A armadilha que pegou o Nenhum de Nós e impediu que fossem como o Engenheiros do Hawaii
Por Bruce William
Postado em 08 de janeiro de 2023
Neste corte da conversa entre Clemente Magalhães do podcast Corredor 5 e o DaSilva Reggae, Clemente debate com o músico gaúcho por que o Nenhum de Nós, nas palavras dele, atingiu o sucesso mas não conseguiu ser uma banda tão grande quanto o Engenheiros do Hawaii.
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DaSilva responde: "Eu não sei cara, porque o Nenhum é uma banda de qualidade pra caramba, né?". Clemente contextualiza a pergunta: "Nessa época que saiu o disco tocava 'Camila, Camila' (do Nenhum de Nós) pra caralho e tocava 'Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada'", essa tocou muito porque era tema de uma novela". Clemente está falando de "Toda Forma de Poder" do Engenheiros do Hawaii, que entrou na trilha sonora da novela "Hipertensão", da TV Globo.
Prossegue Clemente: "Daí quando tem virada de música de trabalho entra 'O Astronauta de Mármore' (do Nenhum de Nós) que tocou pra caralho. Não lembro qual foi a próxima do Engenheiros(...) Mas daí tem uma hora que o Nenhum não vira mais, e o Engenheiros continua". E em seguida ele faz um comentário aparentemente estranho, mas que pode puxar o fio que desenrola uma possível explicação do que aconteceu: "Eu boto a culpa na sanfona". "Sim, (ela) regionaliza a coisa!", concorda DaSilva. "Eu achei tão foda isso!" diz Clemente, mencionando um papo que ele teve com Dudu Borges, produtor e arranjador sertanejo.
O corte acaba aqui. Mas Clemente se aprofunda na ideia no vídeo completo: "Às vezes o artista entra no estúdio pra fazer um som. Raramente faz um trabalho antes, estrutura o que quer comunicar e daí chama o produtor: 'Eu quero contar essa história aqui'". E ele diz ainda que os artistas se emocionam muito no processo, alguém aponta qualquer coisa e o artista fica empolgado e se deixa contagiar por aquilo. "Quando eu pergunto alguma história pra ele", conta Clemente, se referindo ao Dudu Borges, "ele diz é que ele havia pedido pro cara fazer a sanfona de um jeito que misturasse um pouco a sanfona do Nordeste com uma outra sanfona, que seria algo que entraria no Brasil inteiro", explicando que o uso de um instrumento com toque tipicamente gaúcho dificilmente seria assimilado pelo resto do país, pois é de entendimento que a regionalização musical acaba por dificultar que uma música faça sucesso em nível nacional.
Sem contar que existe também uma tendência geral de padronização musical, a ponto do Dudu também ter relatado na conversa com Clemente um bizarro episódio de interferência artística feita por uma rádio: "É só violão, essa música em específico não tem sanfona, a gente trabalhou muito isso"(...)"Daí a gente liga a rádio e ouve a música, os caras incluíram uma sanfona na intro(...)"porque a gente gosta assim". E eles tiveram que ameaçar de processo a rádio para que ela tocasse a tal música conforme havia sido concebida.
A associação feita por Clemente faz alusão ao fato do Nenhum de Nós ter lançado dois álbuns consecutivos com músicas que fizeram muito sucesso - "Camila, Camila" do disco de estreia de 1987 e "O Astronauta De Mármore", versão de "Starman" do David Bowie que saiu no álbum "Cardume" de 1989. Daí no ano seguinte a banda lança o "Extraño", que apesar da faixa título ter sido trabalhada com direito à exibição de clipe no programa Fantástico da TV Globo e a inclusão na trilha sonora de uma novela, não conseguiu obter o êxito do seu anterior, possivelmente pelas suas fortes influências da música gaúcha, a ponto dele contar com a participação de Luiz Carlos Borges tocando acordeon em cinco faixas. E desde então o Nenhum de Nós nunca mais conseguiu obter um grande sucesso nacional.
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