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Em 25/04/2015: Começava o Monsters of Rock de 2015 no Brasil

Por Rafael Ferrara
Fonte: Radio Catedral do Rock
Postado em 25 de abril de 2020

Em 25 e 26 de abril de 2015, acontecia a 6ª e última (até então) edição do festival Monsters of Rock no Brasil, evento que surgiu na Inglaterra em agosto de 1980. A primeira edição no Brasil aconteceu em 1994 e, dentro do modelo original inglês, foi composto por bandas exclusivas do hard rock e heavy metal. Todas as edições aconteceram em São Paulo, sendo que a edição de 1996 também aconteceu no Rio de Janeiro.

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As duas últimas edições do festival em solo brasileiro (2013 e 2015) tiveram um diferencial de destaque, aconteceram em dois dias diferentes e, mesmo assim, com um line-up trazendo nomes de peso do cenário do rock mundial. Aliás, as duas últimas também aconteceram no Arena Anhembi, local que comportou com relativo conforto o enorme público do festival. A última edição contou com 15 bandas, sendo que o Judas Priest tocou nos dois dias como "Very Special Guest". Em contrapartida, apenas uma banda nacional entrou para a lista dos artistas do festival que já teve Angra, Korzus, Project 46 e Dr. Sin duas vezes.

Quem abriu o primeiro dia foi a banda De La Tierra, que pode ser considerada como supergrupo latino. Organizada pelo guitarrista brasileiro Andreas Kisser, a banda conta com o argentino Andrés Gimenez (A.N.I.M.A.L) no vocal e guitarra, Harold Hopkins (Puya) de Porto Rico no baixo e o baterista mexicano Alex González (Maná). Em um show obviamente curto, eles fizeram um show bem competente com direito ao cover de Polícia do Titãs.

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Na sequência, diretamente da Alemanha, Ralf Scheempers liderou o power metal do Primal Fear. Como era de se esperar em uma banda desse estilo, o vocalista precisa ter alcance vocal e, aparentemente, Ralf não faz feio ao vivo. Um dos destaques da banda é baterista brasileiro Aquiles Priester que possui um currículo gigantesco, onde colaborou com mais de 15 bandas e artistas, dentre eles Angra, MASP, Paul Diano e Noturnall. A banda trouxe para o festival o show da turnê do álbum Delivering the Black lançado no ano anterior.

Na sequência, a terceira banda do primeiro dia caiu de paraquedas no ano errado, talvez por conta de um vento desfavorável, digamos assim. Direto da Califórnia, a banda de nu metal Coal Chambers fez um baita esforço para agradar um público não muito afoito para ouvir o seu tipo de som. A banda até possui trabalhos bons, como o segundo álbum de 1999 com nome de Chamber Music, mas definitivamente eles se encaixariam melhor na edição de 2013 que contou com bandas semelhantes como Korn e Limp Bizkit. Além de músicas dos álbuns anteriores, a banda tocou no seu relativo curto show, músicas do álbum mais recente Rivals lançado no ano anterior.

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Também da Califórnia, o pessoal do Rival Sons foi o quarto a pisar no palco no primeiro dia de festival. Apesar de serem relativamente novos, eles soaram como veteranos com sua música com muita influência dos anos 70. Eles, que estrearam em 2009 com o álbum Before The Fire, já tinham quatro álbuns na carreira, o que é um ótimo número para quem estava com 6 anos de estrada apenas. Destaque para o segundo e terceiro álbum, respectivamente de 2011 e 2012, Pressure And Time e Head Down. A sonoridade da banda foi aprovada pelo público que se sentiu seduzido pelo baterista Mike Miley que tocou com uma camisa do Brasil.

A quinta banda do dia foi a Black Veil Brides, composta por uma garotada também da Califórnia. Com um visual bem diferente para line-up do dia, a banda era aguardada por adolescentes de maquiagem pesada e lentes de contato de cores diferentes em cada olho. A escalação da banda para o dia 25 de abril já foi equivocada. Fora isso, colocar para abrir para o Motörhead complicou mais ainda as coisas para os garotos que nos primeiros gritos de "Motörhead" da plateia se mostraram impacientes e incomodados. O show durou algo em torno de vinte minutos. A banda saiu do palco e logo depois voltou. Foram recebidos com mais gritos de "Motörhead" e vaias. O vocalista Andy Biersack tentou acalmar os ânimos pedindo compreensão do público: "Sei que vocês não estão aqui necessariamente para nos ver, mas obrigado mesmo assim. Também gosto de Motörhead, não sei por qual motivo vocês estão gritando comigo.". Andy não obteve sucesso e o show acabou. Com um visual que flerta mais com o glam rock, talvez as coisas tenham sido diferentes para o Black Veil Brides no dia seguinte, que tinha o Kiss como banda principal. É uma hipótese que nunca conseguiremos confirmar.

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Definitivamente o primeiro dia de shows do evento estava com um uma sombra negra sobre ele. Aliás, literalmente, pois o dia que começou com sol, rapidamente virou uma chuva fina enjoada que não dava sinal de trégua.

Voltando à metáfora da nuvem negra, depois de uma recepção bem fraca para a banda Coal Chambers e do lamentável episódio envolvendo a garotada do Black Veil Brides, foi a vez de um dos maiores nomes do festival deixar o público na mão. Durante toda a tarde, notícias de que o baixista e vocalista da banda Motörhead Lemmy estava passando mal e que o show seria cancelado rondavam não somente os bastidores, mas pelo público também. O que era receio, virou confirmação quando os outros dois membros da banda, Phil Campbell e Mikkey Dee, subiram ao palco para anunciar oficialmente o cancelamento do show. O público até que reagiu de forma razoável, acredito pelo fato de Lemmy ter um enorme carisma e respeito. Para não deixar as mais de 30 mil pessoas na mão, a dupla aproveitou o palco que estava montado e convidou Derrick Green e Andreas Kisser para fazer um pequeno show. Eles tocaram Osgasmatron, Ace Of Spades e Overkill. Foi o suficiente para o público entender como um sincero pedido de desculpas.

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Com a frustração por conta do problema gastrointestinal de Lemmy, ficou uma enorme pressão sobre o Judas Priest para dar um show que trouxesse um novo ânimo à segunda metade do primeiro dia de festival. E parece que é sob pressão que o Judas Priest gosta de trabalhar, tanto que fizeram um show maior que o previsto para alegria da plateia. No setlist, músicas novas como Dragonaut e Halls Of Valhalla, ambas do álbum mais recente de 2014 de nome Dragonaut. Clássicos também não faltaram para encher uma apresentação maior que o esperado, destaque para Breaking the Law do cultuado álbum de 1980 British Steel e Painkiller do álbum homônimo de 1990. A cereja do bolo, como sempre, foi a tradicional cena do vocalista Rob Halford sobre uma imponente motoca.

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Para fechar a noite, Ozzy Osbourne, o príncipe das trevas, entrou com o pé na porta com uma sequência de três clássicos: Bark At The Moon, Mr. Crowley e I Don’t Know. Nem o fato da incansável chuva fina ter ficado mais forte durante o show desanimou um público que teve um dia de altos e baixos. Aliás, água não foi problema, pois Ozzy deu alguns jatos de mangueira no pessoal do gargarejo. Durante o show, revezando com canções agitadas, Ozzy tocou também faixas mais lentas, como Road To Nowhere de 1991 do álbum No More Tears. Para fechar a apresentação com chave de ouro e coroar o primeiro dia de festival, Ozzy sapecou Paranoid, faixa título do álbum clássico de 1970 de sua ex-banda Black Sabbath.

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O segundo dia veio com incertezas a respeito da chuva e da expectativa em relação às bandas. O receio de uma reação negativa da plateia igual ocorreu no dia anterior com a Black Veil Brides era claro. As pessoas que se aventuraram nos dois dias já chegavam ao Anhembi Arena especulando como seria o comportamento da plateia com cada apresentação.

Com esse clima de expectativa, a banda nacional Dr. Pheabes subiu ao palco com relativo receito. Afinal de contas, na edição anterior (2013), eles também tocaram e não tiveram uma recepção muito calorosa. A banda de hard rock até se esforçou, mas eles não possuem desenvoltura para um festival daquele porte. Então, eles resolveram colocar um atrativo extra no palco, uma dançarina de pole dance. Talvez esse recurso seja um sinal de que eles mesmos não acreditavam no próprio potencial. Aliás, o único potencial da banda até hoje tem sido os irmão Eduardo e Fernando Parrillo (vocal e guitarra respectivamente) que são um dos sócios de uma seguradora de saúde que comumente patrocina eventos de rock e isso tem sido o que os credencia aos festivais.

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Em seguida foi a vez da farofada divertida da banda de Hollywood Steel Panther. Influenciados por Poison e Motlëy Crue, os caras fizeram um glam rock de primeira e animaram a galera com músicas como Party All Day, Death To All But Metal e Community Property, todas do segundo álbum Feel The Steel (2009). A banda que estava com a turnê do álbum de 2014 All You Can Eat incluiu no set Party Like Tomorrow Is The End Of The Worl. Como de hábito, muitas mulheres levantando as blusas para aparecer no telão. Destaque para a modelo Jéssica Constantino que conseguiu algo mais do que poucos segundos no telão. A modelo que, já posou para revistas do cenário do rock, foi convidada para fazer sua estripulia no palco. Ao som de 17 Girls In A Row, Jéssica deu seu show particular e roubou a cena em uma apresentação que facilmente poderia estar mais próxima das bandas principais.

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O terceiro nome do dia foi a maior estrela do festival. Bem, ao menos no ponto de vista do próprio. Yngwie Malmsteen é um talentoso guitarrista de nome consolidado no meio do rock, principalmente por suas virtuoses, contudo, ele se acha muito mais artista do que realmente é. Talvez, por conta disso, seus shows na grande maioria possuem um ar blasé e enfadonho como quem está fazendo um enorme esforço para agradar essa multidão que não é digna do meu talento. No festival de 2015, Yngwie manteve a média e fez um show no limite do básico. Quase não se comunicou com o público, demonstrava uma clara falta de interesse, além de escolher um setlist que não é daqueles que empolga a multidão. Não ter tocado músicas mais conhecidas como You Don’t Remember I’ll Never fez por aumentar a frustração do público. Para piorar, quando tocou uma música mais conhecida como I See The Light Tonight, ele optou por uma versão curta e alterada. Nem dava para argumentar que Yngwie estava tentando emplacar faixas de seu álbum mais recente, pois ele não lançava um álbum fazia três anos. Ficou um forte ar de decepção ao final, inclusive para os fãs já acostumados com o padrão de Malmsteen.

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A banda alemã Unisonic de hard rock e power metal foi a quarta a subir no palco e era inevitável notar a expectativa do público em ver Michael Kiske (vocalista) e Kai Hansen (guitarrista), ambos ex-membros da banda também alemã Helloween em ação. Diferentemente do show anterior, Kiske e companhia entraram em cena para ganhar o público. Obviamente tocaram músicas já consideradas famosas da banda como Unisonic do seu primeiro álbum homônimo de 2012. Todavia, tocaram faixas recentes do último álbum, de 2014, intitulado Light Of Down como For The Kingdom e Not Gonna Take Anymore. Além disso, para o delírio geral, eles também tocaram March Of Time e I Want Out da banda Helloween, ganhando a plateia de vez e mostrando como se monta um show capaz de agradar um público tão diversificado.

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A quinta atração do dia foi a Accept, banda de heavy metal também alemã. O quinteto subiu ao palco com expectativa e desconfiança porque seus fãs se sentiam ainda bastante órfãos do vocalista do Dirkschneider que saiu da banda após um breve retorno em 2005, quando a banda teve um hiato desde 1997. Com a saída de Udo, a banda voltou a ficar parada por mais quase cinco anos e, depois, retomou aos trabalhos com Mark Tornillo nos vocais. Plateia a postos, Mark assumiu o papel de frontman e conduziu o show com carisma e entusiasmo. Faixas recentes como Stalingrad se revezavam no repertório com clássicos como Fast As a Shark, Metal Heart e Balls To The Wall que fechou uma apresentação para consagrar Tornillo com a plateia brasileira.

