Em Limeira, uma aventura de 12 horas com Marcelo Nova
Resenha - Marcelo Nova (Bar da Montanha, Limeira, 04/02/2012)
Por Xande Capitão
Postado em 21 de fevereiro de 2012
Essa é a resenha do show, mas também poderia se chamar "uma aventura de 12 horas com Marcelo Nova", pois se inicia às 6 da tarde do dia 4 de fevereiro e terminará às 6 da manhã do dia 5.
Todos deveriam estar no condomínio onde mora Marcelo no horário marcado, de onde partiria a van rumo à Limeira, para o show no Bar da Montanha. Com um pequeno atraso, partimos rumo ao interior. Mr. Nova, Drake Nova (filho de Marcelo e guitarrista), Leandro Dalle (baixo - músico e produtor, que toca em vários projetos na noite paulistana), Célio Glouster (bateria - experiente baterista, que também toca num programa da Tv Cultura), Ari Mendes (escudeiro de Marcelo há mais de 10 anos) e eu. Todos à bordo da van do Luxemburgo, o motorista que mais conduziu Marcelo por várias partes do país nos últimos anos. E que você pode conhecer nos extras do DVD Hoje no Bolshoi, que contém um divertido depoimento seu.
Se a montanha não vem até o rei, o rei do rock vai até o Bar da Montanha. E assim fomos.
Ainda dentro de São Paulo Drake comentou que nesse show a banda teria um set list, que não é algo comum para os shows do Marcelo, já que ele conduz os rumos do show conforme vai fluindo. No set teríamos músicas que há algum tempo não eram tocadas. Foi quando Marcelo interrompeu empolgado que haveria também uma nova música apresentada pela primeira vez, com o hilário título de "Ela me trocou por Jesus". Já emendou a cantá-la, para diversão e gargalhada de todos. E anunciou "essa vai ser hit imediato nos shows". Logo em seguida veríamos que ele tinha razão. Coube à mim apenas sentenciar "é por isso que Edir Macedo não te liga pra você tocar na Record". E a viagem seguiu, já ganhando a rodovia dos Bandeirantes.
Entre piadas, histórias, Thin Lizzy, e uma sacaneada entre os passageiros, Limeira já se mostrava acesa. A primeira parada foi o Bar da Montanha, para a passagem de som. A hospitalidade do pessoal do bar e o carregado sotaque do interior marcaram nossa chegada.
Enquanto os músicos trabalhavam no palco tive a oportunidade de conversar à sós com o Marcelo. Apesar de rápido, falamos de coisas muito interessantes. Ele confidenciou que o que mais o motiva é mudar os arranjos de suas canções, e que novas versões seriam apresentadas naquela noite. Também falamos sobre Drake, sua sólida evolução como músico e do seu envolvimento com a obra do Marcelo. Envolvimento que um músico contratado não teria, afinal existe o DNA entre aquelas 6 cordas. Papo interrompido, era hora dele subir para a passagem de som.
Numa banda de palco, de shows, de estrada, como essa, a passagem de som é mais do isso. Não se trata apenas de graves, agudos e retorno. Eles utilizam para trabalhar nos novos arranjos e na nova canção. Como um ensaio. E lá veio a virgem da noite: "Ela me trocou por Jesus". É importante dizer que todos estavam muito empolgados com a qualidade do som, prenúncio de um ótimo show.
Terminada a passagem de som fomos para um hotel, onde o pessoal se arrumou para o show. Rapidamente, voltamos todos pra van, e retornamos pro Bar da Montanha, e agora a expectativa era o jantar. A hora já avançava e a fome era grande. Mas novamente hospitalidade do pessoal tratou de acalmar os estômagos. Carne seca, salada, sanduíches, porções. O pecado da gula se instalou na nossa frente, e parecia não ter fim. Mas como barriga cheia não combina com performance, o pessoal tratou de optar pelo pecado do rock. Certamente era um dos dias mais quentes do ano.
