Scorpions: Minha primeira vez!
Resenha - Scorpions (CFO, Fortaleza, 08/09/2016)
Por Pedro Henrique Aragão
Postado em 30 de outubro de 2016
Imagine aquela mulher que você sempre desejou, de repente ela estava ali pra você; mas não só tesão, imagine aquela mulher com quem você queria viver, de repente ela estava ali. Há momentos realmente marcantes na vida, momentos que sintetizam todo um sentimento guardado. Bem, a primeira vez que fui a um estádio, a primeira vez que vi o Bahia ou o Vasco da Gama, o primeiro beijo, minha filha me chamando de pai; momentos que te tornam crianças maravilhadas e deslumbradas, sem chão e sem muita noção de realidade. Foi preciso exemplificar tudo isso, para que vocês possam compreender minha emoção ao presenciar o espetáculo do Rock n'Roll, meu primeiro(espero que não o último) show do SCORPIONS.
Tudo começou, quando... quando há muito tempo, numa época que pirateávamos via fita cassete, me chamou a atenção uma balada. Todas essas coletâneas - principalmente as trilhas de novelas - vendidas em feiras tem várias bandas clássicas com suas baladas, acreditem ou não, já ouvi em plena Chapada Diamantina, Behind Blue Eyes do The Who, e não era versão da Calcinha Preta. O que eu escutei? Still Loving You! Nesse tempo as rádios baianas tocavam Rock, nem que fosse só as baladas, com estranha frequência. O tempo passou, eu não sabia qual banda tocava aquela canção, a internet no início dos anos 2000 era mais lenda que realidade, ainda mais para uma família humilde. Mas o tempo passou, as coletâneas migraram para os DVDs, DVD pirata naquela época tinha qualidade, pois era copiado do original e não da internet. Minha mãe comprou um tal de Flashback, tinha Eagles, Bon Jovi, Bee Gees, ABBA, Dire Straits, A-Ha, e, Scorpions, com Send Me An Angel; puta que pariu, que clipe diferente, que ousadia tocar no alto das rochas. Acabei comprando pouco tempo depois o Acoustica, maravilhoso projeto dos alemães. Esse disco fez tanto sucesso em meu bairro, que o DVD rodou de mão em mão, até meu pai gostou; ele era músico profissional, não gostava muito de Rock (com exceção das lendas do anos 60 e de Alice Cooper), dizia que muito guitarrista era mais efeito que propriamente habilidade, mas quando viu Mathias Jabs solando no violão... se apaixonou.
Eu não sabia o que era Rock, então fui procurar, achei uma coletânea de baladas do Scorpions, e fiquei me perguntando se Rock era aquilo. Até que... caiu em minhas mãos, graças a um amigo que gravou pra mim, Live Bites. Minha cabeça explodiu! O Rock n'Roll e o Hard Rock ou Heavy Rock ou Heavy Metal, tinham me conquistado de vez. Encontrei um som que me completava, e que incrivelmente meu pai gostava. De lá para cá, baixei todos os discos, menos Eye to Eye (eca!), procurei saber tudo da banda e me identifiquei. Caras que não eram pra dar certo, tocando um estilo "marginal", em uma língua estranha e que vieram a fazer sucesso depois de longos anos, não no primeiro, segundo ou terceiro disco. E o show porra? Tinha que mostrar esta trajetória, para que você, rocker, entenda meu sentimento.
Já tive a oportunidade de ver o Mötley Crüe e o Metallica no Rock in Rio, e soube que o Aerosmith viria para o Recife, fiquei em estado de êxtase, mas... Sabia que o Scorpions tinham uma lacuna na agenda depois do meio do ano, e sabia que esta lacuna seria preenchida pelo Brasil, então eu esperei e fui recompensado. Apesar de Recife ser mais perto da Bahia, incrivelmente a passagem para Fortaleza estava mais barata (Freud explica!), então rumamos - eu e minha esposa - para o Ceará. Sábia decisão, cancelaram o show do Recife, o Deus do Trovão e do Rock n'Roll estava ao meu lado. Pedi permissão no trabalho e no dia 8 de setembro de 2016, voamos para presenciar a ferroada do escorpião, LÁ ELE!
