A frustração de Jim Morrison com as gravações do The Doors
Por André Garcia
Postado em 31 de dezembro de 2022
Há bandas que são melhores ao vivo, outras melhores nos discos; há ainda as que são boas em ambos e as que são fracas em ambos. Palco e estúdio são universos diferentes e possuem características muito distintas — a maior delas a presença do público e a troca de emoção e calor humano.
Em entrevista de 1969 para a Rolling Stone, Jim Morrison, vocalista do The Doors, confessou uma frustração com as gravações da banda. Amante do improviso, ele via as músicas passarem de um estado de "constante mudança" para o "estático".
Rolling Stone: Você mencionou que as músicas que prefere cantar são aquelas que tem espaço para improvisação. Suponho que você se referia a coisas como 'The End' e 'The Music’s Over'.
Jim Morrison: Depois de gravadas, as músicas se tornam muito ritualizadas e estáticas. Essas duas meio que tinham trechos em constante mudanças livres, mas depois de gravadas, elas pararam. Elas estavam no auge de seu efeito [quando gravadas], então não faz muita diferença.
Não. Eu me referi a músicas onde os músicos começam a improvisar. A coisa começa com um ritmo e você não sabe como aquilo vai acabar, ou o quanto vai durar, ou sobre o que é — só sabe quando acaba. É esse tipo que eu mais curto.
Rolling Stone: Você se refere a improvisação instrumental em vez de vocal…
Jim Morrison: Não, os dois. Acho que me refiro a uma coisa blues. Eu pego um ritmo, um rio sonoro correndo, e posso simplesmente relaxar, não me preocupar com tempo, como começa, como termina, ou o que tenho que dizer. Mas nem todo mundo gosta de ouvir isso.
Rolling Stone: Foi assim que surgiu "Celebration of the Lizard"?
Jim Morrison: Eu meio que construí ela a partir de trechos que eu tinha, não foi um desenvolvimento natural. Ela não funciona, porque não foi criada espontaneamente. Eram mais trechos de diferentes ocasiões, elementos pré-existentes do que um núcleo gerador da qual cresceu. [Mas] acho que ainda há esperança para ela, só acho que a gente teria que retomar uma concepção livre e recomeçar do zero. A gente poderia tocar uma versão de meia hora dela, acho que o que vemos é apenas a superfície. Ela não me interessa tanto assim. Jamais foi levada além, e eu perdi meu interesse nela.
The Doors
O The Doors foi formado em 1965 em Los Angeles, pelo vocalista Jim Morrison, o tecladista Ray Manzarek, o guitarrista Robby Krieger e o baterista John Densmore. Eles se destacaram por criar músicas que exploravam temas como a liberdade, o amor livre, experimentações e a rebeldia, incorporando elementos de rock, blues, jazz, psicodelia e poesia.
Em sua carreira, o The Doors lançou álbuns clássicos como seu autointitulado debut de 1967 e "Strange Days" (1968), que conquistaram uma legião de fãs. Mas era ao vivo que a banda realmente brilhava, com o magnético carisma de seu vocalista em incendiárias apresentações performáticas para lá de provocativas e imprevisíveis.
A partir de 1968, por outro lado, as frustrações de Jim com a vida de rockstar e sua falta de reconhecimento como um escritor sério o levaram a afundar no alcoolismo. Para piorar, problemas na justiça contribuíram para que ele perdesse o interesse na música e caísse na depressão.
Após terminar sua parte na gravação de "L.A. Woman" (1971), Morrison partiu em retiro para a França, em busca de se recuperar física e mentalmente. Infelizmente, ele jamais retornaria daquela viagem. Poucos meses após o lançamento do álbum, ele foi encontrado morto na banheira aos 27 anos.
Os membros remanescentes ainda tentaram seguir em frente sem seu frontman, mas, após fracassarem com "Other Voices" (1971) e "Full Circle" (1972), não restou a eles outra alternativa se não o fim da banda.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps