A gravação "horrível" que fez Jimmy Page desistir da carreira de músico de estúdio
Por André Garcia
Postado em 22 de janeiro de 2025
Você já teve algum emprego em que você se sentia como um atacante escalado para jogar no gol? Já sentiu que um emprego anulava seus pontos fortes e se sentia nele um desperdício, como uma usina elétrica utilizada só para acender uma lâmpada? Já se sentiu como um enxugador de gelo profissional? Pois foi assim que eventualmente Jimmy Page se sentiu na carreira de músico de estúdio.
Quando Eric Clapton deixou os Yardbirds em 1965, Page foi o escolhido como substituto, mas não quis. Na época ele já estava estabelecido na carreira de guitarrista de estúdio, e, apesar da pouca idade, apenas 21 anos, ele já era um dos mais requisitados músicos de estúdio de Londres.
Pouco depois, entretanto, no ano seguinte ele não deixou passar uma nova oportunidade de se juntar à banda — chegando a se contentar com o posto de baixista, já que o guitarrista era ninguém menos que Jeff Beck. Foi só quando Beck ficou internado no hospital que Page foi assumir a guitarra. Era para ter sido provisório, mas ele mandou tão bem que a banda preferiu passar o guitarrista base para o baixo e formar uma dupla de guitarra com Page e Beck.
Mas o que mudou em tão pouco tempo na relação entre Jimmy Page e a carreira de músico de estúdio? Por que em um ano ele estava satisfeito e no ano seguinte largou o fluxo constante de oferta de trabalho e a estabilidade financeira para se aventurar na estrada como membro de uma banda de rock?
A resposta é simples: aquilo que traz estabilidade nem sempre é o que traz realização — e estabilidade sem realização nada mais é que estagnação, zona de conforto.
Conforme publicado pela Far Out Magazine, certa vez Page explicou o que aconteceu:
"Foi divertido no início, quando era do tipo 'Ah, faz o que você quiser aí'. Em 80%, 90% das vezes, eu não sabia em que gravação estava entrando! Um dia, fiz uma sessão de muzak, e foi horrível."
Muzak é um termo usado para se referir pejorativamente a um tipo bem específico de música. Algo que aqui pelo Brasil é conhecido como "música de elevador".
Page acrescenta que se sentiu rodeado não de pessoas criativas fazendo música, mas de robôs seguindo instruções de um código-fonte:
"Era só leitura de partitura o tempo todo... eles não paravam! Era como se você estivesse ouvindo aquelas coisas horríveis que toca em elevado. Você simplesmente continua girando e a música continua tocando."
"[Quando a sessão chegou ao fim, eu disse a mim mesmo:] 'Já deu, para mim acabou, estou fora' Aquilo foi na época em que eu estava andando com Jeff [Beck], indo aos shows do Yardbirds, e o baixista decidiu sair da banda. Entrei no baixo apenas para ajudar em alguns shows. Depois, passei para a guitarra."
Foi graças aos deuses do rock que Jimmy Page largou a carreira de músico de estúdio para entrar para o Yardbirds. Afinal de contas, foi com a separação da banda em 1968 que ele recrutou Robert Plant, John Bonham e John Paul Jones para cumprir o restante da agenda dela (com o nome The New Yardbirds). E assim ele acabou foi formando o Led Zeppelin. E o resto é história.
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