Era hora do show. O público lotava a casa. E que público. Aliás, esse é um assunto complexo. Como o público muda de um show para o outro, de uma cidade pra outra, de uma noite pra outra. O pessoal de Limeira e região veio pra botar pra fudê, literalmente. E seriam prontamente recompensados. Drake, Leandro e Célio sobem no palco e preparam o terreno. Marcelo vem com a guitarra e o trator, atropelando todos à sua frente e plantando a semente. A primeira canção foi "Faça a coisa certa". E já deu pra perceber que a coisa certa era estar ali. Em seguida veio "Hoje", um dos clássicos do Camisa, e pelo nível dos trabalhos atuais de ambos, é simples concluir que não é Marcelo Nova que é ex-Camisa de Vênus, é o Camisa que é ex-Marcelo Nova, como o próprio diria.
"Muito além do jardim" era um sinal que haveria uma incursão por todos seus discos. "Ainda não está escuro" foi adornada com o clima que a letra pede. E que letra. A performance hendrixiniana de Drake, abrilhantou esse clima. Houve uma pequena alteração no set list, e "Cocaína" veio antes de "Eu não matei Joana D´arc", que nessa noite não foi a última canção do show, sendo essa uma das outras novidades que a apresentação traria. Uma outra que os fãs certamente notaram foi que em "Quando eu morri" Marcelo não fez o solo da música, recheado pela microfonia e feed back, numa performance que ele consagrou. Dessa vez optou por oferecer à guitarra ao público e o pessoal foi se espremendo para tocar as cordas da semi-acústica do velho rocker, reproduzindo a cena que virou a capa do DVD Hoje no Bolshoi.
"Ela me trocou por Jesus" foi cantada por todos e divertiu muito. O hit anunciado encontrava o seu destino. Letra divertida e que molesta uma das instituições mais intocadas da humanidade. Uma canção que pode ser colocada ao lado de outras letras divertidas, mas com humor inteligente, entre tantas que ele já escreveu. Provavelmente inspirada em "She left me for Jesus", assim como "Cocaína", também inspirada por uma tradicional canção americana, mas que ganhou vida própria, como tudo que Marceleza produz. Ele já cantava alguns versos de forma incidental, mas desistiu desse formato simbionte. Como assisti o "parto" dessa canção, será interessante vê-la crescer, frequentar a faculdade, e fumar maconha pela primeira vez. Daqui há alguns anos vou dizer "peguei-a no colo".
A versão de "Só o fim", mais lenta do que nas performances mais recentes, foi cantada pelo público de forma espetacular. Mais uma vez, Limeira mostrou como é que se faz.
Mas o fim veio mesmo com "Pastor João e a igreja invisível". Numa versão longa e incansável. Especialmente para a última música do show, ainda mais para um dia tão quente. Um incansável Marcelo Nova desce do palco e deixando um público que ejaculou, mas continuou de pau duro. Foi bom pra você? Era hora de fumar um cigarro e virar para o lado. Errado. Tinha mais trabalho pela frente.
Após o show os fãs puderam comprar com o Ari o CD duplo e o DVD Hoje no Bolshoi. E é bom que se diga, Marcelo Nova atendeu à todos que se prontificaram a falar com ele, pegar autógrafo ou tirar fotos. Já eram 4 da manhã, e a energia alcalina desse homem não tem fim. Adeus Limeira. A estrada de volta à São Paulo chamava.
No retorno à capital foi momento para a tradicional parada num desses postos para um café. Novamente falei bastante com Marcelo. Dessa vez o papo foi cinema. Perguntei sobre "Era uma vez na América". E ele emendou com "Deuses e generais", que havia assistido recentemente.
As 12 horas se completavam. Chegamos ao condomínio do Marcelo, todos se despediram e seguiram pras seus destinos. Peguei o carro e fui pra São Roque, rezando para os santos do rock, pedindo que noites como essa se repitam. E eu sei que serei atendido.
Set list:
Faça a coisa certa
Hoje
Muito além do jardim
Ainda não está escuro
Um bonde chamado desejo
Rock´n roll
Cocaína
Eu não matei Joana D´arc
Beth Morreu
Ela me trocou por Jesus
À ferro e fogo
Quando eu morri
Canção da morte
Simca Chambord
My way
Só o fim
Pastor João e a igreja invisível
PS: um agradecimento especial à Marcelo Nova pela hospitalidade - Capitão
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