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Jornalismo musical: um papo com Sérgio Martins

Por Ricardo Seelig
Fonte: Collectors Room
Postado em 28 de junho de 2019

Não existe no jornalismo musical brasileiro ninguém como Sérgio Martins. Com passagens pela Bizz e outros veículos, e há mais de vinte anos responsável pela área musical da revista VEJA, Sérgio é o mais completo crítico de música do país – ainda que não se considere um crítico.

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Profundo conhecedor de diversos gêneros, curioso por natureza e super acessível, o Sérgio sempre foi muito aberto para conversas sobre bandas e artistas, e também para dar dicas e participar de reportagens como essa.

Um grande cara, e que conta a sua história e dá a sua visão sobre o papel do jornalismo musical ontem, hoje e nos próximos anos.

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Pra começar, fale um pouco sobre a sua trajetória profissional. Onde começou, em quais lugares já trabalhou e onde podemos encontrar os seus textos hoje em dia.

Meu nome é Sérgio Martins, nasci em Santos (São Paulo) há 52 anos e completei duas décadas de VEJA no último dia 1 de junho. Passei pelas redações do jornal Notícias Populares (de abril de 1990 a dezembro de 1993), da revista BIZZ (janeiro de 1994 a janeiro de 1999) e Época (janeiro a maio de 1999). Também colaborei para os cadernos Ilustrada, da Folha de S. Paulo, Caderno 2, do Estado de São Paulo, Divirta-se, do Jornal da Tarde, para a revista Trip e sou um dos únicos brasileiros a assinar uma matéria na revista TIME. Sou autor de um perfil do Max de Castro, assinado a quatro mãos pelo jornalista Christopher John Farley.

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Quando você começou a escrever sobre música?

Inicialmente, para o jornal da faculdade Cásper Líbero, onde eu me formei. Mas meu primeiro texto profissional foi em 1989, para uma revista de surf chamada Hardcore. Era um perfil do Living Colour, que então tinha acabado de lançar o álbum Vivid.

O que o motivou a escrever sobre música?

Antes de escrever sobre música, eu me apaixonei pela música. Eu devia ter uns quatro, cinco anos quando cheguei na casa dos meus avós e assisti a Os Reis do Iê Iê Iê na extinta TV Tupi. Sabe aquela cena em que os Beatles são perseguidos pelas meninas, se disfarçam e depois tocam "I Should Have Known Better" na traseira do trem? Aquilo ficou grudado de uma tal maneira que tive uma crise de choro quando visitei o lugar pela primeira vez, em 1997. Graças a Deus, sempre teve música na minha casa - a gente ouvia Roberto Carlos, Secos & Molhados, etc -, mas foi com Os Reis do Iê Iê Iê que eu passei a me interessar verdadeiramente pela música.

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Tempos depois, fui prestar vestibular para Letras na USP. Na rodoviária de Santos, a caminho de São Paulo, compro uma revista BIZZ. A capa era do Tears for Fears. Eu folheio a publicação, olho as matérias e penso: "Poxa, eu gosto de escrever e gosto de música. Por que não tentar ser um jornalista musical?". No ano seguinte, entrei em jornalismo na Cásper Líbero e fui trabalhar como segurança de aeroporto para bancar minha faculdade e minha vida em São Paulo. Seis anos depois, realizei meu sonho de trabalhar na BIZZ.

Sobre quais gêneros musicais você escreve?

Meu velho, eu vou de Beethoven a Pablo do Arrocha, de Clara Nunes a Slayer. Eu não tenho um gênero musical predileto. Mesmo porque sempre fui conduzido pela curiosidade. Por exemplo: quando eu tinha quinze anos saiu o The Number of the Beast, do Iron Maiden. Passei a pesquisar heavy metal feito doido. Depois, me apaixonei pelo rock progressivo, pelo fusion, pelo reggae, pela soul music, pela música erudita, pela MPB. Minha própria trajetória pessoal, aliás, exige que eu tenha um conhecimento básico de cada estilo musical. O Notícias Populares exigia estudos profundos de sertanejo, axé, pagode, forró ... enfim, gêneros populares. A BIZZ pedia um conhecimento maior de rock alternativo e classic rock. A VEJA, por seu turno, de tempos em tempos pede para que eu faça reportagens sobre o universo erudito. Faço de tudo. Mas meus gêneros prediletos são reggae, soul music, hard rock/heavy metal e música clássica - em especial a obra de Beethoven e as sinfonias de Bruckner. Podia falar também de Beatles, mas estudar a obra deles é obrigatório, né?

