Frank Zappa em 1968 analisando os principais singles lançados em outubro
Por André Garcia
Postado em 16 de abril de 2022
A Melody Maker é uma das mais tradicionais publicações musicais que já existiu. E na década de 60, ela tinha uma seção chamada Blind Date (encontro às cegas, em livre tradução), onde um convidado ouvia alguns dos lançamentos de singles do mês sem ver a capa, atacando de crítico musical com sua análise.
Conforme resgatado pelo canal do YouTube Yesterday’s Papers, uma das edições de outubro de 1968 trouxe ninguém menos que Frank Zappa, então integrante do Mothers of Invention, que tinha recentemente lançado "We're Only in It for the Money".
"I'm the Urban Spaceman" - The Bonzo Dog doo dah band
É meio de mau gosto. Tem uma boa mixagem e o engenheiro [de som] soa bem competente. É uma grande prova para um disco soar bem numa vitrola m*rda. Eu já ouvi falar do Bonzo Dog Band, mas eu acho oportunista demais. Todo viciado em speed do país vai se identificar com ela. Eu gostei do final.
"Good News" - The 5th dimension
O vocal soa bastante como Mick Jagger, mas o baterista é bom demais para ser Charlie Watts. Não que eu esteja dizendo que Charlie Watts seja um baterista ruim, eu gosto de como ele toca. É só que esse aqui toca mais. Eu gostaria mais dessa música se não tivesse vocal, não estou entendendo nada da letra mesmo...
"My Little Girl" - The Crickets
Soa competentemente produzido, mas é basicamente uma mistura de Buddy Holly com The Everly Brothers. Essa é uma música juvenil mais aceitável, que não requer muito esforço para assimilar — caso queira assimilar. Como uma releitura de um estilo antigo, não é "funky" o bastante. A virada no meio com a guitarra é moderna, mas era melhor executada nos velhos tempos. Eu ouvia Buddy Holly & The Crickets nos anos 50, mas tinha mais interesse na música negra.
"No More" - Jon Hendricks
Não faço ideia de quem seja. Eu gosto da bateria, mas é muito certinha. Soa inglesa e branca. O cara anda praticando nos clubes. Quem é? Ah, Jon Hendricks. Eu não sou chegado a música negra que não tem a sonoridade de sua herança e fica muito etérea e sofisticada. É uma tendência de inversão de papéis, me pergunto se é causada pela consciência pesada.
Tamla-Motown produziu umas músicas detestáveis. Eu gosto de "Reach Out", do The Four Tops, mas tem algumas que são tão plastificadas... Uma das coisas mais medonhas que já vi foi "Smile" da Diana Ross. Me dá arrepios. É como se ela tivesse alguma coisa na boca e um botão que Berry Gordy liga e desliga. Falta alma à soul music, mas mesmo assim o público ainda acredita nela. James Brown era "funky" quando ele apenas cantava, agora ele tem um jato, um terno de seda e o estrelato.
"Gingerbread Boy" - Elvin Jones
Devo dizer que isso é um deleite após as últimas que você colocou. Até os arranhões no disco soam ótimos! Eu gostei muito dessa e eu nem ligo para quem seja. Essa tem conteúdo emocional, e eles estão tocando coisas interessantes.
Eu curto jazz, mas raramente ouço porque não escuto rádio e eu não tenho muitos discos. Ouço mais música clássica e contemporânea. As rádios de jazz conseguem às vezes ser tão ruins quanto as de pop, porque os apresentadores sempre interrompem para te mostrar o quanto eles sabem sobre a música.
Eu não reconheço jazzistas em gravações, então não sei quem é esse. Só reconheço guitarristas de rhythm & blues. Belo solo de bateria, boa coordenação entre pés e mãos.
"Top Man" - Don Partridge
Falta c*lhões. Eu não me importo que músicas para vender não tenham c*lhões, mas perco o interesse quando fingem ter. Não posso julgar esse tipo de música porque já passei da idade, mas ela está propensa a fazer milhares de adolescentes gritarem de êxtase. Os músicos não parecem sentir ou acreditar no que estão tocando. As pessoas que gravavam rhythm & blues não o faziam porque fazia sucesso, eles faziam porque era o que eles queriam fazer.
"Ruby Baby"- The Drifters
Isso é "Ruby Baby", do The Drifters. Eu levava esse disco para a escola, eu adorava. Eu sabia cada detalhe e informação do encarte. É esse que tem "Steamboat" e "Your Cash Ain't Nothing But Trash"? Essa é bem certinha comparado ao rhythm & blues funkeado que eles faziam.
"Hushabye Mountain" - Tony Bennett
Eu não lido bem com música romântica, porque sempre me vem a imagem de um garoto e uma garota apaixonados cantando e desmaiando diante de uns coroas bem vestidos num palco com a bandeira dos Estados Unidos.
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