A esquecida banda de rock que misturou rock com maracatu antes da Nação Zumbi
Por Gustavo Maiato
Postado em 26 de abril de 2025
Antes de Chico Science & Nação Zumbi ganharem projeção nacional com a mistura de rock e ritmos nordestinos nos anos 1990, uma banda carioca já trilhava esse caminho de forma pioneira. Os Picassos Falsos surgiram no cenário underground do Rio de Janeiro em 1985 e, ainda na década de 1980, combinavam rock, soul e funk com baião, ijexá, afoxé, maracatu, coco e samba — uma fusão ousada que só seria compreendida anos depois.


Nascida no bairro da Tijuca com o nome de O Verso, a banda passou a se chamar Picassos Falsos em 1986, inspirada em uma canção da Brasil Palace. A formação inicial contava com Humberto Effe (voz), Abílio Azambuja (bateria), Gustavo Corsi (guitarra) e Caíca (baixo). Ainda em 1987, após a entrada de Zé Henrique no baixo, o grupo lançou seu primeiro LP, Picassos Falsos, pelo selo Plug, da BMG. O álbum, que incluía faixas como "Carne e Osso" e "Quadrinhos", foi bem recebido no Rio e chegou a entrar na trilha sonora do programa Armação Ilimitada, da Rede Globo.
Em entrevista à revista Bizz à época, os músicos já demonstravam consciência de sua originalidade. "Acho que o que fazemos é atemporal. O LP tem muita coisa junta que não dá pra fixar num momento", afirmou Humberto. As influências iam de Jorge Ben a Jimi Hendrix, passando por Novos Baianos, King Crimson e samba. "A origem do ruído trabalhado no rock", definiam.

O segundo disco, "Supercarioca", lançado em 1988, ampliou essa proposta com ainda mais ousadia. A crítica passou a considerá-lo um dos álbuns mais inovadores da geração 80 do rock brasileiro. As composições, muitas delas inspiradas pelas tragédias dos temporais no Rio, traziam referências diretas a Noel Rosa e Jimi Hendrix. As faixas "Wolverine", "Rio de Janeiro", "O homem que não vendeu sua alma" e a faixa-título mostravam a pluralidade sonora da banda.
Apesar do destaque na cena carioca, o grupo enfrentava resistência em São Paulo. "A gente não existe", disse Humberto sobre a dificuldade de penetrar no mercado paulista. As rádios locais exibiam as músicas, mas os defeitos técnicos da gravação foram apontados até pelos próprios integrantes, que se disseram deslumbrados com o uso de samplers e novas tecnologias. "Gravamos com sinceridade e com todas as deficiências, e usar a eficiência técnica para disfarçar ou consertar essas deficiências não era a ideia", explicou o vocalista.

Após o fim do grupo em 1990, os integrantes seguiram caminhos diversos. Humberto Effe lançou carreira solo, Gustavo Corsi tocou com artistas como Marina Lima e Ivo Meirelles, e o baixista Romagnolli formou outras bandas. Em 2001, o grupo retomou as atividades. Três anos depois, lançou Novo Mundo e, em 2016, Nem Tudo Pode Se Ver, com produção viabilizada por financiamento coletivo. Em 2004, chegaram a se apresentar no palco principal do TIM Festival, dividindo a noite com PJ Harvey e Primal Scream.

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