Titãs consultam Confúcio em Como Estão Vocês?
Fonte: Terra Música
Postado em 07 de novembro de 2003
Rodrigo Carneiro
A defesa de um novo disco é quase sempre um embate, um jogo de claro e escuro. Frente a um batalhão de repórteres, os artistas (não só os músicos) têm a última chance de conceitualizar a obra. No processo, as reais intenções e detalhes obscuros podem ficar mais evidentes, assim como certos ressentimentos.
E isso ficou claro na entrevista dos Titãs para apresentação do novo CD da banda, intitulado Como Estão Vocês?. A banda falou à imprensa sobre seu 15° disco, que foi buscar na filosofia de Kung Fu Tsu, conhecido no Ocidente como Confúcio, o título: Como Estão Vocês?. Segundo o conceito utilizado pelos rapazes para inspirar a produção, o filósofo pregava: "Perguntei com letras de fogo. Como estão vocês? Como estamos todos nós? O caminho está perdido, resta julgar".
Sergio Brito disse que o nome se aplica tanto ao grupo, reduzido agora a um quinteto, quanto ao Brasil e ao mundo em tensão constante. Tony Belloto chama a atenção para uma abordagem "social" e músicas como KGB e A Guerra é Aqui. "Tínhamos deixado um pouco de lado essa questão de crítica social. No novo disco retomamos".
O guitarrista lembra ainda que outro aspecto sintético do álbum é a escolha de Roberto Duarte para assinar o projeto gráfico de Como Estão Vocês?. Autor das principais capas de discos da Tropicália e cartazes como o de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, Rogério chegou à capa por sugestão de Brito.
"As referências dele são muito próprias. O Rogério criou uma tipologia muito forte. Já conhecia bastante do trabalho, mas comprei um livro que reúne a obra completa". Belloto confirma. "Foi uma escolha bastante feliz. Queríamos fazer um disco que fosse um disco em si. Não um punhado de canções. Um álbum de conceito fechado", diz.
"Estamos também naquela multidão da ilustração", diz Paulo Miklos sobre a montagem que, de fato, trás o grupo em meio a uma série de pessoas. O título sobrepõe o que parece ser uma passeata. No céu, um verde e amarelo contrastante com o nome do grupo. "Não é patriotismo e sim amor pelo lugar onde nós nascemos", esclarece Britto.
O disco reedita parcerias antigas. O produtor Liminha volta a pilotar a mesa de canais e o tribalista Arnaldo Antunes comparece no discurso da neoconcreta Esperando para Atravessar a Rua.
"Queríamos um produtor que nos entendesse completamente e soubesse das necessidades do mercado brasileiro. Fizemos com o Liminha nossos discos mais bem-sucedidos", explica Branco Melo. "O Arnaldo sempre está colaborando com a gente. Nem parece que ele saiu dos Titãs", diverte-se Miklos. "Independente do trabalho solo, há uma maneira especial de compor que ele só tem conosco", completa.
Coisa que não aconteceria, ao menos por enquanto, com Nando Reis, que deixou o Titãs há pouco. Durante a entrevista, notou-se que as feridas ainda não foram devidamente curadas.
"Ninguém foi expulso da banda. Quem saiu, saiu por vontade própria", diz Britto. "O dia de amanhã ninguém sabe", comenta Belotto. "Um trabalho com o Nando agora é bastante improvável. Estamos nós e ele em meio aos lançamentos de nossos discos. Trabalhando cada um na sua", encerra Miklos.
É mais ou menos assim que estão os Titãs.
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