Shane Embury reflete sobre música, família e vida para além do Napalm Death
Por Homero Pivotto Jr.
Postado em 29 de agosto de 2023
Tão fascinante quanto a música propriamente dita são causos relacionados à arte das sete notas, sejam referentes aos artistas, às composições ou ao meio que os envolve. Imagine, então, ter nascido em um pequeno vilarejo próximo a Birmingham, na Inglaterra, cidade que deu origem a nomes como Black Sabbath, Judas Priest e GBH, e encontrar nas sonoridades mais barulhentas uma oportunidade de ganhar a vida e rodar o mundo, bem como conhecer ídolos e estar cercado de amigos que tem visibilidade dentro do rock e suas vertentes mais agressivas. Pois essa é a história de Shane Embury, baixista do Napalm Death.
Aliás, o inglês de sotaque acentuado é bem mais do que apenas o responsável pelos graves na banda pioneira do grindcore — algo que, segundo ele mesmo, custou a assimilar. Tal conclusão, inclusive, atravessou a criação de seu primeiro livro chamado "Life?… And Napalm Death", a ser lançado no exterior em outubro: "Esse foi o ponto: tentar descobrir quem eu sou de verdade se não o baixista do Napalm Death o tempo todo. Foi uma pergunta que tive de me fazer e sigo fazendo, de alguma maneira", pondera o jovem senhor de 55 anos em entrevista exclusiva para o site Scream & Yell.
Filho, pai, marido e amigo estão entre outros papeis desempenhados por Shane para além da atuação como músico. E tudo isso foi inspiração para o primeiro livro do músico inglês, chamado "Life?... And Napalm Death", a ser lançado no exterior em outubro.
Na música, Shane Embury é nome de referência entre quem aprecia barulho e/ou sonoridades fora do óbvio, tendo iniciado sua jornada musical como fã ainda na década de 1970. É o integrante do Napalm Death há mais tempo na banda (entrou em 1987) e um dos principais compositores atualmente. Ele também é membro do Brujeria (death/grind), do Venomous Concept (hardcore/punk), do Tronos (progressivo), do Lock Up (death/grind) e do Blood From the Soul (industrial), entre outros. Paralelamente aos grupos, Shane toca o projeto solo eletrônico Dark Sky Burial (dark ambient). Multi-instrumentista, é capaz de assumir guitarra, baixo, bateria (vide o grind do Unseen Terror) e voz (algo que tem ganhado força ultimamente).
No papo, o veterano dos sons ruidosos explica ainda o porquê de um livro neste momento, fala da busca pelo equilíbrio entre a intensidade da lida criativa com a rotina familiar e lembra de companheiros com quem tocou na banda que mudou sua vida.
"Quando me perguntavam sobre fazer um livro eu fazia piadas sobre o assunto. Mas chega a um ponto da vida, principalmente nos últimos anos, quando se está fazendo música por mais de 30 anos, que você percebe que tem muitas memórias legais. E, ainda, ter crescido onde cresci. O livro fala de diversos assuntos, não apenas do Napalm Death, e isso é importante. Há muita história nas páginas: desde crescer em um vilarejo, entrar na música e a importância que a família teve para mim — eles foram muito encorajadores. Pareceu o momento certo fazer isso agora. A pandemia fez muita gente perder a cabeça. Antes, eu nunca tinha estado em casa por mais de algumas semanas em cerca de três décadas. Então, precisei ficar em casa por uns dois anos, pirando, enlouquecendo minha mulher e tentando balancear as coisas. E ainda tinha as crianças. Enfim, tudo junto. Pareceu a hora certa de escrever algo. Você fica meio preocupado que seja interessante para as pessoas lerem, mas o Barney (vocalista do Napalm) comentou: "você não precisa encher de histórias bobas". E há algumas, mas também tem conteúdo sobre crescer em uma cidade berço da revolução industrial que estava em declínio. Acho que comentei sobre isso com alguns amigos e eles notaram a importância da área onde fui criado, que é de onde saíram Black Sabbath, Judas Priest, GBH e muitas outras bandas. Às vezes, você pensa: "será que sou um produto do meio?". De alguma maneira, você é um pouco. Você, tipo, depende de como quer viver, seus anseios. Ao mesmo tempo, o Napalm me deu a oportunidade de viajar pelo mundo, trocar fitas e conhecer pessoas com quem eu enfrentaria provações desde meados dos anos 1980. Depois, conheci ainda muitos amigos, e tocar virou uma carreira, com turnês incríveis. O livro foi algo bom de fazer, pois acho que estou no último quarto de século da vida", afirma Shane.
A entrevista completa pode ser lida no Scream & Yell.
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