Para Ihsahn, do Emperor, streaming e redes sociais desvalorizaram o artista
Por João Renato Alves
Postado em 25 de maio de 2025
O streaming facilitou o acesso do público aos álbuns de forma como nunca havia acontecido antes. No entanto, nem todo mundo enxerga apenas a vantagem na relação. Ihsahn é um dos críticos. Em entrevista ao Metal Global, o líder do Emperor discorreu sobre o tema. De acordo com transcrição do Blabbermouth, ele declarou:
"Venho de uma época em que era possível desenvolver um relacionamento com uma banda ou artista. E antes disso, é claro, havia muitos músicos e muitas bandas, mas, digamos, nos anos 60, a maioria das pessoas, os jovens, escolhiam os Beatles ou os Rolling Stones. Não havia muita opção. Hoje em dia, com as redes sociais e o acesso a qualquer álbum..."

Para explicar sua teoria, o multi-instrumentista e cantor estabeleceu um parâmetro, se dirigindo ao entrevistador. "Tenho certeza de que você é mais novo do que eu, mas consegue apreciar a sensação de quando você é criança e junta dinheiro para comprar aquele álbum em vinil. Às vezes você não sabe o que vai encontrar. Só tinha dinheiro para aquele e não para o segundo, então tinha que escolher. Não havia acesso a tudo, então era preciso estabelecer uma prioridade. Você desenvolvia um relacionamento com os artistas. Pelo menos eu lia todas as letras, todos os encartes. Nem tínhamos informações sobre quem eram essas pessoas, então você tentava se agarrar a... Havia uma grande parte da imaginação envolvida.
E você cria um relacionamento muito especial, eu acho, com artistas e álbuns dessa forma. Hoje em dia, tudo isso, infelizmente, eu sinto que é desvalorizado, porque há tantas pessoas que não têm um relacionamento com os artistas; elas têm seu relacionamento com playlists, seja lá o que for. É apenas o que for música popular na época. E talvez dentro da comunidade do metal, o pessoal do rock e do metal ainda seja mais dedicado a isso. Mas muda tão rápido que é muito difícil para bandas mais jovens terem tempo para desenvolver esse relacionamento. No meu caso, que iniciei a carreira no começo dos anos 90, ainda era aquela época em que era possível desenvolver esse relacionamento por um período mais longo."
Para Ihsahn, plataformas como o Spotify saturaram o mercado e tornaram mais difícil a consolidação de uma carreira. "Ainda há música incrível sendo produzida, mas a maior parte dela provavelmente nunca será ouvida ou chegará às pessoas que poderiam gostar. Adoro ter acesso a tudo digitalmente — consigo encontrar o que não tenho mais em mídia física, receber recomendações que provavelmente nunca teria ouvido. Acho isso incrível. Antes, havia uma gravadora que era como uma porta de entrada, onde as pessoas não podiam lançar qualquer coisa. Mas, claro, agora não custa nada, e todo mundo pode lançar... Você poderia passar uma hora batendo na barriga e lançar no Spotify, ou em todas as plataformas de streaming por, tipo, US$ 19 ou algo assim. Então está muito saturado.
Mas eu tenho que dizer que é o que é. E talvez antes dos anos 60, 70 e 80, quando os discos eram um grande negócio, toda a história da música antes era ao vivo. E mesmo nos anos 60, eu acho, ou pelo menos nos anos 50, as pessoas não tinham dinheiro para comprar discos. Talvez um dos seus amigos tivesse um pequeno tocador de single. E aí você ouvia isso ou rádio. Então, em vez de ficar tão frustrado pensando: 'Ah, as coisas eram muito melhores no passado', ok, tivemos esse período incrível em que nos apegamos aos discos e tudo mais. E Agora estamos de volta a um ponto em que a experiência ao vivo e a conexão são as coisas exclusivas. E espero que demore muito até que a IA assuma isso também (risos)."
O ícone do black metal finalizou a explanação lembrando que as redes sociais também colaboram na impressão, eliminando a fantasia que havia no distanciamento entre os músicos e os fãs. "Figuras como Kiss e Alice Cooper eram míticas. Lembro-me de quando fui ao meu primeiro show do Iron Maiden, não conseguia acreditar que estava respirando o mesmo ar que eles, porque não tínhamos redes sociais. Não sabíamos o que tinham almoçado antes de subirem ao palco. Tudo isso tira um pouco do mistério. E acho que, especialmente no metal, eu diria que grande parte do sucesso de bandas como Ghost, Sleep Token ou Slipknot se deve às máscaras e tudo mais.
E, claro, nem todos conseguiram manter o anonimato, mas as pessoas querem essa sensação de teatro e empolgação. Tive muita sorte de conhecer alguém como Rob Halford durante minha carreira, e ele é, como tenho certeza que todos que o conheceram irão atestar, o ser humano mais doce e humilde. Mas quando ele sobe no palco, é o Metal God. Você não quer humildade — no palco, você quer o Metal God. Você quer o drama e o ritual de tudo. E a banda no palco dá a você e ao público permissão para deixar todas as inibições de lado, deixar a música levá-los a essa experiência. Então, eu acho que com todo esse tipo de interconexões privadas nas mídias sociais, sim, você perde um pouco disso."
Ihsahn segue produzindo material inédito em sua carreira solo, como o álbum autointitulado que disponibilizou ano passado. O Emperor ainda está na ativa, embora não lance nada de novo desde 2001, sendo uma atração nostálgica.
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