Ronnie James Dio: depoimento emocionante de Alex Skolnick
Por Job Henrique Casquel Silva
Fonte: Alex Skolnick Blog
Postado em 26 de maio de 2010
Alex Skolnick, guitarrista do TESTAMENT, postou a seguinte mensagem em seu blog oficial.
"Na semana passada, perdemos RONNIE JAMES DIO, não só um dos melhores cantores de hard rock e heavy metal, mas alguém que era educado, bem articulado e cavalheiro, algo quase anormal em um meio onde o comportamento de 'bad boy' é aceito e esperado por seus membros.
Quando alguém de sua estatura nos deixa, há um vazio coletivo sentido por milhões de fãs, criando um sentimento de unidade. Tal sentimento torna-se muito mais triste, mas surreal, quando se trata de alguém que te chamava pelo nome.
Tive a magnífica sorte de estar com Ronnie duas vezes em turnês. Em ambas, os horários diferentes de sua banda - BLACK SABBATH em 1992 e HEAVEN AND HELL no final de 2008 (mesma banda, nomes distintos) - faziam nossos encontros raros, como geralmente ocorre entre bandas de abertura e principais. Mas sempre que nos encontrávamos, ele sempre parava o que estava fazendo para dizer um oi.
Sua habilidade de lembrar o nome de todos era quase tão lendária quanto sua voz. Ele lembrava de todos da equipe, dos amigos, esposas e namoradas de todos e os fazia sentir o centro das atenções quando falava com eles. Apesar de nos 'conhecermos' bem, eu não vou fingir que conhecia Ronnie bem. Não é como se tivéssemos nos telefonado alguma vez.
Na verdade, não é bem assim...
Certo dia, estava procurando meu amigo Lorenzo, que era da equipe de som do DIO. Era no início do século XXI e nossas rotas iam se cruzar em Cleveland. Eu não consegui ir ao show do DIO, mas outro amigo meu foi e encontrou Lorenzo, que pediu pra me mandar um oi e passar seu novo número de telefone.
Quando eu liguei no dia seguinte, a voz não parecia a de Lorenzo. 'Alex Skolnick! Como vai você? Sempre gostei do seu estilo de tocar.' Ele perguntou o que eu queria fazer da vida e como estava tal pessoa e como estava aquela, pedindo pra eu, por favor, mandar um oi por ele. Esse cara sabia quem eu era e quem eu conhecia, mas eu não reconheci sua voz. 'Quem tá falando?' perguntei hesitante. Ele riu e disse 'Alex, é o Ronnie Dio!'
Meu queixo caiu. Ele explicou que havia perdido seu celular e pegava emprestado o de Lorenzo ou vice-versa (eu não lembro) e gentilmente se ofereceu para passar a mensagem e pedir pra Lorenzo me ligar, então nos despedimos. Qualquer que fosse aquela situação, eu mal processei e pouco me importei... Eu estava no telefone com Dio!
Imediatamente lembrei-me do show do DIO que eu fora em 1984, em San Francisco, o primeiro show que eu fui sem supervisão de adultos. Eu lembro de pedir permissão ao meu pai. Ele não entendeu de quem eu estava falando. 'DEVO?' ele perguntou.
Um amigo e eu fomos de metrô ao show, que aconteceu na Cow Palace Arena.
O disco 'Holy Diver', do DIO, era parte da trilha sonora do meu colegial e do colegial de diversos outros adolescentes dos anos 80. Vendo-o ao vivo, eu senti pela primeira vez que ouvia música para a minha geração.
Apesar da imagem do DIO ter diminuído muito nos anos 90 (graças em parte à revolta da indústria da música às bandas de hard rock dos anos 80), Ronnie James Dio ainda faz parte do pequeno grupo de vocalistas de hard rock/metal que conseguia lotar arenas em carreira solo. Os outros dois que vêm à minha mente são OZZY OSBOURNE, substituído por DIO no BLACK SABBATH, e ALICE COOPER.
Quando ele surgiu na cena nos anos 70, cantava com tanta aspereza, sujeira e qualidade, que estava lado a lado com mestres da época, como Bon Scott do AC/DC. Mas diferentemente de Scott e de outros, cujo som era impulsionado por cigarro, champagne e outras substâncias menos legais, Ronnie cuidava de sua voz com uma disciplina similiar a de cantores de opera ou da Broadway. Jamais foi um 'rock star espalhafatoso' como seus contemporâneos; vivia sua vida com moderação, o que resultava numa constância inabalável e execução impecável, com os quais a audiência podia contar, do início ao fim de seus shows.
Aliás, nos shows do Metal Masters (com HEAVEN & HELL, JUDAS PRIEST, MOTÖRHEAD e TESTAMENT) há mais ou menos um ano e meio, o consenso geral era de que Ronni, na casa dos 60 anos de idade, nunca havia soado tão bem. Naquela turnê, eu costumava me sentar no gramado com meus amigos após o show, ouvindo Ronnie, Tony (Iommi), Geezer (Butler) e Vinny (Appice) completando o céu estrelado de Agosto com canções como 'Heaven and Hell', 'Children of the Sea' e 'Neon Knights'. Eram noites de verão tão perfeitas quanto se pode imaginar. Agora Ronnie faz parte daquele céu estrelado.
Sua ausência será sentida pra sempre, e ele será sempre lembrado."
Morte de Ronnie James Dio
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps