Nightwish: saiba tudo o que rolou na livestream, primeiro show com novo baixista

O Nightwish promoveu, na tarde desta sexta-feira (28), o primeiro dos dois shows virtuais da livestream "An Evening with Nightwish in a Virtual World". Foi a primeira apresentação da turnê "Human. :II: Nature." e a estreia do baixista Jukka Koskinen, que fará parte do grupo ao longo de toda a tour. O evento contou com cobertura do Whiplash.Net.

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Com ingressos a partir de 35 euros (cerca de R$ 225, na cotação atual e em transação direta), a livestream foi promovida em uma taverna construída em realidade virtual, chamada The Islanders Arms. O repertório deste primeiro show privilegiou o novo álbum, mas também trouxe hits de outros discos e eras do grupo - a segunda apresentação, marcada para o sábado (29), terá um setlist distinto.

A transmissão, interativa, teve produção técnica da empresa Zoan. O público pôde criar avatares para entrar no evento online, com possibilidades de reação com gestos e emojis, além de chat com outros fãs.

Nesse ponto visual, a livestream poderia ter sido um pouco melhor, dado o investimento do fã em um alto valor de ingresso. Por sorte, quem comprou o ticket, queria ouvir som e conferir uma stream que não travasse - e, nesse sentido, a transmissão não decepcionou.

Ao menos em meu dispositivo, toda a stream rodou "lisa", sem travar. O som estava bem regulado, com exceção do bumbo da bateria de Kai Hahto, que estava um pouco seco. Foi possível ouvir cada detalhe com precisão, o que ofereceu, ao menos em termos auditivos, uma experiência bem imersiva.

A grande curiosidade dos fãs estava ligada à performance do Nightwish sem Marko Hietala, que deixou a formação e a vida pública no início deste ano. O baixista exercia grande influência na sonoridade final do grupo, não só por seu estilo agressivo de tocar o instrumento, como, também, pelos notórios vocais que compartilhava, seja com a atual cantora, Floor Jansen, ou com as antecessoras, Tarja Turunen e Anette Olzon.

Nesse sentido, a banda se saiu bem. Evidentemente, fãs mais apegados poderão sentir falta de Marko, mas deu para perceber o cuidado que o grupo teve ao reestruturar algumas músicas e fazer escolhas dentro do repertório.

Com Jukka Koskinen na vaga de Marko Hietala, a dinâmica do Nightwish foi alterada. O baixista, muito competente em seu instrumento, não canta. Dessa forma, as linhas vocais destinadas a Hietala foram distribuídas entre Floor e o multi-instrumentista Troy Donockley, que já vinha assumindo vocais em algumas músicas mesmo quando Marko ainda estava na banda.

Na maioria das ocasiões em que foi necessário repassar alguma linha vocal de Hietala para outro integrante, deu tudo certo. "Planet Hell", por exemplo, ficou arrebatadora só nos vocais de Floor. O único ponto baixo nesse tópico foi "I Want My Tears Back", pois Troy não conseguiu replicar a agressividade do ex-colega e parecia um pouco desconfortável.

Faixa a faixa

O repertório da livestream trouxe, ao todo, 16 músicas. Cinco delas vieram do álbum mais recente, "Human. :II: Nature.": "Noise", "Tribal", "Harvest", "How's the Heart?" e "Shoemaker". As outras 11 percorreram a trajetória do Nightwish, com foco nos discos a partir do terceiro, "Wishmaster" (2000). Foram cinco da fase Tarja, quatro da fase Anette e duas de "Endless Forms Most Beautiful" (2015), primeiro trabalho em estúdio com Floor Jansen.

Após uma vinheta emblemática de abertura, o show foi iniciado com "Noise", música que também começa o álbum "Human. :II: Nature.". Uma canção de impacto, que se encaixou muito bem na posição de primeira faixa do set e mostrou toda a banda bem afiada.

A segunda faixa, "Planet Hell" - que não era tocada ao vivo desde 2013 -, entrou com peso e com grande interpretação de Floor Jansen, que assumiu as linhas vocais de Hietala e mandou bem demais. "Tribal", por sua vez, soa mais natural como um todo e coloca Troy Donockley em evidência, assim como "Élan", faixa de destaque do álbum anterior, "Endless Forms Most Beautiful" (2015).

Sem Donockley no "palco", é hora de voltar um pouco mais no tempo: "Storytime", hit do disco "Imaginaerum" (2011), soou intensa e com peso, mas sem deixar de lado a abordagem melódica típica do grupo. "She is My Sin", que não era tocada nos shows desde 2016, foi resgatada para uma performance que voltou a deixar claro como essa formação está amarrada e concisa.

Troy retornou ao show em grande estilo com "Harvest", onde assume os vocais principais e destaca a influência folk do Nightwish neste momento atual. A faixa soa complexa no disco, mas não perdeu sua essência na transposição para o formato ao vivo - Kai Hahto utilizou baquetas especiais, enquanto o guitarrista Emppu Vuorinen adaptou seu instrumento para soar como violão.

