Cogumelo Records: 40 anos de história contados em entrevista
Por Mário Pescada
Postado em 06 de setembro de 2020
Fundada em 12/08/1980 pelo casal João Eduardo Faria Filho e Creusa Pereira de Faria (a Pat), a Cogumelo Records completou agora em agosto 40 anos (!) dedicados ao underground, abraçando toda a diversidade do rock, sobretudo nos estilos mais pesados: heavy metal, thrash metal, death metal, black metal, splatter, punk, hardcore, grindcore, etc.
A Cogumelo Records tem mais tempo de estrada do que outras conhecidas gravadoras do rock/metal mundial, como a Nuclear Blast (1987), Century Media (1988) e Relapse Records (1990). E mais: foi fundada em um certo país tropical que estava saindo da ditadura, atravessando (mais uma) crise econômica e sediada em uma das cidades mais tradicionais do país. Tinha tudo para dar errado, mas não deu.
Graças a ela, o metal "Made In Minas" conquistou seu espaço não só nacional, mas mundial. Apresentou ao mundo registros de bandas de todas as partes do nosso país, bandas como SEPULTURA, OVERDOSE, SARCÓFAGO, RATOS DE PORÃO, CHAKAL, HOLOCAUSTO, MUTILATOR, PSYCHIC POSSESSOR, SEXTRASH, THE MIST, WITCHHAMMER, HEADHUNTER D.C, STOMACHAL CORROSION, DROWNED, SAGRADO INFERNO, DORSAL ATLÂNTICA, AMEN CORNER, CALVARY DEATH, ATACK EPILÉPTICO, IMPURITY, VULCANO, D.F.C., HAMMURABI, KAMIKAZE, LOBOTOMIA, P.U.S., TIANASTÁCIA e muitas, muitas outras.
Para contar mais dessa história, das comemorações dos 40 anos, os efeitos da pandemia nos negócios e o que esperar do futuro, Mário Pescada (MP) conversou com o João Eduardo (JE). Confira!
MP: Olá João Eduardo, tudo bem? Obrigado por conceder essa entrevista ao 80 Minutos e parabéns pelos 40 anos da Cogumelo!
JE: Obrigado a vocês!!
MP: Abrir uma loja de discos de rock em pleno anos 80, com o país saindo da ditadura, com a economia cambaleando e na conservadora Belo Horizonte: João, o que você tinha cabeça!
JE: Nós somos de uma geração que cresceu ouvindo rock. A gente passou pela Ditadura e por todas as dificuldades desta época. A ideia a gente já tinha. Quando a Pat (minha mulher) recebeu sua herança, resolveu investir em um negócio próprio. Então foi uma situação que aconteceu na época. Agora, em plena crise do petróleo, abrir uma loja de LP´s, realmente foi uma ideia bem fora de padrão.
MP: Quem teria dado a ideia de produzir o slipt "Bestial Devastation / Século XX" (1985) - primeiro registro do selo e do SEPULTURA e OVERDOSE - teria sido o Vladimir Korg (CHAKAL, THE MIST, THE UNABOMBER FILES), então funcionário da loja e com aval da Pat. É isso mesmo?
JE: Sim, o Vladimir trabalhava na loja como gerente e, como a gente vendia muito este tipo de som que estava chegando no Brasil via importação, começaram a surgir as primeiras bandas no estilo em Belo Horizonte. E realmente já havia o OVERDOSE, o SAGRADO INFERNO, e depois o SEPULTURA, CHAKAL, HOLOCAUSTO e várias outras. Então a sugestão foi dele, de gravar este primeiro projeto.
MP: Sempre que se fala em Cogumelo, logo pensamos em SEPULTURA e SARCÓFAGO, as duas maiores referências da gravadora. Porém, a quantidade de bandas lançadas nesses anos é enorme. Quais bandas lançadas você acha que mereciam ter tido melhor sorte?
