A chave oculta no disco do Led Zeppelin que Raul usou para abrir as portas do conhecimento
Por Bruce William
Postado em 22 de setembro de 2022
Em 1970, o Led Zeppelin já estava no topo da montanha, embora "Stairway To Heaven" ainda estivesse mais adiante. Em seu currículo a banda contava com dois álbuns fundamentais para a história do Rock lançados no mesmo ano de 1969: o primeiro deles, "Led Zeppelin I", trazia bastante influência do Blues com pitadas Folk, mas continha um som bastante pesado que não era comum na época; e o segundo, "Led Zeppelin II", aprofundou mais ainda a sonoridade do seu antecessor com uma profusão de riffs que fizeram com que ele fosse considerado o álbum mais pesado da banda.
Com isso era grande a expectativa para o terceiro álbum, mas ao invés de seguir a vibe pesada pura e simples, a banda decide tirar o pé do acelerador e registrar canções mais acústicas com fortes doses de músicas celta e folk, a ponto de uma parte do álbum ter sido composto em Bron-Yr-Aur, na prática uma pequena cabana que fica em Snowdonia, no País de Gales, e que na época não contava sequer com energia elétrica ou água encanada.
E o resultado, "Led Zeppelin III", se tornou outro clássico da história do Rock, com canções marcantes como "Immigrant Song", "Since I've Been Loving You" e "That's The Way", comprovando que o Led Zeppelin tinha muita versatilidade, criatividade e talento, não era apenas uma "banda barulhenta de hard rock formada por uns jovens cabeludos".
Raul Seixas, Paulo Coelho e a Sociedade Alternativa
Vamos avançar dois anos e mudar de país: em 1973, Raul Seixas lançou seu segundo álbum solo, "Krig-ha, Bandolo!" - o primeiro, "Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock", havia saído originalmente creditado para uma banda fictícia chamada Rock Generation, mas posteriormente ele seria lançado com os devidos créditos ao Raul, que também tinha em seu currículo trabalhos como produtor musical e diversas parcerias.
"Krig-ha, Bandolo!" consagrou Raul por trazer algumas de suas músicas mais marcantes, incluindo "Ouro de Tolo" que foi um dos maiores sucessos da carreira do cantor, fazendo com que ele atingisse o estrelato. E esse foi o primeiro álbum onde Raul contou com a parceria de Paulo Coelho, que havia chamado a atenção de Raul graças a um artigo sobre discos-voadores publicado em uma revista underground. A dupla seria responsável por várias músicas imortalizadas por Raul até 1978.
Mas a parceria não seria apenas musical: ainda em 1973 Raul Seixas e Paulo Coelho fundaram a Sociedade Alternativa, que também viraria música e se tornaria um dos grandes clássicos do Raul Seixas, lançada no seu álbum de 1974, "Gitá". Conforme explica Sylvio Passos, criador do fã clube Raul Rock Club e que foi amigo pessoal dos dois, em texto publicado no raulsseixas.wordpress.com: "A base primordial da Sociedade Alternativa é a idéia de liberdade, mas não liberdade somente no sentido de não estar numa gaiola, é uma coisa muito mais ampla. Independentemente do setor em que você está, seja gerente de banco ou cantor de rock, o importante é você ter consciência de que é livre para fazer aquilo que gosta. A ideia é simples, é básica".
Conforme explica o site dedicado à obra de Raul: "Os conceitos da Sociedade Alternativa são baseados na Lei de Thelema (lei da vontade) criada pelo ocultista inglês Aleister Crowley (1875 – 1947), que se autodenominava a 'Besta 666'. Para ele, pecado seria qualquer atitude que restringisse os impulsos naturais e limitasse a vontade humana. Tal ideia realmente virou lei para Paulo e Raul, e ganhou evidência na música dos compositores". E Sylvio vai um pouco mais fundo no conceito: "A Lei de Thelema é puro Crowley. Thelema é uma palavra grega que significa vontade, portanto, a lei da vontade. Não aquela vontade de jogar uma pedra na casa do vizinho ou de sair fazendo sexo com deus e o mundo. Não é isso. É uma vontade natural, espontânea, verdadeira. Um pé de feijão nasce ou um pelo no braço cresce por causa da lei da vontade. É ela que faz as coisas acontecerem".
Não seria possível abordar aqui, com tão poucas palavras, os profundos conceitos e preceitos da Thelema. E quanto à Sociedade Alternativa, um longo texto pode ser lido no raulsseixas.wordpress.com, que como vimos, teve como inspiração a obra de Crowley, principalmente os ensinamentos contidos no chamado "Livro da Lei", que teria sido ditado em 1904 por um ser que atendia pelo nome de Aiwass, e que traz como ensinamento máximo a frase: "Fazes o que tu queres, há de ser o todo da Lei". "O amor é a lei, amor sob vontade" ou, em inglês, "Do what thou wilt shall be the whole of the Law", "Love is the law, love under will", que é considerada a lei máxima da Thelema.
A influência de Aleister Crowley no Rock e em Jimmy Page
Conforme o Wikipedia, Aleister Crowley, ou Edward Alexander Crowley, foi um membro da Ordem Hermética da Aurora Dourada e influente ocultista britânico, responsável pela fundação de uma doutrina (ou filosofia, dependendo do ponto de vista) que batizou de Thelema.(...) Atualmente, é mais conhecido como autor de obras sobre magia e misticismo, dentre eles o Livro da Lei, que tornou-se a escritura sagrada principal dos thelemitas, e doutros tratados sobre diversos assuntos esotéricos como a cabala e o tarô.
Ainda de acordo com o Wikipedia, a influência de Aleister no Rock foi imensa, com inúmeras referências a ele tendo surgido ao longo dos anos, desde que os Beatles o colocaram na capa do seu álbum de 1967, "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band". Socialmente, Crowley se tornou conhecido devido as referências feitas a ele no rock n' roll dos anos de 1960 e 1970, pelas bandas Led Zeppelin, Rolling Stones, Iron Maiden, The Beatles e Black Sabbath, e pelos cantores Bruce Dickinson, Ozzy Osbourne, David Bowie, Raul Seixas e John Frusciante.
E dentre os músicos que cultuam Aleister Crowley, um em especial acabou se destacando: Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin, que dentre outras coisas, chegou a adquirir a Boleskine House, uma mansão onde Crowley morou na beira do Lago Ness, na Escócia. Page costumava contar que a residência havia sido construída em cima de um terreno onde muitos anos antes havia uma igreja que foi incendiada com os fiéis dentro dela.
Especialistas apontam que, ao longo dos anos, Page foi deixando pistas aqui e ali sobre seu fascínio pelos ensinamentos de Crowley. E como pode ser visto na imagem acima e abaixo, aquele álbum lançado pelo Led Zeppelin em 1971, o "Led Zeppelin III", nas suas primeiras edições lá fora, a mando de Page, trazia grafado no espaço entre o fim dos sulcos e o selo duas expressões extraídas do "Livro da Lei" de Crowley: as frases "Do what thou wilt" ("Fazes o que tu queres") e "So mote be it" ("Assim seja"). Ou como canta Raul Seixas em um dos versos mais famosos da música "Sociedade Alternativa": "Faz o que tu queres, pois é tudo da lei!".
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps