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Metallica: "Triste, mas verdadeiro" ou "Nada mais importa"?

Resenha - Metallica (Morumbi, São Paulo, 30/01/2010)

Por Daniel Dystyler
Fonte: Arena Heavy
Postado em 07 de fevereiro de 2010

Por volta de 1780, um americano chamado Charles Lynch comandou uma série de incidentes durante a Guerra de Independência dos EUA: Sem nenhuma autorização ou poder instituído, ele criou uma espécie de Suprema Corte Ilegal que prendeu, julgou e condenou diversos americanos sob a acusação de serem leais aos britânicos.

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As sentenças e punições incluíam a tomada de todas as posses e propriedades dos acusados, chicoteá-los e algumas vezes, a pena máxima (seja por enforcamento ou de outras maneiras).

Alguns anos depois, essas ações ilegais de Charles Lynch foram legitimadas por uma Assembléia no Estado da Virginia e as pessoas passaram a referir-se a elas como sendo decorrência da Lynch's Law (em português, "Lei de Lynch"). O termo evoluiu para Lynchism que é a palavra usada até hoje para retratar uma execução, em geral feita por uma multidão, sem procedimento judiciário legal. Em português, acho que todos conhecem a palavra: Linchamento.

Bem, esses 3 parágrafos iniciais são para tentar explicar de uma maneira técnica o que possivelmente vai acontecer comigo, exatamente daqui a 2 frases, logo após o parênteses que segue aqui embaixo. (antes, espero que alguém, ao menos, tente ler tudo até o final... Lá vai...)

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Eu fiquei decepcionado com o show do Metallica em São Paulo neste sábado.

Se você é um dos poucos que (ainda) não parou de ler o texto pra ir direto pros comentários, vestindo uma camiseta "Charles Lynch estava certo" pra me linchar, aqui vai a minha tentativa de explicar o inexplicável.

Primeiro de tudo, quero dizer que eu não sou dessas pessoas exigentes que fica falando mal de qualquer coisa, só por falar, principalmente das coisas legais.

Aliás, muito pelo contrário: Não consigo me lembrar de nenhum outro show de banda "grande" que eu não tenha simplesmente adorado. E olha que a lista de shows que presenciei ao vivo é de respeito: Iron Maiden 6x, Metallica 3x, Ozzy 2x, Faith No More 2x, Bon Jovi 2x, AC/DC, Black Sabbath, Kiss, Guns 'N Roses, Queensryche, Scorpions, Alice In Chains, Ramones, Red Hot Chili Peppers, Soundgarden e por aí afora. Todos esses foram shows que eu saí "nas nuvens", com a sensação de ter presenciado magia pura.

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Se for pra me rotular de alguma coisa, é mais fácil eu ser um "Maria-From-Hell-Vai-Com-As-Outras" que gosta de tudo, do que o contrário.

E eu adoro o Metallica. "James e Lars" (junto com o Iron Maiden) estão no topo das minhas preferências pessoais. São essas 2 bandas que me acompanham por mais de 25 anos. E a sensação que eu tenho é essa mesma: Eles me acompanham. Não sou eu que acompanho as bandas. São as músicas criadas por eles, verdadeiras obras-primas, que estão presentes em todos os momentos da minha vida desde que eu tinha 14 anos. Plagiando uma rádio de São Paulo, eles fizeram e fazem a trilha sonora da minha vida.

Eu tenho plena consciência que sou eu que devo estar errado nesta história. Afinal já li inúmeras matérias em Sites, Jornais, Blogs e não vi absolutamente ninguém falar mal do show de sábado. Muito pelo contrário: Só tem elogios e admiração. Êxtase e comunhão no Morumbi.

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Mais do que isso: Conversei com 3 amigos meus (que confio muito no gosto musical), que viram o show de 3 setores diferentes do meu: Um ficou na Arquibancada Vermelha, outra na Cadeira Superior Laranja e o terceiro na Pista Vip. E os 3 adoraram o show.

Dito essas 3 coisas, que (a) em geral eu adoro todos os show que fui, (b) que eu amo o Metallica e (c) que eu sei que aparentemente todo mundo gostou do show, vou tentar explicar o porquê da minha frase "Eu fiquei decepcionado com o show do Metallica em São Paulo neste sábado". Mas não vai ser fácil.

Aqui vai:

Eu sentei na Arquibancada Especial Vermelha. Qualquer pessoa que já foi na Arquibancada do Morumbi sabe que é alto e longe. Não dá pra olhar o palco e distinguir com clareza o que está acontecendo. É muito longe e com isso o pessoal no palco fica muito "pequeno". Então os telões fazem uma composição visual fundamental pra quem está a uma distância dessas do palco.