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Quais foram as suas principais influências no jornalismo musical?

Meu grande ídolo do jornalismo musical chama-se Otávio Rodrigues. Ele foi meu guru e escrevia sobre música negra num tempo em que todo mundo só pensava nas bandas de garagem da Inglaterra e dos Estados Unidos. Os textos do Pedro Só são primorosos, o Carlos Albuquerque escreve com uma elegância e coloquialidade ... Ana Maria Bahiana é também outra referência importante. E não posso me esquecer de Paulo Cavalcanti, que morreu em março desse ano, e foi meu guru em rock dos anos 1950 e 1960 e uma das pessoas mais éticas e versáteis com quem eu tive o prazer de trabalhar.

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O que você mais gosta de produzir dentro do jornalismo musical?

Ricardo, sou um grande contador de histórias. Sempre gosto de falar (nesse caso, escrever) que não sou um crítico. Crítico é a Isabela Boscov, que escreve um texto primoroso a partir de um detalhe na sala de estar do herói da trama. Nunca gostei de fazer análises profundas, mas sim esmiuçar cada estilo, cada artista, cada cena. O fato de não me considerar um crítico me dá um olhar mais cuidadoso para estilos que são destroçados pela crítica - caso de sertanejo, arrocha, funk carioca/paulista, o forró eletrônico de um Wesley Safadão. Eu não olho para esses gêneros com desdém, mas sim tenho o cuidado de entender por que eles são populares e tentar entender a trajetória de cada artista. E com isso tenho resultados jornalísticos e pessoais incríveis. Porque muito cara que você acha brega tem um conhecimento maior do que os artistas que são badalados por aí.

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Na hora de analisar um disco, quais aspectos da obra você costuma avaliar e dar mais peso para chegar a uma conclusão sobre o álbum?

Minha preocupação é atender a critérios específicos. Se eu vou analisar um disco de rock, por exemplo, não vou usar parâmetros de música erudita. E, acredite, houve um imbecil de um grande jornal paulistano que usou Mozart para analisar a apresentação do U2 no Brasil, em 1998. Aí não dá, né? Sendo assim, eu jamais pegaria um disco do Pablo e reclamaria que as letras são mal elaboradas. Ora, elas foram feitas para o público dele! Agora, quando me deparo com um disco de um artista considerado grande, uso de critérios mais duros, claro. Como aconteceu com um trabalho da Marisa Monte, cujas letras eram de envergonhar a Paula Fernandes - a moça do "juntos e shallow now". Fui duro na minha avaliação porque a gente sempre espera o melhor de um artista graduado.

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Como é o seu método de escrita? Como é a sua rotina na hora de analisar um disco ou produzir uma matéria? Sai tudo de uma vez ou esse processo leva alguns dias?

Eu não tenho um método específico, meu maior problema é o lead. Se eu achar ele ... a matéria sai como se fosse psicografada. Mas às vezes, não vem com tanta facilidade. E aí eu fico rodando a redação, assisto a vídeos de entrevistas, escuto música até o santo baixar. Mas já pensei numa matéria enquanto fazia uma caminhada, por exemplo. Cada caso é um caso.

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Quais jornalistas musicais você gosta de ler e influenciaram o seu trabalho?

Otávio Rodrigues, Pedro Só, Carlos Albuquerque, André Barcinski e Paulo Cavalcanti (in memoriam). São caras que, embora tenham um conhecimento absurdo sobre o que escrevem, o fazem de forma menos empolada. Porque, na boa, se você quer saber se o sujeito é um picareta, observa a quantidade de adjetivos e termos técnicos que ele coloca no texto ou o excesso de teorias. Gostava muito das entrevistas do Thiago Sarkis, da Roadie Crew, e adoro as reportagens do Ricardo Schott (Pop Fantasma) e Julio Maria, do Caderno 2 do Estado de São Paulo. E de você, Ricardo Seelig, apesar de curtir o Greta Van Fleet (risos).

