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Uma análise dos principais lançamentos do Pop/Rock brasileiro

Por Anderson Nascimento
Postado em 08 de agosto de 2003

Para este ano de 2003, já eram esperados vários lançamentos com muita ansiedade por fãs e críticos. As pessoas que acompanham música, estavam ávidas pelos novos do Skank (será que dá para ir mais longe que o Maquinarama?), Engenheiros do Hawaii (oba, mais um disco dos enghaw pra gente meter o pau!), Nando Reis (como será a resposta aos Titãs?), Los Hermanos (como será que uma banda sucede a um clássico?) e dos próprios Titãs (existe vida após o "A Melhor Banda..."?). A seguir uma análise dos principais lançamentos até agora:

ÔBA, MAIS UM DISCO DOS ENGHAW PRA GENTE METER O PAU!

"DANÇANDO NO CAMPO MINADO" - ENGENHEIROS DO HAWAII

Los Hermanos - Mais Novidades

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Classificação:

O segundo disco da recente trilogia iniciada por Surfando Karmas e DNA (2002), consolida a nova formação dos Engenheiros, as arestas foram aparadas e agora, como há muito não se vê na banda, temos uma democratização de espaço bem mais intensa no disco. Das 11 músicas do disco, apenas cinco são assinadas somente por Humberto Gessinger, temos em vários momentos coros feitos não só por Gessinger, como de costume, e, pra finalizar, temos uma música (Segunda-Feira Blues II) cantada integralmente por Carlos Maltz, fato que não acontece desde o álbum "Simples de Coração (1995)", que por coincidência teve a faixa "O Castelo dos Destinos Cruzados" cantada também pelo ex-baterista da banda Carlos Maltz.

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Eu sempre achei super interessante álbuns que contam histórias, e que possuem uma idéia central por onde o álbum passeia durante toda a obra. E este é o diferencial do último disco dos Engenheiros. O cd é um pouco menos pesado que o anterior, mas mantém a mesma pegada que o Surfando, as músicas são curtas, em torno de 3 minutos, e urgem por passar mensagens de inconformismos, insatisfação, questionamentos e descrença.

O disco abre com três porradas, "Camuflagem", que traz um bem bolado coro, é seguida por "Duas noites no deserto", que apresenta ao ouvinte um riff de guitarra marcante, e "Rota de Colisão", que abre espaço para a contestadora faixa-título "Dançando no campo minado". Logo após, "Segunda feira blues I", não nos deixa pensar em outra coisa, a não ser a última guerra inventada pelos norte-americanos ("...onde estão as provas?, onde estão os fatos? As boas novas eram só boatos...").

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Exatamente na metade do disco, a melhor faixa vêm, trazendo uma auto-crítica impiedosa ("Muito prazer, meu nome é otário!"), numa das melhores composições já assinada por Humberto Gessinger. "Até o fim", primeiro single e já estourada nas rádios, lança a primeira mensagem de otimismo do disco, com instrumental irrepreensível a música é daqueles rocks que te faz viajar sobre a letra. "Na veia" traz um refrão que te faz cantar e prepara o terreno para guitarras muito bem tocadas e encaixadas no momento certo. "Fusão a frio"remete a uma sonoridade da fase progressiva dos EngHaw, a música poderia muito bem caber no "Várias Variáveis" ou no "GLM", e, para quem não percebeu, a música traz encapsulada logo no início da música a famosa transcrição que era usada em músicas dos primeiros discos, muito bem percebida na música "Várias Variáveis" do disco de mesmo nome. "Segunda-feira Blues II" vêm reafirmar, desta vez na voz de Maltz, a insatisfação com a guerra, e agora de forma ainda mais explícita ("...onde estão os caras que usavam palavras precisas, para nos livrar da tirania do mal?.."). Mas nem tudo está perdido, "Outono em PoA" vem mostrar que apesar de tudo, a vida é bela e vale a pena, Humberto fala sobre um dia onde tudo dá certo, "...ninguém me telefonou enquanto eu dormia...", "...o horóscopo arriscou um belo dia...", e por fim "...descobri que sou feliz...", "...o mundo fica para outro dia!".

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Este pode não ser o melhor disco dos Engenheiros, mas eu não me espantaria nem um pouco se alguém me afirmasse isso. Rock sem firulas, e recado dado em menos de 32 minutos. Obra prima.


COMO SERÁ QUE UMA BANDA SUCEDE A UM CLÁSSICO?

"VENTURA" - LOS HERMANOS

Classificação:

Quando os Beatles lançaram em 1967 o clássico "Sgt. Peppers", criou-se muita expectativa em torno do próximo lançamento no ano seguinte. Os Beatles quebraram protocolos gravando um álbum duplo de inéditas e lançaram um bom disco, contudo, sem aquele aparato todo que foi usado para o "Peppers", começando pela capa que já dava sinais de seria um disco minimalista.

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Guardando-se as proporções, o novo lançamento dos Los Hermanos também estava sendo muito aguardado pela crítica especializada, principalmente no que diz respeito a que estilo de som teria a disco, seria mais pop como o primeiro ou seria um disco difícil na linha do "Bloco do eu sozinho"?. Lançado sem muito alarde e chegando quase desapercebido pelas prateleiras das lojas, "Ventura", consegue se r um meio termo entre o som considerado de difícil aceitação e o som mais pop. Se formos comparar o novo disco dos Los Hermanos com os dois primeiros, diríamos que o mesmo está muito mais próximo do "Bloco", os trombones, trompetes e sax ainda recheiam o repertório da banda, só que desta vez o tema amor está bem mais presente que no disco anterior.

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Os temas são de âmbito comportamentais, auto-ajuda, conselhos a amigos, insegurança, são algumas passagens abordadas neste álbum. O disco abre com um sambinha muito bacana "Samba a dois", talvez a faixa mais diferente do disco junto com o flerte com a emepebê "Conversa de Botas Batidas", que lembra demais a geração mineira dos anos setenta, passa por momentos brilhantes como "O Vencedor", a maravilhosa "Além do que se vê", "Cara Estranho" que já está sendo muito bem executada nas rádios, e talvez seja a melhor do disco, guitarras fortes, letra bem sacada, vocal rasgado e instrumental crescendo ao longo da música. E momentos muito entediantes como "Do Sétimo Andar" e "O Velho e o Moço" além das músicas de Rodrigo Amarante que utiliza um vocal cada vez mais despojado.

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O disco no geral é bom e atende as expectativas, mas as 15 músicas do álbum o torna um pouco cansativo. Os Los Hermanos provaram que são uma banda cada vez mais cult e criativa, mas correm o risco de entrar para aquela lista das bandas que todo mundo diz que gosta, mas pouca gente ouve.


"A LETRA A" - NANDO REIS

Classificação:

Quando Nando Reis lançou o maravilhoso "12 de Janeiro", conseguiu mostrar a todos o seu potencial como compositor e músico, extraindo do mesmo disco vários hits. Seu espaço nos Titãs estava ficando cada vez mais apertado e as parcerias de Nando fora da banda foram consolidando a sua condição de grande compositor. Nando soltou mais uma solo, "Para quando o arco-íris encontrar o pote de ouro", novamente um excelente trabalho.

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Com o lançamento de "A melhor banda..." dos Titãs, ficou claro que a saída de Nando era iminente. Pois bem, de fato Nando saiu dos Titãs. Antes disso lançou um álbum de regravações perfeito, maravilhoso, onde deu nova roupagem para músicas de sucesso de sua carreira solo, músicas gravadas por outros artistas e uma versão para um antigo sucesso "My Pledge of Love". A pegada de Nando Reis demostrada no álbum "Infernal" e a sua magnífica apresentação no Rock In Rio 3, levava a crer que viria aí um grandioso primeiro álbum pós-Titãs.

Talvez o problema maior de seu novo disco "A Letra A" seja este, Nando vem muito mais "angelical" do que "infernal" e a sonoridade do disco fica localizada em algum elo perdido entre a emepebê e o pop/rock. O excesso de violões e o tamanho das músicas (a maioria entre 5 e 6 minutos) são efetivamente o ponto fraco do disco, que a certa altura, torna-se um pouco chato, leia-se o primeiro single do disco "Dentro do Mesmo Time". Mas o álbum agrada em canções como "A Letra A", que traz um bonito vocal de sua filha Shophia, "E tudo mais" que chega a lembrar a sonoridade do seu primeiro álbum, a candidata a hit "Hoje mesmo", e "Luz dos Olhos", que originalmente foi gravada no acústico de Cassia Eller, e é o clímax do disco.

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"A Letra A" é super bem tocado, possui um trabalho gráfico muito bem feito, e é apenas o primeiro álbum sem as amarraras que o prendiam aos Titãs, Nando desponta agora como um dos melhores e mais importantes compositores da atualidade.

Vale a pena conferir o novo site de Nando que está recheado de informações sobre este disco e toda a carreira do ex-Titã.


"COSMOTRON" - SKANK

Classificação:

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Quando nos deparamos com a arte da capa do novo álbum do Skank, já percebemos do que se trata, um álbum com muitas influências retrógradas, principalmente dos anos 60. Quando olhamos a contracapa porém, percebemos que a banda está, nesse álbum, antenada ao New British Rock, a julgar pela pose a lá Oasis. Aliás não dá para falar em Oasis sem citar a primeira faixa do disco "Supernova" (alguém aí lembra desta palavra em algum disco a não ser "What's the story morning glory", do Oasis?), a música lembra muito outra música do próprio Oasis "Do you know what i mean?" com guitarras fortes e envolventes.

E o disco do Skank é isso, um misto de rock inglês antigo e contemporâneo, que apresenta-nos uma sonoridade super agradável, recheada de coros, guitarras psicodélicas e canções que grudam logo na primeira audição. Na música "As Noites", percebemos que as guitarras bebem na fonte do saudoso George Harrison. Falando em Beatles, o quarteto é referênciado em vários momentos como em "Por um Triz" quase saída do "Álbum Branco", e imediatamente após, na já clássico, "Dois Rios", assinada também por Nando Reis e Lô Borges, que nos faz imaginar um passeio dos Beatles, Skank e Pink Floyd nos parques britânicos. Logo depois o som expira modernismo em "Nômade", uma faixa singular nesta obra. "Vou deixar" é hit certeiro, batida meio jovem guarda que com certeza vai agitar muita festa por aí, é uma das melhores do disco.

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"Formato Mínimo" é a mais lentinha do álbum e lembra um pouco a fase solo de John Lennon. O disco prossegue em outro bom momento com a música "Resta um pouco mais", violões, guitarras psicodélicas, até chegar na mais pesada, "Os Ofendidos", que mostra o lado hard da voz Samuel, essa música surpreende novamente ao trazer um Skank nunca visto antes. "É tarde" lembra demais "Balada de um amor inabalável", e nos prepara para outra grande canção, "Um Segundo", logo após a obra encerra com chave de ouro com a música "Sambatron", batida envolvente e ritmo frenético, trazendo ainda referências à emepebê setentista, "laia badaia sabadona ave-maria".

A mudança no som do Skank, começou de forma singela com Siderado, encorpou-se com Maquinarama e aterrisou de vez com o mais novo clássico da música brasileira. Em um momento de tão pouca criatividade na música, é gratificante ver uma banda conceber um álbum tão bom. Quem não gostava do estilo do Skank precisa dar nova chance aos mineiros.

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Sobre Anderson Nascimento

Anderson Nascimento é Analista de Sistema e Professor Universitário de profissão, tendo cursado Pós-Graduação em Análise, Projeto e Gerência de Sistemas na PUC-RJ. Sua grande paixão é a música, começou a colecionar discos ainda na época do vinil, em 1986, com o álbum Abbey Road dos Beatles. Esse foi o primeiro passo para esse hobby que viria a se tornar tão importante em sua vida. Entre as várias atividades no meio musical, Anderson é compositor e integrou a banda de rock Projeto:Paradoxo entre 1996 e 2004. Anderson é um ávido colecionador de discos e também escreveu sobre música em vários veículos de comunicação.
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