Hellway Patrol: tocando Metal de rosa e arco-iris contra os preconceitos.
Por Willba Dissidente
Fonte: Rock Dissidente
Postado em 30 de agosto de 2019
Vindos de Londrina, cidade no oeste paranaense apelidada pela burguesia de "Pequena Londres", o HELLWAY PATROL é uma banda tradicional de Metal que nada tem a ver com a mediocrasia. Power Trio por escolha própria e por vocação, os "pé vermelhos" quebram pescoços e paradigmas com os flagelos impostos à raça humana pela ganancia de uns poucos. Não obstante estar "começando", o conjunto é formado por três sobreviventes da fumaça tóxica do underground o que já os possibilitou registros fonográficos, turnês brasileiras, internacionais, participações de musicistas de diversas bandas (KIKO SHRED, WOSLOM, TORTURE SQUAD), um festival próprio e até uma coletânea. Tudo em prol do Metal Nacional, em especial a cena londrinense, e das ideias libertárias.
Para explicar, ou macular, o momento que o HELLWAY PATROL está vivendo, o baixista, vocalista e membro-fundador do grupo, o irreverente Ricardo Pigatto, bateu um papo com Willba Dissidente do Rock Dissidente. Confira abaixo antes que a deformação causada pela intoxicação nuclear perturbe seus sentidos!
01 . Pigatto, aparentemente, o HELLWAY PATROL é um power-trio de Heavy-Thrash Metal com letras tratando de várias facetas do apocalipse nuclear. Aparentemente, pois você tem uma outra concepção para seu grupo. Poderia nos explicar?
Saudações Willba! É um prazer estar trocando essa idéia com você. Então, o HELLWAY PATROL é um trio de música obscura e pesada, influenciado por várias escolas do Metal e de fora do metal também. Os primeiras composições vieram de jams em cima de coisas feitas para projetos anteriores que nunca haviam sido usadas, a maioria realmente com pegadas as vezes Heavy e as vezes Thrash, mas acredito que som que realmente vai definir a banda ainda não foi lançado. Ainda estamos experimentando. A inspiração pra temática foi pós-apocalíptica, inspirado tanto pelo mundo de Mad Max como quanto desastres "naturais" provocados pela ganancia do homem. É uma faceta dos tempos sombrios que temos vivido e nos próximos lançamentos provavelmente abraçaremos mais temas além desses.
02 . Você começou a carreira no DOMINUS PRAELLI, grupo de True Metal e então partiu para o FABULOUS BANDITS, que é hibilly, e o TURBOZÏLLA, que é Hard Rock. Quais os motivos o fizeram voltar para o Metal com o HELLWAY PATROL? Era a hora certa?
Eu acho que a hora certa de fazer metal aconteceu há algumas décadas atrás! haha!
Mas brincadeiras a parte, por muito tempo achei que eu não conseguiria contribuir com mais nada para o estilo, criativamente falando, entende? Achei que não havia mais campo para explorar e que estaria fadado e repetir as mesmas formulas criadas pelas lendas do metal, mas não tão bem quanto eles. Mas no final das contas, esse anos que passei tocando outros estilos musicais, aprendendo em outras escolas e até ouvindo bastante coisa nova, descobri que havia sim campos para explorar e trazer algo fresco para esse estilo que a gente tanto ama. E o principal, temos nos divertido muito fazendo isso.
03 . Desde os anos 1990 que as bandas de Metal mais tradicional, e as de Thrash Metal, vêm cada vez menos fazendo uso da caracterização visual de palco. Por que buscar a volta desse elemento agora?
A resposta mais simples é porque eu me sinto bem fazendo isso. Eu gosto. Também acho que nossa função como banda também é entreter o público durante o show e uma apresentação com o visual mais carregado faz sentido. Mas ainda assim acho que o som tem que falar mais alto.
04 . O HELLWAY PATROL já fez uma tour nacional e uma européia e ainda não lançou seu primeiro full-length. Vocês acham que para divulgar a banda estar na estrada é mais importante que se trancar no estúdio? Após um EP e um single vocês sentem que é hora de se lançar um disco completo ou isso é somente uma pressão comercial que não se aplica à cena Metal?
Olha Wilba, eu não acho é nada! Hahaha! Na realidade a gente não tem pensando muito a respeito do que a gente tem feito. Não temos metas traçadas e se existe uma formula certa para bandas, a gente desconhece. Apenas vamos aproveitando as chances que aparecem. Infelizmente o tempo para nos juntar e compor tem sido pouco ultimamente, por isso ainda não temos um full-length, mas gostaríamos de lançar um em breve.
05 - Voltando a tour européia, ela aconteceu a convite do cantor estadunidense WILLIE HEALTH NEAL. Vocês chegaram a fazer mais de um show por noite? Como funcionava ser banda se apoio de um musicista country mas ter um grupo de Metal para divulgar? Aconteceu algum momento SPINAL TAP na estrada que valha a menção? Querem voltar ao Velho Mundo?
Esse convite do Willie, além de uma honra, foi fantástico. Acho que nunca teríamos uma chance de ir para a Europa com o HELLWAY PATROL nesse ponto da nossa carreira. Fomos já contando com todo o suporte de um músico mais conhecido e conhecemos a cena de lá de outra maneira. Tiveram shows só do Hellway, mas a maioria dos shows foram só material do Willie. Porém o publico no geral se mostrou muito curioso a respeito de sermos uma banda de Metal tocando Country. Então, a pedidos, acabávamos dando uma palhinha do nosso show no show dele e tivemos que tocar Country nos show de Metal também e vendemos muito merch de ambas as bandas em todos os shows. Essa experiencia foi phodassa! Vamos voltar ao velho mundo ano que vem com mais shows do HELLWAY PATROL inclusive.
06 - Qual o conceito da canção "Satan Free Me"? Estaria o HELLWAY flertando com o satanismo?
Essa pergunta me fez lembrar do "Padre Quemedo e o Filho do Capeta", sketch do programa "Hermes e Renato", recomendo! Hahaha! Os membros da banda tem uma filosofia Ateísta com o pé no Agnosticismo, entende? Não acreditamos em nada, porém não acreditamos que tenhamos todas as respostas também. A música fala sobre a instituição da igreja que vem há séculos destilando ódio, violência e desigualdade. Manipulando e deturpando a fé das pessoas. Fala da inquisição, de tele-evangelizadores, e de toda essa podridão. "Satan" na música não é uma entidade, mas é usado no sentido da tradução direta da palavra: questionador, opositor.
"Quem questiona se liberta".
07 - Seus discos já tiveram participações de KIKO SHRED e membros do WOSLOM e do TORTURE SQUAD. Essa participações são trocas de experiências, meramente estéticas, comerciais ou uma característica que vocês pretendem manter nos lançamentos futuros?
Já vimos bandas que entram em contato com produtores de artistas mais famosos e até pagam para ter uma participação em alguma gravação autoral ou cover. Isso deve ser normal na industria, mas não foi nosso caso. Todos as participações ocorreram por amizade e afinidade mesmo. Apesar do HELLWAY PATROL ser uma banda nova, eu e os outros integrantes somos bastante ativos na cena como apoiadores, organizadores e até com outros projetos. Enquanto estávamos gravando nosso primeiro registro eu estava numa tour como vocalista do Dominus Praelii junto com o Tim Ripper. Mostrei alguns sons da pré para o Kiko, guitarrista do Tim na tour, que na hora disse que queria participar. Ficamos extremamente honrados e escolhemos um som com uma pegada mais power e as guitarras dele ficaram destruidoras. Essa participação acabou possibilitando a nossa primeira tour, que não ocorreria por compromissos do Thiago e do João Bolognini, batera na época, e foram cobertos pelo Kiko Shred e Lou Tagliari (ex- SLIPPERY). Ambos puta músicos e pessoas incríveis de se conviver. Eu já tive também o prazer de receber em casa o pessoal do Woslom e do Torture Squad e enquanto a gente compunha "Satan Free Me" e "Fear The War Machine" eu sentia que elas pediam as participações da May Undead e do Silvano. Eu conseguia ouvir o vocal deles, que considero entre os melhores vocalistas da atualidade, complementados pelos meus nessas músicas. Rolou o convite e eles aceitaram. O resultado tá aí pra vocês ouvirem. As vezes contamos com outras participações ao vivo também.
Quando o Thiago (Franzim, guitarras) foi agredido covardemente por um policial militar da ROTAM (Rondas Ostensivas Táticas Motorizadas) e precisou se afastar dos palcos por conta da cirurgia reparadora vários guitarristas de Londrina se prontificaram a ajudar o Hellway a cumprir a agenda, entre eles Danilo Cassante, Richard Felix e Francisco (Chicão) Neves. Estamos sempre abertos a parcerias no nosso som e a convites para outros projetos também.
08 - Para divulgar ainda mais o HELLWAY PATROL, vocês criaram e organizam o HELLWAY FEST. A ideia é similar a do TUATHA DE DANANN com o ROÇA IN ROLL? Quantas edições já aconteceram e o que você pode nos contar mais do evento?
Até agora foram apenas duas edições. Na primeira trouxemos o Claustrofobia e o Woslom e convidamos o Corpsia pra participar. Na segunda trouxemos o Torture Squad e convidamos Terrorsphere, Hellpath e Asco. O festival não tem sido prioridade pra gente, não sei se teremos uma próxima edição, mas estamos sempre envolvidos de alguma maneira em algumas produções aqui em Londrina. Ano passado trouxemos também Drauggard da Russia e esse ano traremos Warhammer da Grécia. Se o Hellway Fest vai continuar não é importante, o importante é fomentar a cena da maneira que for.
09 - O que é a coletânea Amadeus Mosh Pit?
Fazia um tempo que eu estava observando a cena da região impressionado com a qualidade das bandas que temos por aqui. Resolvi juntar numa coletânea e contei com o apoio da cervejaria Amadeus para a prensagem, o que deu origem ao nome. São 11 bandas: Corpsia, Hereticae, Hellway Patrol, Acid Brigade, Hellpath, Sangrano, Terrorsphere, Guro, Christofobia, Hate Before Death e Iatrogenic e quem assina a arte é o ilustrador Matheus Arrigoni. O lançamento será num festival gratuito no pátio da cervejaria próximo dia 15(jul/2019) com show de 6 dessas bandas.
10 - A canção "Raise Your Glass" fala do crime ambiental ocorrido aqui em Minas Gerais, na cidade de Mariana. Esse ano, um outro crime do tipo aconteceu em Brumadinho. Outra vez, a o estado Burguês inocentou a empresa mineradora que continua sem se preocupar com a segurança dos seus empregados ou da população. Qual o posicionamento do HELLWAY quanto a isso? Vocês não sentem medo de misturar temas políticos no Metal, visto que muitos isentões torcem o nariz para temáticas assim?
Nossa música tenta expor esse tipo de situação calamitosa. Achamos que a arte em geral e a politica se misturam sim, e que queiram ou não, a politica está em todo o aspecto da nossas vidas. É uma lástima ver a vida de tantas pessoas arruinadas em prol do lucro de acionistas e pior ainda um estado conivente com essa situação.
11 - Vocês participariam de uma segunda edição da coletânea como Satan Smashes Fascims, lançada pelo MRU? No contexto atual do Brasil, se afirmar como antifascista é importante?
Seria uma honra participar de uma coletânea como essa ao lado de tantos bandas phodassas. Nós não nos anunciamos como uma banda anti-fascista porque achamos que ser anti-fascista é requerimento mínimo para um ser humano, sabe? Não vamos nos promover em cima do mínimo. Somos uma trio de música pesada que se dedica pra lançar material da qualidade e fazer bons shows e é esse o motivo pelo qual queremos que as pessoas escutem nosso som. Nos conhecendo, que entendam nossas letras, nossa mensagem e que repudiamos o fascismo. Não somos "isentões" e nossa luta é no dia a dia e o tempo inteiro. Não julgamos a maneira como outras bandas se promovem, só temos nosso próprio jeito de lidar com isso.
12 - Finalmente, em muitos shows de Metal o público tem puxado gritos de "Fora Bolsonaro" ou as bandas tem interagido com o público a buscar essa reação. Como é num show do HELLWAY PATROL? (*)
Infelizmente isso ainda não aconteceu, mas já participamos desse coro assistindo a shows de outras bandas e vamos apoiar qualquer iniciativa dessas nos nossos shows também. Acho que por a cena no norte do Paraná, tanto bandas quanto publico, ser composta por uma grande maioria de anti-fascistas, o coro nos eventos se tornam redundantes. Mas estamos sempre participando das manifestações que ocorrem nas ruas de Londrina em peso.
(*) NOTA DO AUTOR.
O show com coros de Fora Bolsonaro aconteceu entre a realização e a publicação dessa entrevista. Na ocasião o HELLWAY PATROL tocou com outras bandas de "Rock" na Conha Acústica da cidade de Londrina em comemoração ao dia internacional do Rock; sendo um fest aberto, de graça e em praça pública. Pela própria proposta do evento, o grupo decidiu se apresentar de rosa e com bótons e camisetas do arco-iris como uma manifestação e protesto. Na concepção do HELLWAY PATROL a mensagem libertária tem de ir a todos, não só aqueles que já são antifascistas, mas principalmente para aqueles que só tem a mídia enviesada como forma de informação. Sem saber se iam ser vaiados, chegaram dando a mensagem entre as músicas, sendo ovacionados, com a galera empolgada gritando contra o governo Bolsonaro.
13 - Espaço para suas considerações.
Muito obrigado pela entrevista Willba, espero te receber em Londrina novamente e te encontrar mais vezes por esse mundão! Obrigado a todo mundo que acompanha a banda e o Rock Dissendente. Nos vemos em breve!
HELLWAY PATROL:
Ricardo Pigatto - Baixo e Vocal (Arauto do Apocalipse).
Thiago Franzim - Guitarras (Riffs do Armageddon).
Netto Pavão - Bateria (Tremores da Calamidade).
Discografia:
Hellway Patrol (Cd, Demo, 2017).
Desert Ghost (Vinil, EP, 2018).
Amadeus Mosh Pit (Cd, Participação em coletânea, 2019).
Sites Relacionados:
http://facebook.com/hellwaypatrol/
https://hellwaypatrol.bandcamp.com/
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