JE: Sim, várias bandas mereciam ter estourado, pois eram muito boas. Todas tiveram um determinado momento, mas muitas não souberam aproveitar as chances. Ou não tiveram uma sorte melhor, por exemplo o OVERDOSE, o THE MIST, o WITCHHAMMER e várias outras.
MP: Houve alguma banda que você tentou trazer para o selo, mas por algum motivo, não conseguiu? E quais bandas você sente falta de trabalhar junto e por quê.
JE: Não. A gente nunca se preocupou com isto, pois eram muitas bandas em Belo Horizonte. Sempre fomos demandados por bandas de outras cidades e estados. Demos chances a todas elas, tanto que, você vendo nosso catálogo, você sente uma presença forte das melhores bandas de todas as épocas da gravadora.
MP: Sabemos que na Europa, bandas como SARCÓFAGO, MUTILATOR, IMPURITY, RATOS DE PORÃO, VULCANO e outras são cultuadas por fãs apaixonados. Vocês recebem muitos contatos/pedidos de discos vindo da gringa?
JE: Sempre bandas brasileiras foram muito cultuadas lá fora. A gente sempre procurou distribuir melhor os produtos lá fora. Mas sempre as coisas são difíceis no Brasil. A importação e exportação gera uma logística grande e os correios sempre foram muito caros. Há uns 10 anos, firmamos uma parceria com a Greyhaze Records nos USA, que tem lançado os produtos lá fora. Isto possibilita o acesso das pessoas a este material com um custo melhor. O nosso crescimento no exterior é lento, mas seguro. Cansamos de ser pirateados lá fora.
MP: Em 2012, tivemos o lançamento do espetacular "Catálogo Cogumelo 30 Anos" (nota: livro comemorativo em parceria com a Prefeitura de BH com tiragem esgotada de 1.000 cópias e que trazia 1 cd bônus). Podemos esperar algum produto comemorativo aos 40 anos?
JE: A ideia nossa para este ano especial seria lançar o Catálogo de 40 anos atualizado com os lançamentos destes 10 anos em português e inglês, e também com um brinde extra, inédito, para os fãs. Já temos o que vai ser na cabeça, mas não vamos divulgar ainda. Entramos com um Projeto na Lei de Incentivo da Cultura de Belo Horizonte aqui. Vamos ver se conseguimos. Se a gente não conseguir, vamos ver se conseguimos parceiros no Brasil para isto, ou tentar financiamento coletivo.
MP: O site Heavy Metal On Line produziu por conta própria o documentário "Cogumelo 35 Anos", muito bem feito e cheio de histórias, porém, foi um lançamento não oficial. Já houve a ideia de se produzir um registro desse tipo, oficial?
JE: A gente já pensa em um documentário sobre a trajetória da loja e selo há bastante tempo, mas nunca conseguimos chegar num padrão de produção à altura para oferecer para os fãs. Agora, criamos um projeto deste Documentário em parceria com a Goblin (Produtora de Áudio Visual em BH), dentro da Lei de Incentivo à Cultura na Prefeitura de Belo Horizonte. Se a gente não conseguir o financiamento, vamos proceder com o catálogo, vamos tentar fazer com parceiros ou financiamento coletivo, pois já está passando da hora.
MP: 40 anos de história merecem ser comemorados! Podemos esperar, em algum momento, um show comemorativo?
JE: O show já estava até agendado para agosto agora. Já tínhamos o cast que iria tocar, seria um ingresso popular, limitado, somente para pessoas cadastradas, para ser uma festa mesmo. Aí veio a pandemia e mudou o nosso mundo. Tudo vai ser diferente agora. Temos de ter cuidados com os outros. Agora, somente no ano que vem, com uma nova visão e com outro formato, talvez. Mas vamos fazer sim.
Para continuar lendo essa entrevista, acesse o site do 80 Minutos.
https://80minutos.com.br/interview/75
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Site/loja:
https://cogumelorecords.loja2.com.br/
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