentário. "Está é uma canção sobre dar tudo de si não importando as probabilidades. É o jeito dos vikings", antes da muito aplaudida "The Way of Vikings".

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Encare o inimigo de frente.

Mostre seu poder para já o amedrontar e ganhar metade da batalha.
E vá pra cima dele.
Sem medo.

É com isso que se parece uma canção do AMON AMARTH. E cada intro parece mesmo a preparação pra uma batalha. Aquele momento da encarada antes da peia comer. E podem criticar à vontade. Show do Amon Amarth, seja onde for, vai ter o barquinho Viking. E velhos, como este que vos escreve, vai entrar no meio da molecada e remar com eles em "Raven's Flight". Não dá pra fugir. E na hora de levantar, mais de um dos companheiros oferece a força de seu braço.

Segue o show com "Shield Wall", "Guardians of Aasgard" e moshes violentos. E na hora do skol em "Raise Your Horns" o pessoal queria era fazer o barco viking de novo.

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Faltava ainda o Wall of Death. E ele vem em "The Pursuit of Vikings", já no bis. A gente até cai, mas logo vê um braco amigo de alguém que a gente nunca viu na vida pra ajudar a levantar. E o crespúsculo do Deus do Trovão pôs fim a mais uma noite Viking no calor do Ceará, como aquela de 3 de junho de 2017 (resenha abaixo), como aquela de algum dia em 2022 ou 23. Iremos cantar canções vikings tupinivikings e muito death metal enquanto aguardamos.

Agradecimentos:
Liberation e Ultimate Music Press, pela atenção e credenciamento.

Setlists

Powerwolf

1. Fire and Forgive
2. Army of the Night
3. Incense & Iron
4. Amen & Attack
5. Demons Are a Girl's Best Friend
6. Armata Strigoi
7. Sanctified With Dynamite
8. Resurrection by Erection
9. Werewolves of Armenia
10. We Drink Your Blood

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Amon Amarth

1. Fafner's Gold
2. Crack the Sky
3. First Kill
4. Runes to My Memory
5. Death in Fire
6. Deceiver of the Gods
7. Asator
8. The Fate of Norns
9. The Way of Vikings
10. Valhall Awaits Me
11. Raven's Flight
12. Shield Wall
13. Guardians Of Asgaard
14. Raise Your Horns
15. The Pursuit of Vikings
16. War of the Gods
17. Twilight of the Thunder God

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Sobre Leonardo Daniel Tavares da Silva

Daniel Tavares nasceu quando as melhores bandas estavam sobre a Terra (os anos 70), não sabe tocar nenhum instrumento (com exceção de batucar os dedos na mesa do computador ou os pés no chão) e nem sabe que a próxima nota depois do Dó é o Ré, mas é consumidor voraz de música desde quando o cão era menino. Quando adolescente, voltava a pé da escola, economizando o dinheiro para comprar fitas e gravar nelas os seus discos favoritos de metal. Aprendeu a falar inglês pra saber o que o Axl Rose dizia quando sua banda era boa. Gosta de falar dos discos que escuta e procura em seus textos apoiar a cena musical de Fortaleza, cidade onde mora. É apaixonado pela Sílvia Amora (com quem casou após levar fora dela por 13 anos) e pai do João Daniel, de 1 ano (que gosta de dormir ouvindo Iron Maiden).
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