Muse: Arrebatadora, banda conquista São Paulo com bombardeio audiovisual
Resenha - Muse e Kaiser Chiefs (Ginásio do Ibirapuera, São Paulo, 09/10/2019)
Por Fernando Yokota
Postado em 12 de outubro de 2019
Com sua apresentação alterada para o Ginásio do Ibirapuera (que anteriormente recebera shows do Weezer, Dave Matthews Band, Nickelback e Black Eyed Peas, todos igualmente oriundos da programação do Rock in Rio), o Muse trouxe o show que promove seu último lançamento, Simulation Theory para São Paulo aproveitando sua passagem pelo Rock in Rio. A mudança para um lugar menor, ainda que por força da procura aquém do previsto, acabou sendo um dos motivos conspiraram para que a banda inglesa protagonizasse uma das grandes noites musicais do ano.
A menor capacidade do local permitiu uma maior proximidade do público com o palco e trouxe um clima mais intimista à apresentação. A banda, contudo, não poupou na produção, trazendo pela primeira vez praticamente a mesma produção com a qual circula em palcos europeus e na América do Norte. Luzes, dançarinos, figurantes, telão de alta definição e (muitas) câmeras operaram a mágica de transformar o Ginásio do Ibirapuera no Wembley Stadium por duas horas.
Com o clima de rock de arena determinado pelo direcionamento da última metade de sua discografia, o repertório faz cada vez menos menções aos primeiros discos da banda. É uma pena, pois a raiva e angústia viscerais da crueza do início da carreira dão espaço às incursões cada vez mais profundas de Matt Bellamy e seus associados na música pop contemporânea. Músicas como Pressure e Something Human, ainda que tenham seu valor pela tentativa de desbravar novos territórios, ficam empalidecidas frente ao furacão de emoções (e timbres monstruosos de guitarra) de Plug-in Baby ou Hysteria. A parte mais pesada do show ficou basicamente confinada num medley quase no fim do show, com números obrigatórios como Stockholm Syndrome e New Born se acotovelando com temas mais novos como The Handler e Reapers, e o grand finale com a monstruosa Knights of Cydonia.
Se na versão de estúdio a cozinha, formada pelos excepcionais Chris Wolstenholme e Dom Howard, fica enterrada no coquetel sônico de timbres retrô de sintetizadores oitentistas (o tema é fortemente presente na turnê, começando pela arte do álbum, assinada por Kyle Lambert, da série Stranger Things) e sonoridades que flertam com o R&B e o trap, ao vivo eles são capazes de romper o verniz excessivo do álbum, trazendo equilíbrio a uma dicotomia orgânico x eletrônico que, em estúdio, pende pesadamente a esse último.
É claro que o som é o mais importante e, nesse quesito, a proficiência musical da banda não decepciona, mas um Romeu e Julieta não se faz apenas com queijo. Da mesma forma, um show do Muse não é completo sem o lado visual e, pela primeira vez, os fãs brasileiros puderam testemunhar a apresentação em toda sua glória. Chuva de confete, muitas luzes, dançarinos, projeções misturadas a captações impecáveis de imagens, pianos que surgem do chão e um boneco gigantesco surgindo por trás do palco (fãs do Iron Maiden conhecem há décadas o efeito catártico disso) formam uma overdose de informação visual que engole o fã para dentro do palco. A cereja do bolo na noite foi a apoteótica cúpula do Ginásio do Ibirapuera, naturalmente harmonizando com a estética futurista da apresentação. Num show do Muse, o entretenimento definitivamente é compulsório.
Ao final de duas horas de uma enxurrada de música e informação visual, ficam algumas perguntas. No contexto atual do mundo, em que o real e o fantasioso são intencionalmente fundidos num caldo de confusão coletiva, o velho coringa lírico das teorias da conspiração empregado por Bellamy chegou ao ponto do esgotamento, mesmo que envelopado na agridoce mistura de guitarras com R&B, trap e música eletrônica. No lado musical, o próprio Bellamy não esconde que a direção a ser tomada é a de aparar parte dos exageros estéticos dos quais a banda vem lançando mão na última década, voltando a dar mais ênfase ao lado mais orgânico da banda. Que tal decisão, entretanto, não se volte para o extremo oposto criativo, partindo para a "solução Rick Rubin" de tentar ser uma cópia de si próprio (o 13 do Black Sabbath ou o Death Magnetic do Metallica são exemplos caricatos), mas pode ser um passo necessário pois o Muse flerta perigosamente com a grandiosidade. Para evitar que se torne uma estrela gigante que cresce ao ponto de não caber mais em si própria, repensar o direcionamento criativo é um passo vital para a banda não acabar como um buraco negro criativo.
Kaiser Chiefs
A abertura da noite ficou a cargo dos Kaiser Chiefs, chamados na última hora para a dura tarefa de abrir os shows do Muse durante o restante do trecho sulamericano da turnê. Os ingleses de Leeds, no entanto, são incapazes de fazer uma apresentação ruim, e abriram caminho com um repertório curto e forrado de hits. Liderada pelo hiperativo Ricky Wilson, a banda fez mais uma excelente apresentação na cidade com velhos sucessos, como I Predict a Riot, The Angry Mob e o carro-chefe Ruby.
Setlist do Muse:
Algorithm
Pressure
Psycho
Break It to Me
Uprising
Propaganda
Plug In Baby
Pray (High Valyrian)
The Dark Side
Supermassive Black Hole
Thought Contagion
Interlude / Hysteria
Showbiz
The 2nd Law: Unsustainable
Dig Down
Madness
Mercy
Time Is Running Out
Prelude
Starlight
Algorithm
Stockholm Syndrome / Assassin / Reapers / The Handler / New Born
Knights of Cydonia
Setlist do Kaiser Chiefs:
People Know How to Love One Another
Everyday I Love You Less and Less
The Factory Gates
Ruby
Hole in My Soul
Record Collection
Never Miss a Beat
I Predict a Riot
The Angry Mob
Oh My God
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