A música de Bob Dylan que John Lennon chamou de "patética"
Por Bruce William
Postado em 01 de maio de 2025
John Lennon sempre foi conhecido por não medir palavras, mesmo quando o alvo era alguém que admirava. Apesar de ter se inspirado em Bob Dylan durante a fase mais criativa dos Beatles, Lennon não hesitou em criticar duramente uma música do cantor anos depois, quando Dylan passou a abordar temas religiosos em sua carreira.
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Em 1979, após ouvir "Gotta Serve Somebody" no rádio, Lennon gravou um comentário num gravador caseiro. A faixa era parte do álbum "Slow Train Coming", o primeiro da fase "born again" de Dylan, marcada por forte influência cristã. Lennon não poupou críticas: "Ele quer ser garçom de Cristo", disse, rindo, antes de disparar: "O backing é medíocre, o canto é realmente patético e as palavras eram simplesmente embaraçosas".
A relação de Lennon com Bob Dylan sempre foi marcada por admiração e rivalidade, relembra a Far Out. No começo dos anos 1960, os Beatles descobriram "The Freewheelin' Bob Dylan" enquanto estavam na França, e a música de Dylan teve impacto imediato no grupo, especialmente em Lennon. Músicas como "Norwegian Wood" mostram traços claros dessa influência.

Com o tempo, porém, Lennon passou a ver Dylan com outros olhos. Para ele, a guinada religiosa do cantor parecia uma traição à rebeldia que ambos haviam cultivado na juventude. Em tom de paródia, Lennon chegou a gravar uma resposta intitulada "Serve Yourself", onde zombava da busca espiritual de Dylan, cantando frases como: "Você me diz que encontrou Jesus? Cristo! Que bom, e ele é o único".
Durante uma conversa com David Sheff em 1980, Lennon reafirmou sua decepção. Disse que quem continuava a seguir Dylan apenas por idolatria não entendia mais sua mensagem. "Estão apenas seguindo uma imagem. São ovelhas de qualquer jeito", resumiu, mostrando que sua crítica ia além da música: era um ataque à postura dos fãs e ao próprio Dylan.

Apesar da rejeição de Lennon, "Gotta Serve Somebody" teve impacto positivo em certos públicos e rendeu até um Grammy a Dylan. Mesmo assim, a fase cristã do músico foi marcada por queda nas paradas e recepção crítica dividida. Álbum como "Saved" e "Shot of Love" tiveram desempenho abaixo do esperado para alguém da magnitude de Dylan.
O próprio Dylan defendeu essa fase como uma das mais intensas e verdadeiras de sua carreira. Em entrevistas nos anos 1980, afirmou que "Shot of Love" era seu trabalho mais explosivo e reclamou que a crítica focava apenas no conteúdo religioso, ignorando a música em si. Para Dylan, a rejeição dizia mais sobre o público do que sobre ele.
John Lennon, no entanto, não foi o único a se afastar dessa nova fase de Bob Dylan, mas sua franqueza ao expressar desdém deixou um registro único dessa ruptura. