Festival Psicodália: Mutantes, Terreno Baldio e Blindagem
Por Claudio Fonzi
Postado em 27 de novembro de 2009
Em 1969, aconteceu o mais famoso Festival de Rock de todos os tempos.
Com o nome de Festival de Woostock, foi um evento que marcou profundamente o comportamento daquela geração e ainda hoje influencia as que se seguiram.
Em tempos de comemoração de seu aniversário de 40 anos, vários lançamentos ocorreram, tais como filmes, livros, DVDs e CDs, além de inúmeros documentários e reportagens.
Nada mais natural então que eventos semelhantes fossem organizados e isto aconteceu por todo o mundo, notadamente na Europa, EUA e no nosso querido Brasil.
O que pouquíssimos sabem, porém, é que o Brasil possui um Festival muito semelhante já há quase 10 anos - o FESTIVAL PSICODÁLIA.
Idealizado apenas como uma grande reunião de amigos e suas respectivas bandas de Rock, o pontapé inicial aconteceu em 2001, ironicamente a quase 1000 km de distância de onde eles próprios residiam. De Curitiba partiram para realizar o Angrastock, em Angra dos Reis (RJ) e que contou com 150 participantes. De lá pra cá muitas coisas aconteceram e vários eventos se realizaram em diversas cidades até se estabilizar no estado de Santa Catarina, onde estão desde 2006, com uma média de 2.500 pagantes.
Entre as bandas que lá já se apresentaram, a grande maioria foi da Região Sul, mas também de SP, RJ, MG e até dos distantes estados de Alagoas e Sergipe. Já contaram também com 5 lendas vivas do Rock Nacional: SERGIO DIAS, MADE IN BRAZIL, PATRULHA DO ESPAÇO, CASA DAS MÁQUINAS e SOM NOSSO DE CADA DIA.
Na comemoração da sua décimo edição, porém, serão mais grandiosos e históricos do que nunca, pois o elenco presente está simplesmente extraordinário, tanto em termos de ícones do Rock nacional setentista quanto dos novos expoentes.
A atração principal será OS MUTANTES, de idade mais antiga ainda que Wodstock e a banda mais criativa e internacionalmente famosa surgida nesse país.
A despeito de não contar mais com a presença de 2 de seus fundadores, os astros Rita Lee e Arnaldo Baptista, OS MUTANTES obtiveram enorme sucesso em todos os inúmeros locais onde se apresentaram, desde seu renascimento em 2006 (ainda com Arnaldo, que permaneceu até 2008) até hoje. Inclusive, acabaram de retornar de magnífica turnê de 30 shows nos EUA e Canadá. Com sucesso total de crítica e público, a turnê passou pelas maiores cidades desses países, tais como New York, Los Angeles, San Francisco, Chicago, Detroit, Philadelphia, Boston, e Washington nos EUA e Montreal, Toronto e Vancouver no Canadá.
A apresentação no Festival Psicodália será a primeira no Brasil após essa turnê. Além do clássico repertório dos 60 e 70, apresentarão músicas do seu novíssimo CD "Haih or Amortecedor", primeiro lançamento de inéditas desde 1976. Grandemente aclamado pela crítica internacional, este CD já foi lançado na América do Norte, Europa e Ásia mas, lamentavelmente, no Brasil ainda não.
As outras bandas de destaque são:
- TERRENO BALDIO: Uma das maiores lendas do Progressivo brasileiro e sul-americano, lançou 2 excelentes discos nos anos 70. Retornou recentemente às atividades e, entre seus músicos está o genial Mozart Mello, amplamente reconhecido como um dos maiores guitarristas do nosso país
- BLINDAGEM: A banda paranaense de Rock que mais destaque nacional obteve, já tem 32 anos de carreira. Dois de seus membros (Ivo Rodrigues e Paulo Teixeira, vocais e guitarra, respectivamente) se integraram a ela depois de terem participado da excelente banda A CHAVE (que, infelizmente, não gravou na época e nunca se tornou conhecida).
- PATA DE ELEFANTE: Banda gaúcha formada em janeiro de 2002, já participou de alguns dos mais importantes festivais nacionais de música independente, tais como Goiânia Noise Festival (2004, 2006 e 2007), Abril Pro Rock (Recife, 2008) e o próprio Psicodália (São Martinho 2009). Atingiram projeção nacional definitiva ao vencerem o Video Music Brasil (VMB) 2009 na categoria Instrumental.
As outras bandas confirmadas são:
MG: Zé Trindade
PR: Plá, Gato Preto, Sopa, Sopro Difuso, O Sebbo, O Conto, Cadillac Dinossauros, Trem Fantasma, Mesa Girante, Mescalha e Maxixe Machine,
SC: Trupe Sonora Casa de Orates
SE: Plástico Lunar
SP: Massahara, Soul Barbeccue, Baratas Organolóides, Cosmo Drah e Poucas Trancas
RS: Bandinha Di-dá-dó e Electric Trip
Repletas de influências dos anos 60 e 70, todas as bandas acima caracterizam-se pela excelente qualidade de suas composições. Todas as músicas apresentadas são de autoria própria, a maior de todas as exigências da organização do Festival.
Segundo seus organizadores, "O Movimento Psicodália é uma iniciativa que visa, além de integrar o público, descobrir novos talentos. Acreditamos que o incentivo à produção de música própria, numa época em que a indústria comercial domina o Mercado, seja de grande importância. Então, nos shows as bandas executam somente suas composições próprias, sem qualquer música 'cover'. O objetivo deste regulamento é incentivar as bandas a produzirem músicas próprias, fomentando o desenvolvimento do talento músico-teatral dos músicos e aproximando o público da essência das bandas. O Movimento Psicodália acredita que existem muitos artistas produzindo material de qualidade mas este trabalho não chega ao público pelo fato deles serem independentes".
Então, por todo esse belo panorama, o Festival já mereceria toda a atenção, mas, além disso, a partir dele surgiu um fenômeno ainda mais admirável e intrigante, chamado MOVIMENTO PSICODÁLIA.
Certamente ainda é cedo para se determinar uma relevância histórica e sociológica, mas, indiscutivelmente, já deveria chamar a atenção dos estudiosos.
Fortemente baseado nos ideais do Movimento Flower Power sessentista, o Movimento Psicodálico possui um grau de integração artística, liberdade de pensamento, preocupação ecológica, fraternidade comportamental e desprendimento financeiro, absolutamente impensáveis de se encontrar no mundo atual.
Além disso, possui como fundamental característica, a valorização da verdadeira ARTE MUSICAL, criada com Amor e Inspiração, sem se ater a simples modismos ou puras A$pirações Financeira$.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De modo geral, a organização e estrutura do Festival sempre foram plenamente satisfatórias. Lugares de grande beleza natural, extremo cuidado com a preservação ambiental, cordial e eficiente atendimento, palcos e equipamentos de som e luz de boa qualidade, grande extensão dos locais de camping, boa quantidade de chuveiros e sanitários, boa variedade de opções de alimentação e de bebidas, preços cobrados bastante razoáveis e, o mais difícil de se ver em Festivais de Música, uma grande variedade de opções de lazer não-musical, mas plenamente artístico, cultural e gratuito.
É a perfeita demonstracão como ARTE, PAZ e DIVERSÃO podem caminhar juntas. Sua realização é um exemplo de dedicação e também uma mostra de como existem talentos musicais pelo Brasil, aguardando apenas uma oportunidade de mostrar seu trabalho.
Resta apenas a pergunta que não quer calar: Até QUANDO será que a Imprensa dita "especializada" e as emissoras de radio e TV permanecerão CEGAS e SURDAS para isso???
Leia abaixo uma resenha completa da edição do evento que contou com o CASA DAS MÁQUINAS:
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