Arquivo do Rock: Uma galera que não foge da labuta quando o assunto é gravar rock

O feriado de 1º de maio é uma data para celebrarmos a luta por melhores condições de trabalho em todo o mundo. A escolha da data foi inspirada na greve que se iniciou em 1º de maio de 1886 na cidade de Chicago com a finalidade de obtenção de uma redução na jornada de trabalho que chegava a exaustivas 17 horas. Neste Arquivo do Rock, inspirado no dia do trabalhador, irei montar uma banda com os músicos que têm a imagem de verdadeiros operários do rock. A proposta é formar uma banda que tenha músicos que no seu histórico tenham passagens por muitas bandas e/ou muitos projetos próprios. Isto é, uma banda formada por uma galera que não foge da labuta quando o assunto é gravar rock and roll.

Toda grande banda precisa começar pela cozinha. E, para assumir a bateria, um dos nomes que é reconhecido mundialmente como o maior baterista de estúdio por conta de suas participações em projetos, Jeff Porcaro.

Batizado como Jeffrey Thomas Porcaro, Jeff Porcaro nasceu em Connecticut em 1º de abril de 1954. Sua predileção pela bateria foi por conta da influência de seu pai, Joe Porcaro, que também era baterista. Aos sete anos, já recebia aulas do próprio pai e depois seguiu para professores com mais experiência. Logo cedo, ele começou como músico de estúdio, carreira que sempre foi o seu pilar principal. Nesse período, Porcaro já tinha trabalho na gravação de discos de grandes nomes como Seals & Crofts, Steely Dan, Boz Scaggs, a dupla Hall & Oates, Joe Cocker, Carly Simon, além de outros nomes.

Aos 24 anos, junto com o colega de estúdio David Paich, Jeff iniciou a banda Toto que foi completada com seu irmão Steve Porcaro, além de David Hungate, Steve Lukather e Bobby Kimball. Como músico da banda Toto, num decorrer de 14 anos, Jeff gravou os oito primeiros discos, incluindo clássicos como Rosana, Hold the Line, I’ll Be Over You e, a música que virou meme, Africa.

Em paralelo, Jeff possui mais de 50 álbuns de outros artistas com quem já gravou e dos mais distintos estilos. Ele gravou a bateria em algumas faixas como Mother do Pink Floyd, Silly Love Songs do Sir. Paul McCartney e It’s a Miracle do Roger Waters. Gravou também com nomes da música romântica como Celine Dion, Michael Bolton e Luis Miguel. Grandes vozes do jazz também usaram a técnica de Porcaro, como Al Jarreau e George Benson. Porcaro participou de álbuns de outros grandes nomes da música como Dire Straits, Eric Clapton e Sir. Elton John. Jeff teve a honra de gravar também com os dois maiores nomes do pop, Madonna e Michael Jackson. Sim, é Jeff Porcaro em Beat It fazendo parceria com Eddie Van Halen. É tanta gente que Jeff Porcaro gravou até com As Frenéticas a dançante Dancing Days.

Jeff Porcaro faleceu em 5 de agosto de 1992. Ele sofreu uma parada cardíaca por conta de uma reação alérgica que teve ao aplicar inseticida no jardim de casa. Somente após sua autópsia que foi descoberto que ele tinha problemas cardíacos.

Ali perto da cozinha, quase na sala, para os teclados, escalo Derek Sherinian. Outro grande operário do mundo do rock, mas não tão eclético como Jeff Porcaro, Derek tem um vasto currículo por bandas e projetos pontuais.

Descendente de gregos e armênios, Derek Sherinian nasceu em 25 de agosto de 1966 na Califórnia. Derek começou a estudar piano aos cinco anos de idade e no início da adolescência ganhou uma bolsa de estudos da Berklee College of Music em Boston onde, além de dividir quarto com o guitarrista Al Pitrelli que tocaria no Megadeth, pode estudar também com Mitchel Forman e Russel Ferrante. Seu primeiro trabalho profissional foi com Buddy Miles que já tinha tocado com Jimi Hendrix, mas o primeiro trabalho de peso foi em 1989 quando entrou para a banda de Alice Cooper na turnê do premiado álbum Trash.