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Pois bem, do meu lugar, além de não distinguir direito as pessoas no palco, também não dava pra enxergar o enorme telão de altíssima definição que ficava no fundo do palco atrás da bateria. Diferentemente dos meus amigos que dos 3 setores que eles estavam, conseguiam ver esse super telão. Eu não conseguia, pois só consegue quem está de frente (ou quase) uma vez que o telão fica mais pro fundo do palco e a estrutura lateral encobre a visão.

Restavam então os telões menores que ficavam nas 2 laterais do palco. Exatamente em cima desses 2 telões, foram instalados os minibruts (lâmpadas brancas, bem fortes, que iluminam o público na pista). Quando os minibruts eram acionados (tipo, toda hora), a sensação de olhar pros telões era a mesma que tentar ver TV com o sol batendo direto na tela. Reflexo, branco, sombra, enfim, não dá pra ver nada. E esses minibruts eram acionados simplesmente toda hora.

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Só pra efeito de comparação: No show do AC/DC, eu sentei no mesmo setor e os 2 telões laterais eram espetaculares. Dava pra ver tudo. No Metallica, não vi nada.

Pra quem quiser tirar a dúvida, segue o link de "Sad But True", filmado de um setor parecido com o que eu estava (na verdade, até um pouco melhor), com os minibruts em ação, como aconteceu durante praticamente o show inteiro.

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Não dá pra ver nada nos telões laterais. Aliás, desse ângulo e dessa distância não dá pra ver nada em lugar nenhum. A salvação era o super telão atrás da batera que eu não conseguia ver.

Exemplos na rede não faltam. Mais 2 só pra ilustrar: link 1 e link 2.

Bem, se os telões aonde eu tentava enxergar alguma coisa eram ridículos para a grandiosidade do Metallica, a qualidade do som (ao menos do lugar que eu estava), não ajudou muito também.

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Eu conseguia ouvir razoavelmente as guitarras, embora sem nenhuma definição e o vocal. E só. O resto era uma massa sonora sem distinção principalmente a bateria que nas partes rápidas fazia tudo ficar totalmente embolado.

Tanto que as músicas lentas ("Fade To Black", "One", "Nothing Else Matters", o comecinho de "Blackened" e a parte do meio de "Master Of Puppets"), foram as únicas partes do show que eu consegui distinguir tudo com clareza. O resto do tempo, tudo muito embolado. A sorte é conhecer (e adorar) as músicas. Senão...

Acho que até mesmo os fiéis seguidores de Charles Lynch devem concordar comigo que qualquer show ficaria "meio prejudicado" se você não consegue nem enxergar, nem ouvir direito (o "meio" é irônico).

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Dá pra imaginar alguém dizendo "Fui num show muito legal. Só não consegui ver nem ouvir nada" ? Soa meio ridículo.

Talvez numa Festa de Peão ou num Festival de Axé, a frase acima possa fazer algum sentido (afinal quanto menos você ver e ouvir, mais legal será o show)(:-D), mas não tem como falar isso num show que você espera por meses e vai com a expectativa "lá em cima" já que trata-se de uma das maiores bandas do Planeta.

É uma pena, mas pra mim, foi isso que aconteceu... Uma decepção.

Sobre a performance do Metallica, acho que eu não sou a pessoa mais apropriada pra comentar (já que não vi nem ouvi direito)(:-D), mas dá pra saber que o Metallica é realmente uma banda única porque só o Metallica, mesmo com todos esses problemas técnicos de estrutura de show, conseguiria gerar lembranças que vou levar pra sempre. Por exemplo:

  • o estádio inteiro gritando "Die! Die! Die!" nos backings de "Creeping Death";
  • a execução maravilhosa de "Fade To Black" que esteve perfeita;
  • as labaredas de fogo no refrão de "Blackened" (quando o James canta "Fire !");
  • os fogos de artifício no começo de "One" e a parte visceral no final com as luzes brancas tipo strobo;
  • o estádio inteiro cantando o solo lento de "Master Of Puppets";
  • e finalmente "Seek & Destroy" com todas as luzes do estádio acesas pra todos (fãs e banda) verem com clareza a grandiosidade do Metallica.
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E a pergunta que não quer calar dos seguidores da Lei de Lynch: Com todas essas coisas legais, como eu (Daniel) ainda me atrevo a dizer que o show foi decepcionante ?

A resposta é simples: Da maior banda do planeta, eu esperava tudo isso e muito mais.

