Kiko Loureiro dá aula e esmiúça detalhes socioeconômicos da Finlândia, EUA e Brasil
Por Gustavo Maiato
Postado em 08 de janeiro de 2024
Em entrevista ao Inteligência Ltda., Kiko Loureiro (ex-Angra, ex-Megadeth) deu aula sobre as diferenças entre Finlândia, Estados Unidos e Brasil – países em que já viveu.
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"Conheci minha esposa nos Estados Unidos. A gente se conheceu ali, mas só começamos a ficar mais próximos quando fui morar nos Estados Unidos. Aí, começou essa dinâmica meio Brasil, Estados Unidos, Finlândia, meio triangulando. Minha filha nasceu em 2011.
Durante a pandemia, decidimos ficar na Finlândia, pois estava tudo muito confuso em relação à situação nos outros países. Na medida do possível, foi tranquilo, até porque eles têm um sistema de auxílio emergencial constante. É um país socialdemocrata, o que é interessante. Você vivenciar a diferença entre estar no Brasil, na Califórnia, ou em lugares como Nashville, trabalhar com americanos de diferentes estados e participar de uma sociedade socialdemocrata.
Falando em sociedade, quando você compara a qualidade de vida na Finlândia com o Brasil, é notável. Lá, as pessoas têm uma segurança independente de onde vêm. As diferenças econômicas não são tão gritantes, e as pessoas têm tempo para a família, fazem o que gostam, têm segurança proporcionada pelo Estado. Isso gera uma série de benefícios, como vemos na música, por exemplo.
No cenário musical, bandas da Suécia e Finlândia são muito inventivas e criativas. Isso acontece porque lá, as pessoas podem se arriscar sem se preocupar tanto com viabilidade econômica. No Brasil, muitas vezes, músicos se veem limitados a tocar covers para ganhar dinheiro ou seguir um caminho mais comercial.
E isso se reflete também na educação. A Finlândia, frequentemente, é classificada como um dos países mais felizes e tem um sistema educacional fantástico para todos, independentemente de cor ou origem. Nos Estados Unidos, apesar da educação pública, o sistema ainda é marcado pela influência do bairro na qualidade da escola, o que, por sua vez, afeta o valor das casas e perpetua desigualdades.
Portanto, a diferença entre viver em um país socialdemocrata como a Finlândia e nos Estados Unidos é significativa, afetando diversos aspectos da vida, desde a música até a educação. A diferença é que no Brasil, o bairro dita a qualidade da escola, algo que não acontece na Finlândia. Lá, as diferenças são mínimas, e isso se deve ao controle mais eficiente. Se as casas valorizam na Califórnia, há regiões com controle de aluguel, evitando o aumento descontrolado. Algumas pessoas discordam desse controle, mas se você é dono de propriedades, pode preferir a valorização.
O problema nos Estados Unidos é evidente em locais como Los Angeles, onde muitos moradores acabam nas ruas. O sistema educacional também reflete desigualdades, já que a qualidade da escola afeta o valor das casas. A situação é diferente na Finlândia, onde há mais controle sobre o desenvolvimento imobiliário.
Nos Estados Unidos, a pobreza é visível, especialmente em locais como Oregon, onde a situação é ainda mais alarmante do que em São Paulo. Isso pode surpreender, considerando a imagem de país próspero e a presença de marcas famosas.
Na Finlândia, o controle se estende à construção de moradias, com o governo possuindo terras e orientando o desenvolvimento para evitar desigualdades extremas. Isso cria uma convivência mais integrada, onde pessoas de diferentes condições sociais frequentam as mesmas escolas. Assim, a diferença entre quem tem mais ou menos recursos é menos perceptível, proporcionando uma experiência de vida mais equitativa.
Na Finlândia, as questões materiais, como carros de luxo, não têm grande relevância na definição da pessoa. Não há esse apreço por posses materiais, e as conversas não giram em torno do que alguém tem. Ao contrário dos Estados Unidos, onde muitas vezes as pessoas são medidas pelo que possuem, na Finlândia, esse aspecto não é tão enfatizado.
Além disso, o estilo de vida na Finlândia contribui para essa mentalidade. Por exemplo, a necessidade de ter um carro é menor, especialmente se você mora em áreas urbanas. O governo controla o desenvolvimento imobiliário, garantindo que haja uma mistura de habitações em diferentes áreas, criando uma coexistência mais integrada. As diferenças de classe social são menos perceptíveis, e o foco está mais na qualidade de vida geral.
A cultura finlandesa também se reflete na língua, que não possui gênero. Não há palavras distintas para "ele" e "ela" ou "professor" e "professora". Isso contribui para uma abordagem mais igualitária em vários aspectos da sociedade. Então, ao falar inglês com um finlandês, ele pode cometer erros ao usar pronomes de gênero, já que isso não é uma consideração na língua finlandesa".
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