A canção do Metallica que fala sobre a saída de Jason Newsted
Por Bruce William
Postado em 24 de abril de 2025
No início dos anos 2000, o Metallica vivia uma de suas fases mais turbulentas. Jason Newsted, que integrava a banda desde 1986, decidiu sair após a recusa dos colegas em permitir que ele se dedicasse paralelamente a outro projeto. A saída não foi pacífica, e gerou desdobramentos que viriam à tona de forma dolorosa em um dos discos mais controversos do grupo: "St. Anger". A última faixa do álbum, "All Within My Hands", nasceu diretamente desse episódio.
O próprio James Hetfield reconheceu anos depois que havia sido controlador demais. A proposta de Jason era tirar um tempo da banda para se dedicar à Echobrain, seu novo projeto. Lars Ulrich e Kirk Hammett até cogitaram a possibilidade, mas Hetfield foi totalmente contra. O pedido foi recusado e Jason deixou a banda. Não houve um acordo: houve rompimento.


O título da canção pode até parecer genérico, mas o conteúdo é revelador. A letra fala de amor e controle, de sufocamento e posse, em versos como "Love is control / I'll die if I let go" ("Amor é controle / Eu morrerei se eu deixar ir"). Em depoimentos posteriores, Hetfield admitiu que usava o amor como justificativa para um comportamento dominador. Ele não queria que Jason saísse, mas o que oferecia em troca era submissão total ao Metallica, relata o Songfacts.

A música só ganhou força real quando vista à luz dos bastidores. Em Some Kind of Monster, o documentário que registra os conflitos internos da banda naquele período, James chega a dizer que se sentia como se estivesse "criativamente estrangulando" Jason. A ideia de moldar alguém com as próprias mãos - e destruir no processo - se torna o tema central da faixa. Tudo isso envolto em um clima de raiva, frustração e confissão.
"All Within My Hands" é, curiosamente, a única música do álbum que foi reinterpretada acusticamente pela banda em diversas ocasiões, inclusive em eventos beneficentes, apurou o Metallica Wiki. O nome virou o título da fundação de caridade mantida pelo Metallica. A ironia é que a canção nasceu de um momento de extremo conflito e hoje representa a face solidária da banda. A dor virou símbolo de cuidado, talvez uma forma de ressignificação.

Jason Newsted, por sua vez, nunca demonstrou arrependimento. Ele sempre disse que saiu por convicção e que manter sua integridade foi mais importante do que continuar em um ambiente criativo onde se sentia limitado. Lars Ulrich chegou a dizer, em tom reflexivo, que o modelo ideal de banda que Jason buscava só passou a existir depois da sua saída. "É meio medieval", resumiu o baterista, em fala de 2003 replicada pela We Are The Pit.
Lars relembrou ainda que nem ele nem James se esforçaram para tentar entender o lado de Jason, ou então, fazer o baixista mudar de ideia. "E então não estávamos preparados no momento para fazer um mergulho profundo no motivo pelo qual ele estava indo embora", enquanto Kirk Hammett, do seu lado, implorou para que Jason Newsted não saísse do Metallica.

Em retrospecto, Hetfield reconheceu que perder Jason teve um custo alto. "Acho que algumas músicas nossas teriam ficado melhores com ele. Perdemos algo essencial", disse. O peso dessa percepção está em cada verso de "All Within My Hands", uma canção em que a mão que afaga é também a que sufoca.
Ainda que tenha nascido do trauma, a música ajudou Hetfield a reconhecer seus limites como líder. E, como em tantas outras fases da banda, o Metallica renasceu depois do caos. Mas "All Within My Hands" permanece como registro cru de um momento em que a convivência se tornou insuportável, e a banda precisou olhar para si mesma.

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