A carreira de Derek, se precisássemos fixar a um projeto, deve ser dividida em duas partes. A primeira, de 1994 a 1999, quando entrou para a banda Dream Theater. Originalmente chamado para substituir Kevin Moore na turnê do álbum Awake, Derek acabou ficando e gravou os álbuns A Change of Seasons, Falling Into Infinity e Once in a LIVEtime. A segunda metade é a partir do ano 2000 quando inicia o projeto Planet X, em parceria com Virgil Donati e Tony MacAlpine. O projeto lançou 4 álbuns, sendo o último Quantum em 2007.

Fora essa discografia, Derek, como todo operário do rock, tem participação em mais de dez outros projetos. Desde o álbum Alive III da banda Kiss, até a faixa Over Your Head da banda Shaman. Um dos destaques de sua carreira é a participação com a superbanda Sons of Apollo em que gravou dois álbuns, Psychotic Symphony e MMXX. Outra participação de peso foi na gravação do álbum Attack do guitarrista Yngwie Malmsteen. Contudo, nessa participação teve um episódio lamentável que ocorreu aqui em terras brasileiras. Durante a turnê, em um show em Porto Alegre, Yngwie tocou o hino dos Estados Unidos por conta do atentado às Torres Gêmeas que tinha acontecido há menos de um mês. O público brasileiro não curtiu o momento e, além de vaias, gritou Bin Laden. Indignado com a situação, Derek postou em seu site oficial: "As pessoas de Porto Alegre deveriam estar envergonhadas de si mesmas. Não estou nem aí se nunca mais tocar nessa cidade de terceiro mundo infestada de mendigos". Obviamente que ele se retratou logo em seguida.

Iniciando a linha de frente, um baixista que é tão operário quanto os dois nomes citados antes. Contudo, sua especialidade é outra, apresentações ao vivo. Quando o assunto é se juntar a uma turnê, entrar numa apresentação pontual de festival, ou participar de concertos comemorativos, esse cara não nega uma.

Nathan Harrel East nasceu na Filadélfia em 8 de dezembro de 1955. Criado em San Diego, ele é um de um total de oito irmãos. Seu primeiro instrumento foi o violoncelo, mas aos quatorze iniciou o interesse pelo baixo elétrico. Na companhia de seus irmãos Raymond e David, Nathan cresceu tocando na igreja da sua região. Mais velho, foi estudar na Universidade de São Diego. Suas maiores influências vão de Charles Mingus a Chuck Rainey, de Ron Carter a Paul McCartney.

Como músico profissional, seu maior trabalho é o quarteto Fourplay, projeto iniciado em 1991. Na formação original, além de Nathan no baixo, Bob James no teclado e Harvey Mason na bateria, além do posto de guitarrista por já passaram nomes como Lee Ritenour, Larry Carlton e Chuck Loeb. O quarteto Fourplay já gravou 13 álbuns de estúdio, além de coletâneas e registros ao vivo. O álbum de estreia, que leva o nome da banda, chegou ao topo da parada de jazz da Billboard e por lá ficou por 33 semanas ininterruptas.

Em paralelo, como todo bom operário do rock, Nathan participou de muitos projetos. Gravou com nomes da música romântica como Anita Baker, The Bee Gees e Laura Pausini. Gravou também com mestres da black músic como Barry White e Stevie Wonder. Nathan participou de gravações com os maiores músicos do blues como B. B. King e Eric Clapton, o qual faz parte de sua banda oficial desde a década de oitenta. Sendo que em quase todos esses nomes citados, foram os não citados, tiveram uma colaboração de Nathan East em suas turnês.

Além de ser um ótimo músico para dar suporte, Nathan também em compõe. Em seu histórico, diversas composições fora dos seus projetos fizeram sucesso como Get Lucky gravada pelo Daft Punk e Easy Lover, um dos maiores hits de Sr. Phil Collins.

Seguindo com a linha de frente da hipotética banda com operários do rock, para a guitarra, escolho um cara que é muito operário no que diz respeito à sua carreira solo. Entretanto, igualmente aos demais citados aqui, não foge da raia quando convidado para participar de outros projetos.