Como ficamos num hotel distante, deu para perceber Fortaleza. Cidade muito grande, muito urbana como qualquer capital, mas diferente de Salvador, que cresce pra cima, Fortaleza ainda é horizontal e não tem prédios tão altos. O local do show, a novíssima Arena do Centro de Formação Olímpica fica em frente ao também novíssimo (reformado) Castelão, o taxista pensou que seria neste, mas ao ver a multidão de preto defronte o ginásio, não teve mais dúvidas. Era incrível a quantidade de pessoas com camisas do Scorpions, pensei que iria ver mais gente com camisas de outras bandas.
A entrada foi muito bem organizada, filas com treze mil pessoas não são nem um pouco fáceis de controlar. Adentrando no ginásio, muito lindo e bem acabado por sinal, a primeira coisa que percebi foi que falharam na ventilação, uma cidade tão quente quanto Fortaleza merece um espaço melhor ventilado. Comprei o ingresso pra arquibancada superior, uma bela vista(e barata) por sinal. Infelizmente só estavam servindo Budweiser, cerveja ruim e cara, não gosto muito de cerveja e a Bud não me fez mudar de opinião, ainda mais por sete reais a latinha.
Marcavam 21:55 no meu relógio quando as luzes se apagaram, neste show não teve banda de abertura, então meu coração já acelerou, eram eles. Desceram as cortinas e eu pude ver Klaus Meine, Rudolf Schenker, Mathias Jabs, Pawel Maciwoda e Mikkey Dee, a minha banda, a lenda do hard rock, uma das maiores bandas de todos os tempos. Começaram com Going Out With a Bang, a arena veio abaixo, show de luzes, som e Rock n'Roll. No local onde estávamos, a esquerda do palco, o som falhou um pouco e acústica não nos privilegiou, mas nada que estragasse a catarse. A partir daí, não me lembro do repertório, apenas de cantar e vibrar com a maioria das músicas.
Como boa parte do público estava ali pra assistir um dinossauro do Rock pesado, músicas como Dynamite e mesmo Blackout não foram cantadas a plenos pulmões, assim como o medley dos anos 70 (Top Of The Bill, Steamrock Fever, Speedy's Coming, Catch Your Train). Diferente de The Zoo ou Rock You Like a Hurricane e o medley acústico (Always Somewhere, Eye Of The Storm, Send Me An Angel). Wind of Change e Still Loving You foram verdadeiras demonstrações de catarse coletiva.
Salientar a aula de bateria e percussão que é Mikkey Dee, o baterista do Motörhead e agora membro efetivo do SCORPIONS, não poupou sua bateria duma surra sem dó. Com certeza ele é o baterista mais técnico que passou pelo gigante teutônico e fez um solo de bateria que ''acordou'' muita gente, e olha que eu odeio solos de bateria. Contudo, com ele o quinteto fica mais pesado, estou acostumado com a cadência de Rarebell e o groove de Kottak. As guitarras de Rudolf e Mathias continuam em perfeita simetria, Pawel continua competente e Klaus é um show a parte, vale sair e pagar o ingresso de novo.
Depois de uma hora e meia de show, de clássicos, de saudações em português, de Motörhead (no cover de Overkill), duma história de mais de cinquenta anos e mais de cem milhões de álbuns vendidos, chegou ao fim. Sai maravilhado, com a garganta rouca de gritar e cantar, mas ainda apta a conversar, graças aquelas horríveis e caras Buds. Meu sonho havia se realizado com perfeição, todo o tempo e recursos monetários investidos haviam sido recompensado com alegria, o veneno do rock n'roll, o veneno do SCORPIONS.
Mas antes de sair das redondezas da arena, me lembrei de uma coisa e comentei com minha esposa: "Porra, eles não tocaram Bad Boys Running Wild?!". Ao que ela me respondeu: "Larga de ser chato". Voltamos pro hotel e depois para o interior da Bahia, bem mais fãs do que éramos antes.
"Make it Real, not fantasy" SCORPIONS
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