Ainda Metal...: Por que esta conexão?
Por Caio "Subterraneans"
Postado em 19 de janeiro de 2014
Ser Metal é chegar aos 38 anos sozinho num quarto, ouvindo o primeiro álbum do Obituary no vinil (Slowly We Rot – Lentamente apodrecemos) à meia noite. Olhei na contracapa do disco e confirmei o que Max Cavalera afirmou em sua autobiografia (My Bloody Roots. Ed. Agir, 2013): o seu nome e o do Sepultura nos agradecimentos. Ser Metal implica essa conexão... eu ouvindo Obituary no vinil guardado da época que foi lançado, ano de 1989, e confirmar com os próprios olhos uma informação lançada pelo Max em sua biografia recentemente publicada.
Max, na segunda metade dos anos 1980, trocava cartas com muitas bandas gringas de Metal, particularmente bandas de Death Metal. Eu conheci o Death Metal através do disco Beneath the Remains, do Sepultura, lançado em 1989 por um selo americano, a Roadrunner. E hoje estou aqui no quarto ouvindo esses discos, revivendo e vivendo emoções. De repente me ocorre pegar um disco do Obituary. Quando coloco pra rodar... me vem a informação sobre os agradecimentos que Max revela em sua biografia. E de fato, lá está impresso: Max e Sepultura. E o disco do Obituary está em minas mãos até hoje. Esta é a conexão!
Vou traduzir um pouco da música Slowly We Rot. É mais ou menos assim:
Mate todos
Luta mortal
Lesados lutando pelo amor
Lute contra todos em um inferno
Lentamente apodrecem e você morre
Você luta contra a morte enquanto lentamente percebe
Mate todos eles
Luta mortal que lentamente enxerga o amor
Lute contra todos eles, junta-se a mim, lentamente apodrecemos
Lentamente apodrecemos
Quando eu tinha 17 anos tudo isso fazia muito sentido. Eu estava revoltado, a vida me desafiava, mas o mundo era uma merda. Os adultos ditam as regras e o que podemos fazer? Vamos até a escola, assistimos às aulas, fazemos as lições e fazemos o que podemos para ser aprovados. Os colegas estão lá, mas a maioria é um monte de merda parecida com o próprio mundo. E o que podemos fazer? Encontramos nossos "iguais" e nos ligamos a eles de forma profunda. Fazemos parte da mesma tribo. Somos inconformados, rebeldes no melhor sentido e desejamos foder com o mundo. Asas às cobras! Um saco esse mundo careta que tentam nos impor. A revolta é uma tentativa de colocar nossa voz, nosso corpo, nossa identidade na bosta que gira em torno de nós. E de repente aparece o disco do Sepultura, Beneath the Remains com aquela capa escrota, que so agora sei que é autoria de um artista escroto chamado Michael Whelan. Capa fodíssima! Segue o trecho da letra da música Inner Self desse disco:
Andando por estas ruas sujas
Com ódio em minha mente
Sentindo o desprezo do mundo
Eu não seguirei suas regras
Culpas e mentiras,
Contradições surgem
Culpas e mentiras,
Contradições surgem
Não-conformidade em meu Eu interior
Somente eu guio meu eu interior
Eu não mudarei meu jeito
Ele tem de ser assim
Vivo minha vida por mim mesmo
Esqueça seus modos imundos
Tradução exata de tudo o que sentia. Desejava e ainda desejo sair por aí cagando e andando para as regras idiotas ditadas pelo mundo. Liberdade é uma forma de ideal. Quebrar regras, abalar a ordem das coisas, mexer com a conformidade pregada pela burguesia e pelo burguesismo que fode a sociedade. Uma rotina escrota que impede que você seja o que você deseja ser. E você sabe que pode ser mais e melhor. Viver uma vida mais intensa, mais densa. Ser muito melhor do que o que permitem que você seja. No fundo do seu Eu interior, você sabe disso. Menos os babacas, esses não sabem, nem saberão.
Ser Metal é isso! Comer Heavy Metal com farinha. Beber na fonte do Death Metal sentindo todo o ódio do mundo nas veias. Embriagar-se com o peso dos riffs e gozar com a poética gutural. É disso que estamos falando, porra! Se o que já foi feito já foi feito, qual a razão de ficar repetindo? O Metal precisa ir além do que já foi feito, porque se eu quiser ir à fundo na Escola do Death pegarei meus vinis do Sepultura, Obituary, Napalm Death, Dismember, Pungent Stench, Morbid Angel, Cannibal Corpese e ouvirei numa tentativa desesperada de colocar meus demônios para fora.
São muitos os demônios e eles aparecerão quanto mais você evitar ouvir a sua própria voz interior. O mundo é perito em alimentar demônios. O mal está presente nas mentes dos mais dissimulados. O mal está em qualquer lugar, inclusive em mim, mas estabelece residência no coração dos medíocres e covardes. Hoje eu sou capaz de enxergar um babaca a quilômetros de distância. Geralmente têm a cara pálida, o ar sério demais e a voz constante. Não dão gargalhadas e sempre são moralistas mesmo para fazer um lanche. Um lixo! Sujeitos e sujeitas mal humorados que levam a sério o que há de mais dissimulado na moral. Seres ressentidos e desconfiados de tudo o que se apresenta ser diferente. Medrosos, acovardados, previsíveis. E sabe como fiquei sabendo disso tudo? Sendo eu mesmo. Alimentando todo dia a inconformidade do meu Eu interior. Sendo diferente do previsível. Então percebi muitos olhos da sociedade se voltarem para mim, muitas vezes, com o ar inquisitorial. Mas, de uma forma ou de outra, eu sempre disse um grande FODA-SE para todos e segui meu caminho.
Desejava tudo, mas a sociedade desejava me devorar... e deseja até hoje. Tive o Metal para afastar tudo e todos que me ameaçam desde sempre.
Eu sou uma força invencível do mal
Meu rancor eterno é destrutivo
Não há chance de sobreviver
Eu encarno o fim da humanidade
Estou no topo da carne humana
E eu agonizo numa piscina de sangue
Não tente escapar ou resistir
Pois Cristo não vai te ajudar essa noite
Força invencível
Força invencível
Invincible Force, música do disco Infernal Overkill do Destruction. Lançado em 1987, certamente serviu de inspiração para o Sepultura e o Obituary. Conexão Thrash Metal! O vinil está rodando nesse momento, às 2:36 hrs da madruga. O Metal atravessa a noite dos malditos, embriagando e fortalecendo. Essa é a conexão.
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