A canção de Renato Russo que dialoga com Racionais MC's para dar voz a um jovem da periferia
Por Bruce William
Postado em 19 de março de 2024
Neste vídeo do Canal Musicália, Juscelino Filho compara a riqueza das letras de duas músicas brasileiras emblemáticas: "O Meu Guri" de Chico Buarque e "Mais do Mesmo" da Legião Urbana, destacando a habilidade de Chico Buarque em representar a voz da periferia por meio de uma mãe que desconhece as atividades ilegais do filho, e de Renato Russo ao adotar um eu lírico negro e marginalizado na canção do álbum "Que País É Esse?", de 1987.
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"Então Renato Russo se dá uma licença poética de colocar a sua canção, ele sendo um branco, de classe média alta. Ele faz uma canção falando de um jovem negro de periferia, que além de ser uma ousadia, é um trabalho de empatia que o Chico Buarque faz", explica Juscelino, em uma análise que revela uma crítica contundente de Renato Russo à hipocrisia da classe média, abordando questões como violência, desigualdade social e alienação, além de destacar a falta de empatia e representatividade por parte da elite intelectualizada.
Em um dos trechos analisados - "Bondade sua me explicar com tanta determinação/ Exatamente o que eu sinto, como penso e como sou/ Eu realmente não sabia que eu pensava assim/ E agora você quer um retrato do país/ Mas queimaram o filme, queimaram o filme" - Juscelino ressalta: "Olha o quanto o intelectual não dá voz, ele evita de dar voz à periferia pra que ele rebusque numa linguagem, faça o seu trabalho chegar nos outros, explicando como que a periferia não tem voz, através da sua voz intelectualizada"(...)"Não tem retrato do país, o filme está queimado, e se o filme está queimada, este intelectual vai esconder com as suas palavras, com as suas terminologias, ele vai esconder esta realidade. Ou de certa forma nem esconder, mas tentar amenizar o seu discurso a partir desta camuflagem".
Ao desdobrar a letra de "Mais do Mesmo", Juscelino evidencia a mensagem de que a periferia é frequentemente desassistida e sua voz marginalizada pela classe dominante. A música denuncia a falta de investimento nas comunidades periféricas e a tentativa da elite intelectual de teorizar sobre essas realidades sem realmente entender ou ouvir as experiências das pessoas marginalizadas.
"Este é um tipo de canção que dialoga com os Racionais", diz Juscelino. "Ele fala sobre o menino branco, a hipocrisia do menino branco que vai lá praticar as mesmas práticas mas quando é o menino preto fazendo tem um tipo de conotação, quando é o o branco fazendo tem outro tipo de conotação. Ele entrega esse tipo de hipocrisia, ele entrega o quanto nada é feito por essa periferia e ele entrega o quanto que intelectuais brancos de classe média alta tentam teorizar tudo aquilo, tentam dizer como é que é tudo aquilo, sem na verdade pedir explicação nenhuma pra própria periferia".
Confira abaixo o vídeo do Canal Musicália onde Juscelino Filho analisa e contextualiza a letra de "Mais do Mesmo", composta pelo Renato Russo e gravada pela Legião Urbana.
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