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Rock e heavy metal: Algumas reflexões sobre a decadência do gênero

Por Rodrigo Contrera
Postado em 19 de fevereiro de 2018

Tenho feito alguns artigos sobre as gerações e as "turmas" do rock e heavy metal, e isso tem me levado a refletir um pouco sobre a suposta decadência dos gêneros. É curioso que isso se dê logo agora que eu consigo aproveitar melhor as variadas tendências. Tentarei não ser demasiado prolixo, e me ater a alguns fatos.

Quando o rock surgiu, havia temas que faziam gerações se oporem. Havia o racismo, assumido como norma; havia um certo comodismo quanto aos modelos morais a sustentarem o capitalismo em polvorosa; havia um clima de pós-guerra, em que as pessoas pareciam estar a fim de querer algo novo. Esses temas precisavam ser assumidos como problemas.

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O rock surgiu em grande parte para questionar modelos. O moralismo não mais sustentava gerações que queriam mais liberdade, de ir e vir, de experimentar, de soltar o corpo num sexo mais livre. Por outro lado, o racismo estava aí para ser questionado, e o blues servia como contraponto a um tipo de música acomodado, sustentado pelo sistema, e que não dava espaço a negros, índios, mestiços, que queriam apenas se expressar - e fazer sucesso. Com o fim da Segunda Grande Guerra, havia um clima de liberdade no ar, que precisava se fazer notar pela via musical. Os gêneros tradicionais pareciam não conseguir conter a ênfase numa liberdade de costumes.

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O rock surgiu e os jovens pareciam não ter mais vergonha de existir, de demonstrar descontrole, de se opor a autoridades que não pareciam mais contribuir para o debate público. O rock surgiu de muitas formas, e elas incluíram mulheres, excluídos, negros, gente até então estranha demais para ser aceita pelo sistema. Mas com o tempo isso foi se tornando um novo modelo. Passadas várias décadas, as bandeiras do rock se tornaram predominantes, e mesmo se ainda são um pouco questionadas (quanto às drogas ou à liberação de costumes) se tornaram quase normais.

A indústria musical aproveitou para trazer para si as novas tendências musicais. E, sem entrar muito no mérito de casos específicos, lucrou muito com todas as tendências do rock dos anos 50 até hoje. Poucos ousaram se opor à forma como a indústria funcionava. Alguns - como o Metallica, com a pendenga com o Napster - questionaram os novos modelos de distribuição de música, com o surgimento da internet, mas de forma geral todos usaram dos mais diversos meios à disposição (inclusive o Thrash, com a divulgação boca a boca e gravações no começo caseiras) para lucrar e se tornarem grandes potências musicais. Até mesmo o punk se beneficiou da indústria.

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Com essa incorporação do rock à cultura, à moralidade e à indústria, as bandeiras do rock começaram a se tornar hegemônicas. Praticamente todos os subgêneros desde os anos 80 para cá não acrescentaram muito à busca por liberdade, à autoexpressão (mesmo em assuntos espinhosos, como religião e política) e à saudação de uma certa vida anárquica. Hoje, um roqueiro por definição se atém no máximo a uma heterossexualidade mais livre, ou a uma homossexualidade recatada, à necessidade de fazer shows em locais que possuem infraestrutura para tal, a símbolos que são reconhecidos por qualquer garotinho na puberdade, e a seguir uma legalidade bastante tradicional. Poucos são os que ainda mantêm um comportamento sinceramente anárquico ou questionador. E com o tempo mesmo esses se cansam e preferem assumir a imagem pública para ganhar dinheiro com facilidade.

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O rock soube se aproveitar e inserir em si mesmo praticamente todos os gêneros musicais. O jazz está nele, a música folclórica também, o som erudito mais avançado foi incorporado, até mesmo o orientalismo (e isso faz tempo) está em meio a suas músicas. Os roqueiros desde sempre souberam se aproveitar das outras tradições, literárias, musicais, comportamentais, e de transportá-las para o âmbito do rock. Hoje, quando vemos algum artista pop cantando em festivais de rock é quase com condescendência que nós os admitimos, porque nem comportamental nem musicalmente eles têm quase nada a acrescentar. Por outro lado, as bandeiras de tolerância, liberdade, alegria, tornaram-se bastante hegemônicas, tirando um ou outro caso de subgênero que quer marcar presença dando uma do contra.

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As bandeiras do rock avançaram tanto que incomodaram e afetaram outros gêneros. O rap aproveitou a índole questionadora para encontrar o seu espaço e para também influenciar algumas bandas. O jazz não tem mais o que dizer, praticamente, e o ambiente erudito sobrevive em grande parte por meio de parcerias com bandas de rock que pegaram a tradição erudita para dar-lhe um novo timbre. Nesse sentido, todo jovem que queira aprender alguma coisa, qualquer que seja, acaba dando de cara com o rock em algum momento da sua trajetória, e levando consigo algumas das bandeiras que antes eram questionadoras, e que deixaram de sê-lo. Por outro lado, as gerações mais recentes são claramente mais tolerantes que as anteriores, e também são claramente mais abertas ao novo - mesmo quando têm comportamentos reativos a algumas sonoridades.

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No quesito mercadológico, o rock é um produto que atingiu o seu auge várias vezes, sempre com variações de gênero que lhe deram temporariamente novo impulso, e está em declínio porque em grande parte tem pouco de efetivamente novo a dizer. Artistas pop de caráter mais limitados musicalmente como um Pablo Vittar ou uma Anitta (para me ater ao Brasil) se tornam moedas da vez porque, usando de liberdade, tolerância e sexo, questionam ainda mais o ambiente social e comportamental, e com isso ajudam a engrossar esse mercado, mesmo que eles não tenham nada a ver com o rock enquanto gênero. A Rolling Stone coloca o Pablo na capa não é por outro motivo. A geração do rock envelheceu e, ainda sedenta por coisas novas, aceita discutir até esse tipo de artista. Outras gerações ou classes sociais não chegam a tanto.

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Hoje existem cursos universitários sobre rock. Professores usam heavy metal para ensinar história e até mesmo filosofia. Roqueiros sempre navegaram na arte num sentido mais amplo, e hoje fica até chique discutir psicanálise citando Lou Reed. Todas as gerações, desde os anos 50 para cá, se aproveitaram do rock como referencial para suas vidas. E isso continua acontecendo. O rock se tornou o que era a música erudita no século XIX, o que era o jazz nas primeiras décadas do século XX, o que eram as rádios dos anos 20 aos 50, e com isso amadureceu e se tornou bastante previsível e até certo ponto chato. Mas há ainda quem se sinta livre ouvindo AC/DC a todo volume no carro e gritando a plenos pulmões.

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Os formadores de opinião no âmbito musical restrito ao rock são pessoas de classe média baixa, ainda, e que não possuem uma cultura geral muito elevada, contudo. Ou seja, o rock não afetou grandemente os modelos sociais para classes mais abastadas. Por outro lado, o rock não atingiu também grandemente as classes realmente pobres, que são atingidas pelas instituições mais conservadoras socialmente (como a Igreja) e que não gostam de muita liberdade (até porque sabem que nunca a terão de fato). Nesse sentido, o rock é quase um fenômeno de classes médias, baixa a alta, e que não cumpriu totalmente com tudo aquilo a que poderia fazer jus. Você vai numa periferia e ouve atualmente funk, reagge e mesmo pop, mas ouve pouco rock.

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Com o rock, vieram muitas conquistas de ordem política, mas certos estratos mais radicais e conservadores ainda conseguem achar seu espaço socialmente. Nesse sentido, o rock, se criou uma nova hegemonia de temas, não conseguiu evitar o pior - o risco do radicalismo político. O rock nem veio aliás para isso. O rock veio mais como um grito por liberdade por estratos que queriam se dar bem ou pelo menos sentirem menos vergonha da própria existência. Mas o rock conseguiu muita coisa, realmente.

Talvez a relutância em sair de cena se deva ao fato de que o rock mudou muito e ainda muda muito com o passar do tempo. Talvez se deva também a que quem quer se dedicar a um estilo de vida mais roqueiro é em geral mais jovem, de corpo e também de alma. Talvez também se deva a que o gênero é musicalmente muito diverso, atingindo praticamente todos os públicos, e dialogando com quadrinhos, filmes, livros, etc. Talvez se deva a que as tecnologias musicais, se avançaram muito, não atribuíram sonoridades hegemônicas que, no frigir dos ovos, consigam facilmente escapar do modelo de banda com guitarra, bateria, baixo e um vocal poderoso. O que mudam mais são os timbres. No fundo, todo mundo faz algo parecido com rock.

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Empresarialmente, o rock está perdendo espaço sim para outros gêneros. Inclusive espaço na mídia. Mas há ainda espaço e influências para todos os gostos. A juventude normalmente encontra seu lugar mais facilmente no rock. Mas os ídolos estão morrendo, de todas as formas, até porque não têm ou não arranjam algo mais radical para dizer. Outros estão parando. Muito provavelmente surgirão novos artistas em lugares ainda mantidos de fora do sistema a sustentarem mensagens mais radicais, e a buscarem seu lugar ao sol em termos de liberdade e dinheiro. O mercado do rock já passou até da fase da expansão por nichos. Muito provavelmente a novidade virá do conflito. Inclusive social.

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A grande maioria já comprou a mensagem do rock. E apenas torce para poder conseguir ver os últimos sinais do navio passarem, ao longe.

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Sobre Rodrigo Contrera

Rodrigo Contrera, 48 anos, separado, é jornalista, estudioso de política, Filosofia, rock e religião, sendo formado em Jornalismo, Filosofia e com pós (sem defesa de tese) em Ciência Política. Nasceu no Chile, viu o golpe de 1973, começou a gostar realmente de rock e de heavy metal com o Iron Maiden, e hoje tem um gosto bastante eclético e mutante. Gosta mais de ouvir do que de falar, mas escreve muito - para se comunicar. A maioria dos seus textos no Whiplash são convites disfarçados para ler as histórias de outros fãs, assim como para ter acesso a viagens internas nesse universo chamado rock. Gosta muito ainda do Iron Maiden, mas suas preferências são o rock instrumental, o Motörhead, e coisas velhas-novas. Tem autorização do filho do Lemmy para "tocar" uma peça com base em sua autobiografia, e está aos poucos levando o projeto adiante.
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