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Era chegada finalmente a hora da banda mais esporrenta da história. A banda Manowar de Nova Iorque entrou disposta a quebrar a má impressão na sua última passagem pelo país e reforçar o apelido de banda mais alta do rock. Eles facilmente conseguiram fazer ambos, apesar de que, na parte sonora, eles exageraram um pouco. O som estava excessivamente alto e ruídos e microfonias foram aparecendo no decorrer do show. Sobre a empolgação, nada a criticar. Uma apresentação bastante dedicada com direito a Joey DeMaio fazendo um breve discurso em português sem precisar de cola. Parte do show foi inspirado no álbum Kings Of Metal de 1988 que foi regravado no ano anterior (2014). No repertório, não faltaram também clássicos como Manowar, Metal Daze e Battle Hymns, todas do consagrado álbum de estreia de 1982 de nome Battle Hymns. Aliás, em Metal Daze, o guitarrista brasileiro Robertinho do Recife subiu ao palco e tocou com a banda. Foi uma grande troca entre banda e público que respondia a cada incentivo da banda que só envelhece na contagem de aniversários mesmo.

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Rob Halford e seu Judas Priest foi logo a seguir em uma situação delicada. A banda subiu ao palco sendo recebida por uma plateia que tinha abado de curtir três shows desgastantes de um total de seis. Não bastante, o fato de ter tocado na noite anterior criava uma situação em que inevitavelmente um show seria comparado com outro. Para quem pode pagar dois ingressos de quatrocentos reais, ver dois shows iguais é cansativo, mesmo para os maiores dos fãs. Não bastante, era conhecido que, na noite anterior, o Judas Priest tinha feito um show maior para compensar o cancelamento do Motörhead. Dito e feito, a banda fez um show mais curto, sem as faixas Love Bites e You’ve Got Another Thing Comin. Do restante, tudo igual, inclusive a subida na motoca para Hell Bent For Leather.

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Para fechar a noite e o festival, eis que entra a "Banda Mais Quente Do Mundo". Sob esse tradicional e apoteótico anúncio, os quatro mascarados surgem ao som de Detroit Rock City para iniciar o seu circo do rock and roll. Nenhuma banda consegue fazer um show performático como do Kiss, que consegue entreter até os que não são seus fãs. Gene voando após cuspir sangue falso, Eric com sua bateria suspensa metros acima do palco, Tommy e sua guitarra que solta fogos de artifício e Paul passando de tirolesa por cima da plateia para um mini palco exclusivo são algumas das façanhas que ele executam no palco. Fogos, explosões e papel picado são um show à parte para uma apresentação que traz clássicos como Parasite, I Love It Loud, Lick It Up e até Pshyco Circus, faixa de um dos últimos álbuns da sua extensa lista de gravações. Nem a voz de Paul que não é a mesma faz tempo desanima o público que entra na onda da presepada festiva do Kiss. Ao final, a tradicional Rock And Roll All Night encerra tudo e o público vai se dispersando em definitivo ao som da gravação de God Gave Rock And Roll To You.

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O festival teve muitos mais acertos que erros. O tradicional problema dos preços das bebidas e comidas não é algo exclusivo desse festival. Trata-se de algo já esperado em todo grande evento e talvez seja consequência das gananciosas taxas cobradas pelos produtores. Das escalações, a ideia de Judas Priest em dois dias se mostrou menos eficiente no ponto de vista do público do que na economia de cachê. E na montagem dos line-up, mesmo sabendo que agenda e exigências de bandas influenciam bastante, eu teria feito algumas alterações. Yngwie ficaria melhor no primeiro dia, assim como Black Veil Brides ficaria melhor no segundo, antes de Steel Panter que deveria estar "mais próximo" do Manowar. De toda forma, nos resta ficar saudosos com essa edição do festival e torcer para que em breve tenhamos uma nova.

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O Arquivo do Rock é um programa de 1 hora de duração que vai ao ar na Rádio Catedral do Rock todo sábado às 14 horas. O Episódio 11: Cinco anos de Monsters of Rock 2015 foi ao ar no dia 18 de Abril de 2020 e está disponível no formato de Podcast no Spotify e Deezer.

Rafael Ferrara é locutor da Rádio Catedral do Rock (90,1 FM – Petrópolis) onde apresenta o programa Arquivo do Rock.

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Sobre Rafael Ferrara

Rafael Ferrara é locutor da Rádio Catedral do Rock (90,1 FM - Petropólis - RJ) onde apresenta o programa Arquivo do Rock todos os sábados às 14 horas. Ele também apresenta o podcast Faixa a Faixa com Jorge Felipe Coelho. Apaixonado por música, Rafael Ferrara acredita que música é memória afetiva porque preenche os espaços da vida. Seu Instagram é @ferrararcr
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