Como o Metallica definiu uma vida
Por Ricardo Seelig
Fonte: Collector's Room
Postado em 05 de fevereiro de 2010
Calças jeans, camiseta, o inseparável All Star nos pés e alguns pêlos na cara. Foi assim que, no alto dos meus 14 anos, em 1986, entrei em uma loja de discos no interior do Rio Grande do Sul para realizar um ritual que me acompanharia pelo resto da vida: procurar LPs, descobrir novas bandas, ouvir novos sons.
Fuçando nas prateleiras repletas de vinis, folheando cada um dos discos que se sucediam à minha frente, eis que dou de cara com um álbum que me fez parar, suar frio e sentir minhas pernas tremerem. O álbum era "Ride the Lightning", segundo disco de um grupo muito falado por aqui, mas pouco ouvido naquela época: o Metallica.
Muito falado porque as revistas especializadas de meados dos anos oitenta, como a paulista Rock Brigade e a carioca Metal, não cansavam de estampar a banda em suas páginas, sempre com elogios enormes para aquele quarteto californiano. Pouco ouvido porque, diferente de hoje em dia, quando praticamente qualquer bandeca oriunda dos mais remotos cantos do mundo tem seus discos lançados em nosso país, naquele tempo isso não acontecia. Encontrar aquele álbum daquela banda que você queria muito conhecer - e não podia, porque não havia MP3 para baixar, ou você comprava o LP ou pedia para um amigo seu que tinha gravá-lo para você - era, quase sempre, um exercício de paciência e garimpo.
Foi por isso que, naquele dia, subitamente minhas pernas cambalhearam e fiquei pálido. Ali, na minha frente, estava um disco sobre o qual eu já havia lido muito, de uma banda da qual eu sabia o nome dos integrantes de cor, mas cujo som eu ainda não havia ouvido! Foi com extrema calma que peguei o LP, com os olhos vidrados naquela bela capa azul repleta de raios, e me dirigi até a cabine para ouvi-lo. Em um misto de calma e ansiedade, retirei o vinil de dentro do plástico, coloquei-o sobre o prato e, com a mão tremendo, dirigi a agulha até seus sulcos.
O som que saía do fone de ouvido era o de um belíssimo violão sendo dedilhado, preparando o caminho para o que viria a seguir. Quando o riff de "Fight Fire with Fire" finalmente surgiu, com suas guitarras pesadíssimas, rápidas e cheias de palhetadas empolgantes, foi como seu eu tivesse levado um soco no estômago! Naquele momento experimentei uma sensação que nunca mais iria se repetir em toda a minha vida: o que saía dos sulcos daquele LP era o som que habitava a minha cabeça adolescente há tempos, me empolgava em meus sonhos juvenis delirantes, mas que eu nunca havia topado pela frente!
As faixas se sucediam, e o sorriso em meu rosto ia tomando proporções épicas, enquanto, apesar de o meu corpo permanecer dentro daquele loja de discos, minha mente estava nos mais incríveis e distantes lugares, menos ali. "Ride the Lightning", "For Whom the Bell Tolls", "Fade to Black", "Trapped Under Ice", "Escape", "Creeping Death" e a incrível "The Call of Ktulu" tiveram um impacto imediato e gigantesco sobre mim, transformando-se, sem pedir licença, na trilha sonora da minha vida.
Música é emoção. Para quem ouve, para quem compõe e para quem toca. Tentar racionalizá-la é transformar um lindo quadro repleto de cores em uma tela sem vida. É por isso que aquilo que vivemos com tanta intensidade, as experiências que marcaram nossas vidas, nos acompanham até o final de nossos dias. É por isso que, mesmo passados mais de vinte anos daquele primeiro encontro, até hoje sinto algo diferente, um frio na espinha, toda vez que ouço qualquer coisa do Metallica.
Ter uma experiência musical tão intensa quanto essa é o que diferencia um ouvinte comum de caras como eu, como você e como todos os outros que acessam a Collector´s Room. O poder da música, a paixão que ela nos faz sentir, com o coração batendo mais forte e a cabeça balançando involuntariamente toda vez que o som sai dos alto-falantes, mesmo quando você já deixou de ser um adolescente há décadas, é o que nos faz sentir vivos, com o sangue pulsando nas veias e a energia rolando pelo corpo.
Uma sensação tão forte e intensa que deixa claro para quem a experimentou que não existe nada, absolutamente nada, impossível nessa vida. Que, por mais que nossos sonhos pareçam impossíveis e distantes, somos nós, e apenas nós, os responsáveis por realizá-los ou não.
É por tudo isso que James Hetfield, Kirk Hammett, Lars Ulrich e companhia sempre farão parte da minha vida - eternamente, em alto e bom som.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



A banda que Slash considera o auge do heavy metal; "obrigatória em qualquer coleção"
Ingressos para o festival Mad Cool 2026 já estão à venda
O hit do Led Zeppelin que Jimmy Page fez para provocar um Beatle - e citou a canção dele
A categórica opinião de Regis Tadeu sobre quem é o maior cantor de todos os tempos
Para Wolfgang Van Halen parte do público não consegue ouvi-lo sem pensar no seu pai
M3, mais tradicional festival dedicado ao hard rock oitentista, anuncia atrações para 2026
O músico a quem Eric Clapton devia desculpas e foi ao show para fazer as pazes
O histórico compositor de rock que disse que Carlos Santana é "um dos maiores picaretas"
As cinco músicas dos Beatles que soam muito à frente de seu tempo
6 álbuns de rock/metal nacional lançados em 2025 que merecem ser conferidos
Como foi o último show do Sepultura com Max Cavalera, segundo integrantes da banda
Edguy - O Retorno de "Rocket Ride" e a "The Singles" questionam - fim da linha ou fim da pausa?
Os 20 álbuns de classic rock mais vendidos em 2025, segundo a Billboard
Pink Floyd - Roger Waters e David Gilmour concordam sobre a canção que é a obra-prima
O álbum que David Gilmour vê como uma continuação de "The Dark Side of the Moon"


Os ícones do heavy metal que são os heróis de Chuck Billy, vocalista do Testament
As duas únicas bandas de metal entre maiores turnês do milênio, segundo a Pollstar
A verdadeira opinião de Bill Ward do Black Sabbath sobre Lars Ulrich do Metallica
O riff criado pelo adolescente Kirk Hammett que virou um dos momentos mais marcantes do Metallica
O que James Hetfield realmente pensa sobre o Megadeth; "uma bagunça triangulada"
Nos anos 90, Lars Ulrich afirmou que o rock estava em extinção
O clássico do metal que foi criado em uma hora e fez a cabeça de James Hetfield
Por que o "Black Album" é tão grandioso, segundo Kirk Hammett
Heavy Metal: Bem vinda, Nova Geração da Velha Escola
Down: Palavras de Phil Anselmo mostram que o metal (ainda) é racista


