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Paul McCartney: Review do show no Madison Square Garden

Resenha - Paul McCartney (Madison Square Garden, New York, 26/04/2002)

Por Márcio Ribeiro
Postado em 26 de abril de 2002

O show de Paul McCartney, realizado sexta-feira, dia 26 de Abril de 2002, no Madison Square Garden, poderia ser analisado por vários enfoques. Acompanho a sua carreira a maior parte da minha vida, como acredito o fazem vários dos que estão agora lendo. Mas não queria escrever como fã. Texto de fã para fã é muito legal e acredito que se encontrarão muitos pela net. Quero tentar me distanciar deste ângulo.

Desde o falecimento de John Lennon, vejo Paul McCartney sistematicamente fazendo seus shows revolverem em torno de sua carreira de ex-Beatle, mais do que de sua carreira de ex-Wings ou carreira solo. Creio que quando ele esteve no Brasil na década passada, esta questão de repertório estava equilibrada. Hoje em dia este equilíbrio se foi. Fiquei parcialmente surpreso pela falta de canções promovendo o novo álbum. Mais surpreso fiquei em perceber que da sua carreira solo, ou seja, músicas da década de oitenta para cá, houveram somente seis: quatro do novo disco - Lonely Road, Freedom, Driving Rain e mais Vanilla Sky (que não está no disco mas é recém lançada). As outras duas foram Coming Up (80) e Here Today (82). Todo o resto do show foi calcado nas suas duas ex-bandas, Beatles - com vinte e duas canções, e Wings - representado por apenas oito canções.

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Em quê implica a escolha do repertório com grande quantidade de músicas mais antigas? Bem, o fato deixa uma pergunta no ar sobre o quanto Paul está levando a sério suas composições atuais. Aliás, a falta de material de oitenta para cá chega a levantar uma pergunta sobre quanto ele considere sua carreira depois de Wings. A maioria dos seus discos depois de Tug of War realmente ficam aquém do que se poderia esperar. Mas há excessões, deixadas de lado nesta excursão.

Quanto à excursão Drivin' USA, dizem que será sua última grande excursão mundial, com datas marcadas para América, Canadá e Europa. Não se sabe ainda se haverá um braço desta excursão para a America do Sul e no momento esta hipótese não parece muito promissora. Comenta-se que pela sua idade, outra excursão mundial é pouco provável. É tudo muito lógico e coerente, porém é tudo só papo por enquanto. Pode até ser verdade. Mas...

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Vendo Paul McCartney no palco hoje, pude tirar qualquer imagem de um homem cansado de guerra querendo descansar e envelhecer quieto no seu canto. Paul é um entertainer. Ele não é mais um guri, claro que não. Não se espera dele sair de um show e emendar festas a noite toda. Mas no palco, durante quase três horas de atividade, Paul McCartney vale o preço do ingresso. Mesmo um ingresso custando acima de $100 dólares (o preço mais barato foi de $80 dólares, lá, lá, lá em cima).

Tudo bem que as canções do seu repertório todos nós conhecemos. São os clássicos dos Beatles, vários dos quais os mesmos das últimas duas vezes que ele saiu em excursão. Yesterday e The Long And Winding Road são duas por exemplo que estão no seu repertório desde o fim dos Beatles. No caso do Paul McCartney, ex-Beatle Paul, não há nenhum mal nisso. Diria que a esmagadora maioria do público em todos os shows ficariam desapontados se ele não tocasse Yesterday. Você não concorda?

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Há também os clássicos dos Wings, que infelizmente neste show foram poucos. Mas este é o problema deste compositor de mega-hits em quantidade ímpar. Ele poderia ter tocado outra hora inteira só com mais clássicos destas duas bandas, tamanha a quantidade de repertório que ele tem para nos oferecer.

O que precisa ser destacado aqui é que Paul McCartney está cantando perfeitamente. A voz está inteira, o show inteiro; sem falhas. Se ele está envelhecendo, é na imagem, não na voz. Que sorte a nossa.

É um luxo poder assistir e ouvir todos estes clássicos sendo tocado ao vivo hoje em dia com o autor mantendo sua voz de vinte, trinta, quarenta anos atrás. Se por mais nada, este fato sozinho valeria o ingresso. Mas existe mais para a apresentação do Paul do que apenas a voz. No set que compreende trinta e quatro canções, Paul toca baixo (Hofner), piano (de cauda), teclados e guitarra (Les Paul), mostrando habilidade e competencia nos quatro instrumentos.

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Agora falando de sua banda. Com Paul temos seu velho tecladista de sempre Paul Wix Wickens, que em Can't Buy Me Love também tocou violão. Nesta canção, Wix ficou feliz em anunciar ser este seu show número 400 com Paul McCartney. Na guitarra principal, o americano Rusty Anderson, que já tocou com outras feras como Elton John e Santana. Seu trabalho é muito bom e em certos casos (My Love) decorou bem o solo original. Na outra guitarra, alternando com Paul no baixo, o jovem Brian Ray que tocara na banda de Etta James pelos últimos quatorze anos. Por último, o que na minha opinião foi em termos de instrumentista, um show dentro do show, o baterista Abe Laboriel, um jovem rapaz de físico obeso, me deixou de queixo caída pela forma (física e energética) como se distribuiu pela bateria. Sem mudar a textura geral das músicas que todos nos conhecemos e amamos, ele tocou uma bateria bem mais exigente musicalmente do que as encontradas nas versões originais. Não é surpresa que o obeso magnânimo tem em seu currículo passagens pelas bandas de Steve Vai e Seal.

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Sem querer me estender, falando música por música, quero dizer que no geral, todas as canções foram muito bem apresentadas. Something no cavaquinho que os americanos conhecem via Havaí pelo nome de ukulele, ficou mais como uma curiosidade do que uma afirmação musical. George gosta do instrumento e tudo passou como uma homenagem. Foi em Something o primeiro momento que a casa toda cantou junto. A mágica iria se repetir em Fool On The Hill e Hey Jude também. Destaque para o reggae C Moon, obscura canção lado B do compacto de 1972, Little Woman Love. Esta é a segunda vez que a canção entra no repertório, a primeira em 1973 fazendo parte do especial para televisão James Paul McCartney.

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Junto ao show, vários telões apresentando imagens simultâneas com as canções. Muita coisa reaproveitado do filme feito por Dick Lester que vimos na sua primeira apresentação no Maracanã. No final do show, com extrema elegância, Paul destaca a importância, e solicita o público a agradecer pelo trabalho da equipe de som e luz.

Paul McCartney usando um cabelo mais curto do que meu pai não é mais a imagem "hip", da moda, que ele já foi no passado. Mas com certeza, suas apresentações ao vivo continuam valendo a pena. Se tiver alguma chance, vá assistir.

Repertório

Hello Goodbye
Jet
All My Loving
Getting Better
Coming Up
Let It Roll
Lonely Road
Drivin' Rain
Blackbird
Every Night
We Can Work It Out
Mother Nature's Son
Vanilla Sky
You Never Give Me Your Money
Carry That Weight
Fool On The Hill
Here Today
Something
Elanore Rigby
Here, There And Everywhere
Band On The Run
Back In The USSR
Maybe I'm Amazed
C Moon
My Love
Can't Buy Me Love
Freedom
Live And Let Die
Let It Be
Hey Jude

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1º Bis

The Long And Winding Road
Lady Madonna
I Saw Her Standing There

2º Bis

Yesterday
Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band-Reprise
The End

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Sobre Márcio Ribeiro

Nascido no ano do rato. Era o inicio dos anos sessenta e quem tirou jovens como ele do eixo samba e bossa nova foi Roberto Carlos. O nosso Elvis levou o rock nacional à televisão abrindo as portas para um estilo musical estrangeiro em um país ufanista, prepotente e que acabaria tomado por um golpe militar. Com oito anos, já era maluco por Monkees, Beatles, Archies e temas de desenhos animados em geral. Hoje evita açúcar no seu rock embora clássicos sempre sejam clássicos.
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