A canção de rock nacional que fez o radicalismo roqueiro de Regis Tadeu escorrer pela calça
Por Bruce William
Postado em 01 de agosto de 2023
Em um vídeo publicado no youtube, o jornalista e crítico musical Regis Tadeu fala sobre o "Krig-ha, Bandolo!", primeiro disco solo de Raul Seixas. "Esse álbum se tornou um manifesto de vida para milhares de pessoas desde o seu lançamento em 1973", diz Regis, reiterando que ele não está exagerando e que "Krig-ha, Bandolo!" "influenciou os corações e mentes de sucessivas gerações"" desde então.
Depois de descrever de maneira divertida e ilustrativa a música que abre o disco, "Mosca Na Sopa" - "Berimbau, atabaques, mosca zumbindo, coral de Candomblé, rock bruto e safado, vocal alucinado e uma letra sensacional", Regis revela que aquilo chamou sua atenção, mas a princípio ele achou tudo meio estranho: "Na época, 1973, eu era um moleque de treze anos de idade com espinhas na cara e já estava tomado pelo espírito do Black Sabbath, do Deep Purple, do Slade, de um modo até então meio que radical. Mesmo assim eu não pude deixar de fazer aquela tradicional cara de pastor alemão em dúvida quando eu comecei a ouvir essa música na casa de um amigo".
Porém Regis não fazia ideia do que iria acontecer a seguir: "Só que no exato momento em que eu terminei de ouvir essa música eu passei pra seguinte, que era a inacreditável 'Metamorfose Ambulante'". Foi naquele momento que um paradigma se quebrou na vida do crítico: "Quando eu terminei de ouvir essa música, eu percebi que meu radicalismo roqueiro tinha escorrido pra barra da minha calça. Porque não dava pra ignorar que aquilo ali era uma ode à liberdade de pensamento, era um soco no estômago da sociedade conformista da época, e que não havia nada de errado em você reconsiderar uma opinião, se os argumentos fossem válidos e consistentes. Essa música até hoje retrata a inconstância da vida e as mudanças que todos nós enfrentamos", contou o jornalista.
O que Raul Seixas queria dizer na letra de "Metamorfose Ambulante"?
"Prefiro ser essa metamorfose ambulante/ Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante".
O Analisando Letras explica que para entender os versos da letra como um todo, é preciso prestar atenção ao significado das palavras metamorfose e ambulante separadas, e depois nas duas juntas.
De acordo com o site, "'Metamorfose' quer dizer aquilo que muda constantemente, tanto na forma quanto na estrutura, no hábito e na natureza. Já 'ambulante' é algo que se locomove, perambula e migra sem se manter em um lugar fixo. Então a junção dessas duas palavras: metamorfose + ambulante, quer dizer que a pessoa prefere mudar sem se preocupar onde está naquele exato momento, contanto que continue se transformando".
Já sobre o trecho "Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo", o site explica que ele torna evidente de como as coisas são relativas. "Isso quer dizer que não existe um único ponto de vista com uma verdade absoluta, e sim que podem existir diferentes perspectivas, reflexões e considerações. Além disso, remete à ideia de quão ruim é se acomodar apenas em uma ideologia, seja ela social, política, cultural e etc. Estar aberto a diferentes ideias pode abrir mentes!"
A incrível frase que Raul Seixas escreveu na infância e que mudou a vida de muita gente
.Curiosamente, conforme explicou o também jornalista e historiador do rock nacional Júlio Ettore no vídeo em que fala sobre a canção, esta frase 'Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante / do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo" foi escrita pelo Raul ainda na infância. "Ele rabiscou isso numa parede do quarto dele. Foi o que ele contou à revista Amiga em 1982 durante uma entrevista: 'Metamorfose Ambulante, por exemplo, eu fiz com doze, treze anos de idade. Está até hoje escrita na parede da minha casa na Bahia. Minha mãe não deixa pintar a parede".
Júlio conta ainda que este verdadeiro hino do repertório do cantor foi composto sob inspiração do livro "Metamorfoses" (ano 8 d.C.), do poeta latino Ovídio, que era um dos livros da biblioteca do pai de Raulzito lá em Salvador". "Raul falou sobre esta influência de Ovídio em entrevista à Bizz em 1987: 'Estudei latim só para ler 'Metamorfose' de Ovídio. Me formei em Filosofia, Inglês arcaico, estudei muito Psicologia, fui a fundo mesmo, mas não levei adiante. Estudei Direito... mais filosofia mesmo, fui até além do que devia'".
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