"7 Days to the Wolves", rearranjada e com backing vocals mais presentes de Troy, foi um dos grandes momentos do repertório. Por ter passagens que destacam quase todos os integrantes, a música parece representar bem como será a dinâmica do Nightwish nos palcos.

Uma das grandes "provas de fogo" veio na sequência, com "I Want My Tears Back", que tem vocais tão marcantes de Marko Hietala. Infelizmente, faltou intensidade para Donockley, mas nota-se potencial para melhorar, já que ele ainda não parecia tão confortável.

Para deleite dos fãs dos primeiros álbuns do Nightwish, a fase Tarja Turunen começou a aparecer de vez com a clássica "Bless the Child". Outra prova de fogo, agora para Floor, que precisou fazer uma cirurgia na vesícula biliar recentemente - não é nas cordas vocais, claro, mas pode atrapalhar no canto, que é uma atividade que demanda muito do físico. Ainda assim, como era de se esperar, ela mandou muito.

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Por outro lado, o hit "Nemo", por algum motivo, soou sem pegada. Nada de errado por parte de Floor ou dos instrumentistas em termos de performance, mas talvez seja uma música que dependa muito da plateia para ficar mais interessante.

Uma adaptação acústica de "How's the Heart?", apenas com Floor Jansen e Troy Donockley, serviu para desacelerar um pouco. Arrisco-me a dizer que essa versão ficou melhor que a original - e é sempre legal conferir bandas modificando um pouco suas músicas, para encaixar melhor em shows.

A divulgação de "Human. :II: Nature." seguiu com "Shoemaker", que era muito aguardada pelos fãs. Não decepcionou: além de ter ganhado peso extra ao vivo, teve um encerramento grandioso de deixar queixos caídos.

O momento experimental abriu alas para uma sequência de músicas que conquistam qualquer admirador da banda: a heavy "Last Ride of the Day" e as épicas "Ghost Love Score" e "The Greatest Show on the Earth". Aí, já era jogo ganho com duas canções que não podem faltar nos shows.

Considerações gerais

Musicalmente falando, não há do que reclamar da livestream do Nightwish. O repertório foi bem escolhido, o habilidoso e técnico baixista Jukka Koskinen mostrou ser uma opção segura para a turnê do novo álbum - ele formou uma cozinha poderosa com Kai Hahto, seu velho conhecido de Wintersun - e toda a banda se saiu muito bem.

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Floor Jansen, aliás, é um show à parte. A vocalista demonstra tanta segurança que parece ser a principal responsável por essa transição tão fluida para a banda atual, sem o importante Marko Hietala. Não há uma nota fora de lugar com a ex-integrante do After Forever, algo raro entre as vozes do nosso tão amado heavy metal.

Não dá para negar que Hietala faz falta em alguns momentos. Seja pelo baixo, pela voz ou pelo carisma de um músico veterano, com fãs por todo o mundo. Por outro lado, as circunstâncias obrigaram o grupo a se reinventar. Troy parece preparado para adquirir, ainda que de um jeito diferente, maior protagonismo - ele, aliás, já vinha fazendo isso, tanto que as músicas de "Human. :II: Nature." soaram naturais sem Marko.

Em termos visuais, o cenário entregou, de fato, a ambiência de uma espécie de taverna, ainda que completamente construída com chroma key - e não tão realista quanto o esperado de um bom CGI. Cenas "externas" eram apresentadas, geralmente, no intervalo entre uma música e outra, mostrando o que acontecia "fora da taverna": de mudanças climáticas a rios de lava. Tudo bem épico, do jeito que o fã gosta.

Pelo alto valor que o fã investe no ingresso - mais caro do que a pista dos shows presenciais que rolariam por aqui em 2020, adiados pela pandemia -, espera-se que esses detalhes estéticos sejam mais caprichados. Além disso, seria legal, por exemplo, oferecer um sistema multicâmera para que os fãs escolhessem qual integrante assistir em determinado momento. Outras streams ofereceram isso e a experiência foi levada a outro patamar.

Porém, para quem está ali pela música, são apenas detalhes. O show em si me surpreendeu e serviu para mostrar que o Nightwish ainda pode oferecer muito a seus fãs. Basta ter a compreensão de que toda grande banda precisou enfrentar mudanças em alguns momentos.

An Evening with Nightwish in a Virtual World

1. Noise
2. Planet Hell
3. Tribal
4. Élan
5. Storytime
6. She is My Sin
7. Harvest
8. 7 Days to the Wolves
9. I Want My Tears Back
10. Bless the Child
11. Nemo
12. How's the Heart?
13. Shoemaker
14. Last Ride of the Day
15. Ghost Love Score
16. The Greatest Show on Earth

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