Cabeça Dinossauro merece uma reedição melhor
Por Rafael Tavares
Fonte: Terra Música
Postado em 07 de janeiro de 2006
A indústria fonográfica tem lá suas ironias. Uma delas é o fato do disco Cabeça Dinossauro - obra-prima que dividiu águas na trajetória dos Titãs - completar 20 anos em 2006 sem ter ganhado ainda uma reedição remasterizada em CD à altura de sua importância. A ironia vem do fato de o baterista do grupo, Charles Gavin, ter feito primoroso trabalho de pesquisa, recuperação e reposição em catálogo de discos alheios em todas as gravadoras - inclusive na Warner Music, a companhia que detém os direitos sobre os álbuns gravados pelos Titãs entre 1984 e 1999 - e de nunca ter tido a chance de ver a discografia de sua banda reeditada com o devido capricho
De todos os grandes grupos do rock nacional dos anos 80, os Titãs é o único que nunca ganhou caixa ou teve sua obra remasterizada em edições avulsas. O problema de Cabeça Dinossauro se agrava porque, pela sua importância, ele foi um dos primeiros CDs fabricados no Brasil pela Warner, ainda nos anos 80.
Mas esta edição - até hoje reposta nas prateleiras - era pouco cuidadosa. Foi feita num tempo em que a indústria fonográfica ainda nem acreditava no potencial do CD no mercado nacional. A ponto de, no caso da Warner, optar-se por padronizar a contracapa externa de qualquer CD. Ou seja, a contracapa externa de Cabeça Dinossauro tem a mesma arte do disco Gilberto Gil em Concerto, também editado em CD na mesma época (mas depois reeditado com a arte original na caixa que festejou os 60 anos de Gil, em 2002).
É uma tremenda injustiça com um disco que solidificou a trajetória dos Titãs e deu um perfil à banda - até então sem identidade no mercado pop nacional dos anos 80. Afinal, Sonífera Ilha - o hit do primeiro disco, lançado em 1984 - tinha lá seu charme e fez sucesso nas rádios, mas bem podia ser enquadrado nas bobagens efêmeras produzidas aos montes no rastro do estouro da Blitz.
O segundo disco - Televisão, produzido por Lulu Santos em 1985 - já tinha algum peso em faixas como Massacre, mas o que chegou às rádios e ao grande público foi a sensível e melodiosa canção Insensível. Foi Cabeça Dinossauro, gravado em abril de 1986 e lançado em meados do mesmo ano, que deu literalmente peso ao rock dos Titãs. A banda finalmente encontrava seu som em azeitada produção dividida entre Liminha, Vítor Farias e Pena Schmidt.
O repertório do disco é tão forte que, listado, parece até extraído de alguma coletânea do grupo. Cabeça Dinossauro, AA UU, Igreja, Polícia, Estado Violência, A Face do Destruidor, Porrada, Tô Cansado, Bichos Escrotos, Família, Homem Primata, Dívidas e O Quê foram petardos certeiros que mostraram ao Brasil inflacionado e corrompido de 1986 a verdadeira cara da nação um ano antes de a Legião Urbana perguntar: Que País É Este? (a música do Aborto Elétrico era anterior ao Cabeça Dinossauro, mas permaneceu inédita em disco até 1987).
Enfim, que os 20 anos desta obra-prima a façam merecer uma justa e digna reedição em CD comemorativa da data - com tudo a que tem direito.
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