Elton John lista e comenta suas músicas preferidas de todos os tempos

Em meados da década de 70, Sir Elton John já era um dos artistas mais populares do planeta.

Notório não apenas como grande cantor, pianista e compositor, mas também por sua excentricidade, ele vem tendo uma carreira tão lôngeva quanto bem sucedida. Assim, mesmo cinco décadas e 31 álbuns depois, ele segue na atividade com aquilo que faz de melhor: frequentar as paradas de sucesso e dar o que falar.

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Em 10 de outubro de 2019, o pianista mais famoso do mundo participou do programa Tracks Of My Years (músicas dos meus tempos, em livre tradução), da Radio BBC 2, onde listou e comentou suas músicas preferidas.

"Heartbreak Hotel"- Elvis Presley
"Great Balls of Fire" - Jerry Lee Lewis
"Lucille" - Little Richard"We Can Work It Out" - The Beatles
"Reach Out I’ll Be There" - The Four Tops
"A Song For You" - Leon Russell
"Think" - Aretha Franklin"The Weight" - The Band
"Whatever Gets You Thru The Night" - John Lennon
"Don’t Give Up" - Peter Gabriel e Kate Bush

"Heartbreak Hotel"- Elvis Presley

Elvis mudou a cara da música. Minha mãe comprava um disco por semana, e ela disse que ouviu aquele na loja e teve que comprar porque nunca tinha ouvido algo parecido. Ela botou para tocar e aquilo mudou minha vida! E aquilo alavancou meu amor pelo rock and roll, mudou o mundo social e musicalmente. Eu ouvi e fiquei: "Uau!". Aquilo parecia algo que tinha vindo de marte.

"Great Balls of Fire" - Jerry Lee Lewis

Eu sou um pianista e cresci bebendo na fonte de nomes como Liberace, Russ Conway, Joe "Mr. Piano" Henderson, coisas assim. Eu estava ouvindo George Shearing, que meu pai gostava, quando eu ouvi pela primeira vez "Great Balls of Fire", do Jerry Lee Lewis. Eu fiquei, tipo: "Nossa, como isso é diferente!" Ele toca o piano de um jeito tão diferente, ele tocava de pé, pulava… Eu ficava pensando que era aquilo que eu queria fazer.

"Great Balls of Fire" mudou tanto minha vida quanto Elvis. Dou graças a Deus por aquilo, que foi o que me permitiu usar o piano de jeitos diferentes. Quando você toca piano, você fica escondido atrás dele. Eu sempre invejei caras como Mick, Rod Stewart e Bowie, cantores que podiam se mover pelo palco e fazer o que quisessem para chamar atenção. Eu costumava usar o piano como um elemento de cena: eu tocava em cima dele, embaixo… só não chutava, porque pode quebrar o pé, não rola. Eu achava frustrante ter que tocar sentado… mas agora, com 72 anos, eu fico extremamente grato por isso! Eu estou na minha fase Ray Charles, e nem ligo!

"Lucille" - Little Richard

Little Richard e Jerry Lee Lewis caíram do céu para mim, porque Little Richard tocava de pé e num estilo vamping [repetição de uma sequência de acordes introduzindo novos elementos]. Ele tinha "Lucille", aquela voz, aquela aparência… Ele foi o primeiro artista negro que eu vi tocando rock and roll, e ele era eletrizante! Eu o amava tanto que tocar com ele no meu álbum "Duets" foi um dos pontos altos da minha vida musical, porque ele era um cantor tão incrível… Sabe, a Little Richard e a Jerry Lee Lewis eu concederia uma Medalha de Honra pelo trabalho deles no piano. Aquilo me influenciou tanto!

"We Can Work It Out" - The Beatles

Eu me lembro que eu estava na escola quando meu amigo Michael Johnson chegou com um [disco de] 45 [RPM] e disse: "Eu acabei de ouvir essa banda, e ela vai ser a melhor banda do mundo!". Era "Love Me Do", eu ouvi e pensei: "Nada mal, nada mal…", mas eu não conseguia imaginar aquela banda se tornando a melhor do mundo. Mas acabou que ele estava certo! Se não me engano, ele foi o número quatro do fan clube [dos Beatles], então ele os enxergou de longe!

Os Beatles eram extraordinários, revolucionaram a forma de gravar música, mesmo com equipamentos rudimentares. Eles experimentaram e escreveram músicas fantásticas. "We Can Work It Out" é uma música tão maravilhosa, e Stevie Wonder ainda fez uma versão incrível dela. Eu não consigo nem imaginar quantas pessoas já fizeram cover de músicas dos Beatles.

Há tantas músicas que eu poderia ter escolhido… Eu estava em Saint Tropez tocando no Papagayo Club quando "Revolver" foi lançado, e aquilo foi muito importante em minha vida, mas eu escolhi "We Can Work It Out" só porque amo a música mesmo.

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"Reach Out I’ll Be There" - The Four Tops

Ela é incrível, simplesmente impressionante. Eu já era fã da Motown, mas essa música era diferente. Eu considero um dos melhores discos de todos os tempos, era uma empolgação enorme, cheia de energia e o jeito como Levi Stubbs canta… Ela foi a minha música naquele verão.

"A Song For You" - Leon Russell

Eu o vi pela primeira vez no Delaney & Bonnie, depois no Mad Dogs, com Joe Cocker. Na primeira vez que toquei nos Estados Unidos ele estava na plateia na segunda noite no Troubadour. Eu o vi e no meio de "Burn Down the Mission", e congelei por uma fração de segundo. Depois ele foi falar comigo e foi tão gentil, ele tinha ficado famoso pouco antes de mim, e tinha acabado de lançar essa música, "A Song For You".

Ele era meu herói no piano, e provavelmente ainda seja, e ele pediu para eu o acompanhar, o que eu achei uma gentileza, já que eu também era pianista. Depois de um tempo perdemos contato, e nos encontramos de novo no álbum "The Union". Eu quis fazer um álbum com ele porque ele havia sido esquecido, e eu queria o trazer de volta aos holofotes. Eu queria que ele fosse membro do Rock And Roll Hall of Fame, e o Songwriters Hall of Fame, e recuperasse o reconhecimento. Tem muitas músicas que eu gostaria de ter escrito, e essa é uma das que estão mais lá em cima.

"Think" - Aretha Franklin

No álbum "Elton John", nós [ele e Bernie Taupin] recebemos uma ligação de um de nossos editores, Dick James, dizendo que Aretha tinha regravado uma música nossa. Imagina nossa surpresa e alegria! Afinal, ela era minha ídola, não apenas como cantora, mas também como pianista. Aonde ela ia eu a mandava uma coroa de flores e dizia que ela deveria tocar mais piano. Ela dizia: "Você acha?", e eu respondia: "Se eu acho? Eu tenho certeza absoluta, você é maravilhosa!"

A última performance dela foi em nossa [Elton John] AIDS Foundation, em Nova Iorque. Eu estava lá do lado de Sheryl Crow e Rosanne Cash, ela estava tocando piano, já nas últimas. Estávamos na frente do palco vendo ela tocar e chorando copiosamente, porque jamais veríamos aquilo novamente.

Eu escolhi essa música porque ela decola. Ela tocando piano e tudo... naquela época se gravava em alguns poucos takes, aquilo era de verdade, sem retoques! E, rapaz, se você não se excitar com uma música dessa, eu só lamento por você!

"The Weight" - The Band

[Essa música, por algum motivo, Elton John colocou na lista, mas não comentou no programa.]

"Whatever Gets You Thru The Night" - John Lennon

Nessa música John me pediu para tocar, em Nova Iorque. Ele já a tinha feito, e me pediu para tocar e cantar nela. Eu aceitei, é claro, mas falei de brincadeira que se ela chegasse ao topo das paradas, ele teria que tocar comigo ao vivo — e ele topou.

A gravação foi boa, eu estava tão nervoso de tocar nela, mas ficou muito, muito bom. Depois eu tive dificuldades para cantar também, porque quando alguém canta, tem seu jeito próprio de frasear. Como ele já tinha gravado, tive que ser preciso. Mas foi uma ótima sessão! E divertida também. Tudo com John era divertido.

A música acabou chegando ao topo das paradas e John tocou comigo no Madison Square Garden, na noite de Halloween. É uma das maiores recordações da minha vida a hora que ele entrou no palco, a forma como ele foi ovacionado foi inesquecível! Todos nós ficamos com lágrimas nos olhos quando ele subiu no palco. Eu amei ser amigo dele durante o pouco tempo que tivemos até sua morte. Eu jamais imaginei que uma relação com John Lennon pudesse ser tão amigável… foi mágico!

"Don’t Give Up" - Peter Gabriel e Kate Bush

Essa música me lembra a época que eu estava no fundo do poço do desespero do meu vício. Eu costumava botar essa música para tocar e ficar sentado chorando, dizendo para mim mesmo: "Eu não vou desistir! Um dia eu vou ficar bem, um dia eu vou ficar bem…"

Peter Gabriel é um dos artistas mais incríveis, Kate Bush, idem — os dois juntos é covardia! A música é linda, é do disco solo do Peter. Quando as pessoas mencionam os grandes artistas britânicos, às vezes se esquecem de Peter Gabriel. Ele está tão lá em cima! Era tão inovador, e não só em suas gravações com o Genesis, mas também solo. Pra mim ele é de fato um dos grandes britânicos e um inovador, tipo Damon Albarn, do Blur, ele faz tantas coisas diferentes…

Graças a Deus eu não fico mais chorando ouvindo essa música, mas ela ainda me lembra daqueles dias sombrios, e a determinação para não desistir.