Acho que tive azar em relação ao setor do estádio. Mas agora já era. Ficou o gostinho de ter visto menos do que eu queria e ouvido menos do que eu esperava. E a estranha sensação que eu não fui "de verdade" no show do Metallica. Daí, a minha decepção.

Foi por conta disso que no dia seguinte (domingo) fiquei na maior indecisão se eu devia pegar o carro, dirigir os 100Km da minha casa até o Morumbi pra assistir o show de novo já que ainda haviam ingressos disponíveis pra vários setores.

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A dúvida foi tanta que só às 5 da tarde decidi não ir porque o meu joelho direito, 40 dias pós-cirurgia já estava (ainda está, na verdade) do tamanho de uma bola de futebol por conta do esforço no sábado e acho que se eu fosse no domingo, ele (o joelho) ia explodir... (um abraço pro Rafael e Fabio da Cliniti, os fisioterapeutas que vão ter mais trabalho comigo e com o meu joelho)(:-D)

Uma última coisa que não teve nada a ver com a minha decepção, mas acho que vale o registro:

Em todos os setores do estádio, havia aquelas lojinhas vendendo os produtos oficiais (camisetas do Metallica, etc), como acontece em qualquer show, menos no setor que eu estava (Arquibancada Vermelha Especial), cujo ingresso era 15% mais caro que a Arquibancada comum. Mais um desrespeito com quem ficou a madrugada inteira pra conseguir comprar ingressos (comigo aconteceu no AC/DC, mas vale o argumento) e ainda pagou mais caro.

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Conseguimos comprar as coisas da lojinha oficial graças à coragem de um amigo (Vitor) que estava no mesmo setor que eu e à paciência de outro amigo (Érico) que estava em outro setor: Vitor foi até a divisão dos setores e jogou a sua máquina fotográfica por cima da divisa pro Érico (depois de terem combinado a manobra, por celular). Érico foi até a loja fotografar tudo, voltou até a divisa e jogou a máquina de volta pro Vitor. Escolhemos os produtos olhando fotos, mandamos o dinheiro por cima da divisa pro Érico que foi novamente até a loja comprar os produtos. Ao voltar ele jogou tudo pra gente, de novo, por cima da divisa.

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Não deixa de ser engraçado e ficou mais uma história pra ser contada, mas no final das contas a mensagem que fica é:

Como dá trabalho gastar dinheiro com esse pessoal que organiza eventos!!! Dá trabalho pra comprar o ingresso, pra comprar camiseta, pra entrar no estádio... A gente quer gastar, mas dá trabalho !!! Ainda bem que eles continuam "nos fazendo o favor" de nos deixar continuar gastando nosso dinheiro com eles, mesmo que isso nos dê um incrível trabalho...

Já pensou se aparecesse alguma empresa muito revolucionária que nos tratasse como,... sei lá,... clientes ? Acho que seria muito futurista e revolucionário.

Voltando ao Metallica e pra encerrar o post com uma ligação direta com o título do texto, tenho um amigo que escreveu que "no final das contas, era o Metallica em São Paulo e que nada mais importa (Nothing Else Matters)".

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Eu até faria uma brincadeirinha com ele dizendo que "o show pra mim foi triste, mas verdadeiro (Sad But True)" (:-D), mas beleza, tá valendo:

O Metallica é o Metallica. E nada mais importa !!!

Espero que eles voltem logo.

Aí, pista VIP vai ser pouco pra mim... (:-D)

Set List:
Creeping Death
For Whom The Bell Tolls
The Four Horsemen
Harvester Of Sorrow
Fade To Black
This Was Just Your Life
The End Of The Line
The Day That Never Comes
Sad But True
Broken Beat Scarred
One
Master Of Puppets
Blackened
Nothing Else Matters
Enter Sandman
(Bis)
Stone Cold Crazy
Motorbreath
Seek & Destroy

Matéria: Daniel Dystyler - Arena Heavy

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Sobre Daniel Dystyler

Daniel Dystyler começou sua paixão por música ainda criança ao conhecer os Beatles. Mas a vida mudou completamente quando escutou pela 1ª vez os acordes do Iron Maiden. A partir daí, e por mais de 25 anos, o gosto por Heavy Metal foi só aumentando. Daniel foi roadie do Viper de 1986 a 1991, período que incluiu o lançamento dos álbuns "Soldiers of Sunrise" e "Theater of Fate". Atualmente se diverte tocando guitarra com seus amigos na banda "Number One" e é o coordenador do Festival "Kaizen Rock" que acontece em Outubro e que entre outros benefícios, gera receita para 2 entidades que auxiliam crianças e adolescentes carentes.
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