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Quais veículos sobre música você indica não apenas pra quem quer se informar sobre o assunto, mas também para quem deseja encontrar matérias de qualidade e que podem ser úteis para iniciar no jornalismo rocker?

A Mojo é sempre uma boa pedida, amo os textos do Jon Pareles e do Jon Caramanica, do New York Times, da Ann Powers (NPR Music), do Andy Gill (Independent), Alex Ross (New Yorker) e do Sasha Frere Jones. E livros, né? Mistery Train, do Greil Marcus, sobre as origens do rock americano, Yeah! Yeah! Yeah!, uma história do pop escrita pelo Bob Stanley e O Resto é Ruído, do Alex Ross, são obrigatórios para quem deseja escrever sobre música de uma forma menos empolada.

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Em uma época onde as opiniões são instantâneas, a crítica musical ainda importa e segue sendo relevante?

Ricardo, minha escolha de contar histórias ao invés de fazer somente críticas tem muito a ver sobre esse período de decadência pelo qual estamos passando - e olha que fui me tocar disso mais de vinte anos atrás. Eu sou de um período em que um jornal como a Folha de São Paulo tinha crítico de MPB, de jazz, de música clássica, de rock moderno e de rock clássico! Graças a Deus não tinha gente que falava sobre reggae porque senão eu jamais escreveria ali. Mas com o enxugamento das redações, o jornalismo não se pode dar ao luxo de ter um cara que escreva "apenas" (com aspas, porque sei que é uma tarefa difícil para cacete) sobre música. A gente tem de correr atrás da notícia, atrás da tendência. E muitas vezes ela não está no blog da moda ou na página da tua revista predileta. E hoje, com o excesso de blogs e sites e o escambau, todo mundo tem uma opinião. A crítica virou, então, irrelevante. E tem outro fator mais louco, né? Não existe disco ruim. Tudo é bom, tudo é lindo. Como disse um amigo meu, a crítica virou a "boneca amiguinha da Estrela". Esse tipo de comportamento é que fez a crítica ser cada vez mais ignorada.

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O quanto o hábito da leitura é importante na construção de um estilo próprio, de uma voz, dentro da crítica musical?

Leitura é tudo. Quem não lê coisa boa, não escreve coisa boa. Não tem vocabulário, não tem técnica narrativa.

O quanto consumir não apenas outros estilos musicais, mas também outras formas de arte, é importante para o trabalho de um jornalista de música?

Em 1998, eu fui jantar com o Dave Murray e o Janick Gers do Iron Maiden. De repente, a rádio na qual o restaurante estava sintonizado começa a tocar "One", do U2. Murray e Gers fazem um dueto na minha frente! E aí eu perguntei para eles: "Nossa, vocês do universo heavy metal curtem o U2?". O Gers responde: "Mas é uma PUTA de uma canção. Por que não gostaria dela?". Eu acho que o grande defeito de certos jornalistas ou consumidores é ficar restrito apenas a um gênero musical, apenas a um nicho. Porque música é algo maravilhoso, que estimula teu cérebro e anima tua alma. Por que SÓ heavy metal? Por que SÓ samba? Quem define o que é bom ou ruim? A gente tem de conhecer um pouco de tudo. Claro, não estou dizendo que uma música do Pablo do Arrocha é tão importante quanto qualquer coisa feita pelo Led Zeppelin ou por Tom Jobim. Mas em certos momentos, ouvir "Por Que Homem Não Chora" funciona mais que escutar "Dazed and Confused" versão The Song Remains the Same .

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O que é ser um crítico de música hoje em dia?

É se sentir como o último dos moicanos.

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Sobre Ricardo Seelig

Ricardo Seelig é editor da Collectors Room - www.collectorsroom.com.br - e colabora com o Whiplash.Net desde 2004.
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