Por que gravadoras brasileiras não valorizariam alguém como Frank Zappa, segundo Ritchie
Por Gustavo Maiato
Postado em 20 de julho de 2023
Frank Zappa foi um compositor americano famoso pelo experimentalismo. Mas será que se ele fosse brasileiro um perfil como o dele seria aceito e trabalhado por uma gravadora no Brasil?
Em entrevista ao Corredor 5, o cantor Ritchie refletiu sobre o assunto e disse que no Brasil as gravadoras nunca valorizaram a originalidade – como a de Zappa. Por outro lado, preferiam apostar em fórmulas já testadas.
"O sertanejo já existia, com Chitãozinho e Xororó, mas era algo muito regional, não chegava para nós. Os sucessos na Bahia ficavam por lá mesmo. Embora ainda exista um pouco disso hoje em dia, estamos acostumados a ver artistas como Daniela Mercury e Ivete mais amplamente conhecidos. Mas naquela época, a fama ficava mesmo restrita à região de origem.
Aos poucos, isso foi mudando, mas sempre as gravadoras buscavam fórmulas, comparando com outros artistas, tentando replicar o que já tinha feito sucesso. Éramos muito dependentes do que já estava consolidado no mercado.
Por outro lado, eu vinha da Inglaterra, onde a originalidade era muito valorizada. As gravadoras não queriam artistas que não fossem autênticos, se você não tivesse algo único a oferecer, eles não se interessavam. Não adiantava ser apenas uma cópia do Jimmy Hendrix, por exemplo, pois isso não era bem visto.
Lá, eles reconheciam logo a diferença entre uma cópia e um artista experimental. Havia uma fase em que as gravadoras não se intrometiam muito, mesmo sem entenderem completamente, lançavam algo novo, pois podia dar certo. Ao contrário, no Brasil, havia um certo receio de arriscar.
Talvez por falta de recursos ou medo de perder os empregos, as pessoas não se sentiam à vontade para lançar algo experimental. O mercado musical era mais conservador, e isso acabava limitando as possibilidades de inovação. Essa mentalidade contrastante entre o Brasil e a Inglaterra refletia na cena musical. O Frank Zappa, por exemplo, não existiria se fosse no Brasil".
A música de Frank Zappa
Nos anos 60, emergiu um talento único que viria a revolucionar a música: Frank Zappa. Inicialmente conhecido como guitarrista e líder da banda Mothers of Invention, foi em sua carreira solo que ele alcançou a verdadeira genialidade. Com um espírito musical à la cientista maluco, ele conquistou a fama por sua excentricidade e corajosa experimentação, entrelaçando jazz, música clássica e rock em um inovador e envolvente caldeirão sonoro.
Ao longo dos anos, Zappa solidificou seu lugar como um dos músicos mais produtivos e brilhantes de sua época, construindo um vasto catálogo composto por dezenas de álbuns que transcendem as fronteiras do convencional.
Uma curiosidade em relação a Frank Zappa foi a ocasião em que ele comentou sobre os seus guitarristas preferidos, em entrevista publicada pela Far Our Magazine. A transcrição foi do redator André Garcia.
"Um dos meus guitarristas preferidos na face da Terra. [Tanto] de uma perspectiva melódica [quanto] em termos da concepção do que ele toca. Ele é fabuloso! Eu adoro Jeff Beck. Bem, meu guitarrista preferido originalmente era Johnny 'Guitar' Watson.
Não da perspectiva técnica, mas de ouvir ao que as notas dele queriam dizer no contexto em que eram tocadas. E também ele foi o primeiro guitarrista que eu ouvi usando distorção — e isso lá nos anos 50!
De um jeito estranho, eu acho que provavelmente muito do meu estilo deriva de sua abordagem à guitarra, por seus solos que eu ouvia na época. Bem, se tem um cara que por seu trabalho eu deveria incluir na lista de pessoas que mais respeito, esse cara é Allan Holdsworth", disse.
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