Impiedoso: entrevista com a banda catarinense
Por Aline Pavan
Postado em 15 de novembro de 2018
Considerado um dos principais nomes do Black Metal catarinense, o IMPIEDOSO surpreendeu a todos quando, ao final de 2017, lançou o álbum "Reign in Darkness" figurando entre vários sites, revistas e blogs do Brasil como um dos melhores lançamentos do ano. Hoje conversamos um pouco como grupo para sabe rum pouco mais dessa repercussão, nova formação, projetos futuros e muito mais, confira.
IMPIEDOSO possui uma extensa carreira no cenário do Metal Extremo nacional. Conte um pouco para a gente sobre o início da banda e principais dificuldades encontradas nestes 20 anos?
Nahash - Foi sempre um desafio manter o IMPIEDOSO da forma como pretendíamos. Somos uma banda de Black Metal que nasceu nos anos 90 em uma cidade cheia de "inimigos". Sofríamos com acusações falsas da população ignorante e de rádios locais, éramos perseguidos pela polícia e jornalistas que buscavam matérias sensacionalistas, mas isso foi em uma época em que a internet engatinhava e haviam poucos veículos de comunicação e informações. As calúnias daquela época jamais seriam aceitas hoje sem a devida punição àqueles que as criaram. Nestas décadas de atividade houve vários outros problemas também, como várias mudanças na formação (a primeira devido ao suicídio de nosso guitarrista) e outras dificuldades "normais" pelas quais todas bandas underground passam (falta de ética de organizadores de eventos, falta de apoio, etc...). Então fica óbvio dizer que estamos ainda na ativa unicamente porque gostamos do que fazemos, e continuaremos assim por muito tempo ainda.
Vocês mudaram de formação recentemente, certo? Fale um pouco mais sobre essa mudança, quais os principais motivos? E o que vocês podem dizer sobre o Pestenegra?
Mortuum - Sim, recentemente tivemos uma mudança grande na nossa formação, o principal motivo dessas mudanças foi profissional. Os membros antigos continuam no nosso ciclo de amigos, o Pestenegra já era nosso amigo há muito tempo e foi uma grande honra termos ele como membro do Impiedoso. Pestenegra possui um vocal ainda mais agressivo e rasgado do que o que pode ser observado em nossos trabalhos anteriores com Azoth, que possui um estilo mais expressivo. A característica vocal dele deu uma cara diferente ao som da banda e interpreta nossos trabalhos antigos com uma outra performance.
Metal Extremo catarinense é um dos mais fortes do Brasil. Na opinião de vocês, a que se deve isso? Acreditam que o convívio das bandas e a união possam ter sido fundamentais para este estado ser um grande celeiro?
Pestenegra - O que posso dizer é que as bandas daqui são diferentes umas das outras, cada uma tem sua sonoridade característica e isso fortalece o cenário como um todo. A união existe de certa forma, mas apenas em pequenos grupos. Há divergências como qualquer lugar, mas sem nenhum tipo de conflito de maior proporção. Um ponto forte a ser destacado na minha opinião é o fato de que raramente se criam bandas de white metal em SC, não existem festivais desse viés e os poucos organizadores que já arriscaram trazer bandas dessa vertente mesmo que de outros estados, acabaram sofrendo boicote.
Na opinião de vocês, como tem sido a recepção da imprensa e público para o "Reign in Darkness"? Acreditam que este foi o material mais consolidado do IMPIEDOSO até o momento?
Nahash - Está sendo um álbum muito bem recebido, sem dúvida. Durante a concepção dele jamais passou pela nossa cabeça sermos indicados, tanto pela imprensa quanto pelo público, como um dos melhores álbuns lançados no ano. A boa aceitação de "Abismo da Desgraça" nos deu a premissa para acreditar que "Reign in Darkness" seria ainda melhor e superou nossas expectativas. Não tenho motivos para acreditar que o álbum vindouro não traga surpresas ainda melhores.
Qual a fórmula para este álbum ter sido tão bem recebido? Vocês acreditam que os fãs da banda estavam sedentos por um debut álbum?
Mortuum - Percebemos após o lançamento do disco que boa parte das pessoas que se interessaram pelo som do Impiedoso (e não conheciam) foram metalheads que curtem metal há muito tempo. Imagino que as nossas influências, o momento de composição das músicas ainda no fim da década de 90 e a gravação e produção foram dos motivos que podem ter contribuído para que o disco tenha sido bem-visto pelos fãs de Black Metal que estão há mais tempo na cena. A produção foi muito crua, a masterização foi orientada às premissas daquela época (sem loudness war) quando as músicas foram concebidas.
São inúmeras as bandas de Santa Catarina que já embarcaram para a Europa. Vocês acreditam que a vez do IMPIEDOSO esteja próxima?
Mortuum - Pensamos que sim. Já recebemos algumas propostas, principalmente dos nossos amigos do Besatt e dos nossos parceiros do Vulcano para realizar uma turnê pela Europa em alguns países, naquele momento por diversos motivos não podíamos assumir as datas, mas sempre tivemos vontade de desempenhar nosso som em outros países. Nos shows que temos feito fora do nosso estado nos últimos anos temos tido uma resposta muito boa. Conhecemos e conversamos bastante com diversas pessoas que nos seguiam há muito tempo a distância e conheciam bem o nosso som e nossa história. Mas também conhecemos metalheads que nunca ouviram falar do Impiedoso, mas fizeram questão de nos cumprimentar e nos dar um feedback muito positivo sobre a música da banda e nossa performance ao vivo. Ainda não tocamos na Europa, mas imaginamos que teremos uma ótima recepção lá.
Ouvindo "Reign in Darkness", é notório que a banda se aplicou muito, não só na parte composicional, mas também de gravação e produção. Como o grupo trabalhou neste aspecto? Composição, gravação e produção?
Mortuum - "Reign in Darkness" é um álbum diferente da grande maioria dos discos de Black Metal lançados nos últimos 10 anos, principalmente nos três quesitos mencionados. Mais da metade das músicas do disco foram compostas há muito tempo e foram lapidadas e filtradas por muitos anos, a gravação foi feita em um estúdio, porém de uma forma intencionalmente crua e ríspida e a produção e masterização orientada aos moldes da década de 90, sendo feita pelo Georgi Radev (Solarfall Studios, Alemanha) experiente no processamento de áudio, tendo trabalhando em alguns discos e demos no início dos anos 2000, o nosso disco estava em ótimas mãos.
E agora com esta nova formação, já podemos esperar um novo material? Desta vez 100% inédito?
Nahash - 100% inédito para quem nunca viu a banda ao vivo no início dos anos 2000. Existem várias músicas que nunca foram gravadas, mas sempre estiveram na memória e algumas delas serão registradas pela primeira vez publicamente.
Muito obrigado por esta entrevista, deixamos este espaço para as considerações finais.
Nahash - Obrigado inicialmente ao Rock Meeting pelo espaço cedido. E obrigado a todos que tem nos apoiado de alguma forma. Estamos juntos nessa batalha!
Mortuum - Agradeço ao feedback positivo de todos que têm visto o Impiedoso ao vivo, ou têm apreciado nosso disco, e principalmente aos que ouvem as músicas com atenção e interpretam com inteligência as nossas mensagens de repulsa ao pensamento religioso e sobretudo à característica técnica das nossas composições, suas estruturas complexas e melodias escuras e tortas.
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