Richard Dale Kotzen Junior, mais conhecido por Ritchie Kotzen, nasceu na Pensilvânia em 3 de fevereiro de 1970. Inspirado pela banda Kiss, desde criança, Kotzen se identificou com a guitarra. Considerado um prodígio do rock, foi descoberto cedo por Mike Varney e, aos 19 anos, gravou seu primeiro álbum solo que leva seu nome no título. Aos vinte, já tinha dois álbuns solo. Aos 21, entrou para uma das bandas que estavam no topo das paradas, Poison. Enquanto membro do Poison, Kotzen participou da gravação do álbum Native Tongue, onde também fez o que sabe melhor, compor. Ele é um dos autores das duas faixas que estouraram do álbum, Stand e Until You Suffer Some. Kotzen não durou muito tempo na banda. Uns dizem que ele é obcecado por sua carreira solo. Outros dizem que ele teve problemas no processo de criação da banda. E muitos dizem que ele saiu porque estava tendo um caso com a namorada do vocalista da banda, Bret Michaels.

Adriano Lourenço Barbosa | Airton Lopes | Alexandre Faria Abelleira | Alexandre Sampaio | Alex Juarez Muller | André Frederico | Ary César Coelho Luz Silva | Assuires Vieira da Silva Junior | Bergrock Ferreira | Bruno Franca Passamani | Caio Livio de Lacerda Augusto | Carlos Alexandre da Silva Neto | Carlos Gomes Cabral | Cesar Tadeu Lopes | Cláudia Falci | Danilo Melo | Dymm Productions and Management | Efrem Maranhao Filho | Eudes Limeira | Fabiano Forte Martins Cordeiro | Fabio Henrique Lopes Collet e Silva | Filipe Matzembacker | Flávio dos Santos Cardoso | Frederico Holanda | Gabriel Fenili | George Morcerf | Henrique Haag Ribacki | Jesse Alves da Silva | João Alexandre Dantas | João Orlando Arantes Santana | Jorge Alexandre Nogueira Santos | José Patrick de Souza | Juvenal G. Junior | Leonardo Felipe Amorim | Luan Lima | Marcello da Silva Azevedo | Marcelo Franklin da Silva | Marcio Augusto Von Kriiger Santos | Marcus Vieira | Maurício Gioachini | Mauricio Nuno Santos | Odair de Abreu Lima | Pedro Fortunato | Rafael Wambier Dos Santos | Regina Laura Pinheiro | Ricardo Cunha | Richard Malheiros | Sergio Luis Anaga | Silvia Gomes de Lima | Thiago Cardim | Tiago Andrade | Victor Adriel | Victor Jose Camara | Vinicius Valter de Lemos | Walter Armellei Junior | Williams Ricardo Almeida de Oliveira | Yria Freitas Tandel |

Com uma carreira solo sempre em desenvolvimento, Kotzen nunca negava convites para outros projetos em paralelo. Foi o caso da banda Mr. Big que o convidou para substituir Paul Gilbert. Ritchie participou de 3 álbuns de estúdio e um registro ao vivo da banda. Outro projeto em paralelo que merece destaque é a parceria que Kotzen aceitou para tocar com o músico de jazz rock fusion Greg Howe. O álbum, lançado em 1995, chama-se Tilt. Dois anos depois, lá estava Howe e Kotzen fazendo um álbum que foi chamado de Kotzen/Howe Project. A parceria mais recente de Ritchie é na superbanda The Winery Dogs em que compõe um trio com Mike Portnoy na bateria e Billy Sheehan no baixo. O trio lançou dois álbuns, em 2013 e 2015.

Em sua carreira solo, Ritchie lançou mais de 20 álbuns, entre trabalhos de estúdio, trilhas sonoras e registros ao vivo, em uma carreira de quase 30 anos de estrada. Destaque para álbum mais recente lançado neste ano para comemorar seu aniversário de 50 anos. Com o título de 50 For 50, o álbum conta com impressionantes 50 faixas novas. Nada de se estranhar de um operário do rock.

Fechando a banda, seleciono um vocalista que é muito operário do rock, mas que, numa hipótese factível, teria problemas com Kotzen que provavelmente não o deixaria cantar. O vocalista em questão tem em sua trajetória o DNA de uma das maiores bandas de peso do rock.

Joseph Arthur Mark Linquito, nasceu em 2 de agosto de 1951, mas por um bom tempo atendeu por John Lynn Turner. Descendente de italianos, John cresceu ouvindo, dentre vários nomes, Sinatra. Com o tempo, passou a gostar de Led Zeppelin, Free e Jimi Hendrix. Vocalista e guitarrista, John entrou para sua primeira banda em 1977, Fandango, onde gravou quatro álbuns. A banda não teve grande repercussão, mas fez turnês acompanhando grandes nomes como The Allman Brothers Band e The Beach Boys.

No início da década de 80, John mergulha no DNA Deep Purple, fonte de onde bebeu por muitos anos. A história começou quando Ritchie Blackmore o convidou para a sua Rainbow. Na banda, John gravou 8 álbuns, entre trabalhos de estúdio e registros ao vivo. Em seguida, foi a vez de acompanhar o virtuoso Yngwie Malmsteen, onde pode colaborar em 3 álbuns, sendo que, no Inspiration, John cantou em apenas três faixas.

No início da década de 90, John retorna ao DNA e à fonte. Ele integra o Deep Purple na gravação do álbum Slaves and Masters. Com uma participação rápida, ele segue para duas bandas, Mother’s Army e Brazen Abbot em sequência, totalizando quase 10 álbuns. Já no início do século, John voltou ao DNA Deep Purple colaborando com mais um desgarrado da banda. Foi a vez de participar do Hughes Turner Project em parceria com Glenn Hughes. O projeto rendeu dois álbuns de estúdio e um registro ao vivo.

Contando com outras bandas não citadas, John Lynn Turner gravou mais de 40 álbuns entre projetos de estúdio e registros ao vivo. Em sua carreira solo, são mais dez álbuns. Sem mencionar as incontáveis participações pontuais em shows, como o tributo ao AC/DC de 1997, onde cantou Back in Black. Obviamente, algumas partes da sua história não são tão memoráveis assim, como quando fez inúmeras pontas como backing vocals para artistas como Cher, Michael Bolton e Bonnie Tyler. Todavia, é o de se esperar de mais um operário do rock.

O curioso nessa montagem de uma banda fictícia é que pode-se notar uma proximidade dos cinco músicos citados, mesmo sendo de estilos diferentes. Nathan East e Jeff Porcaro sempre foram muito próximos por conta de projetos com os mesmos artistas. Os trabalhos com artistas pop acabam que aproximando Nathan e Porcaro de John Lynn. Esse, que por ter trabalhado com Yngwie Malmsteen, está muito próximo a Derek Sherinian. E Derek trabalhou com muitos artistas que o aproxima de Ritchie Kotzen. Aliás, Kotzen, com seus projetos de jazz, fecha o círculo se aproximando de Nathan East.

A proposta aqui não foi fazer uma competição de quem tem mais currículo em seu respectivo "setor de banda". A ideia foi elencar um músico para cada posição de uma banda com formação básica, sendo que cada um desses músicos tivesse um vasto currículo em que pudesse ser classificado como operário do rock. É possível que você lembre de um nome mais operário que os que citei. Posso citar Mike Portnoy e Billy Sheehan que, inclusive, trabalharam com Kotzen e Derek. Talvez você prefira montar uma banda com operários que toquem o mesmo estilo para evitar confusão nos ensaios da hipotética banda. E aí, como seria a formação da sua banda?

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O Arquivo do Rock é um programa de 1 hora de duração que vai ao ar na Rádio Catedral do Rock todo sábado às 14 horas. O Episódio 13: O 1º de Maio e os Operário do Rock foi ao ar no dia 2 de Maio de 2020 e está disponível no formato de Podcast no Spotify e Deezer.

Rafael Ferrara é locutor da Rádio Catedral do Rock (90,1 FM – Petrópolis) onde apresenta o programa Arquivo do Rock.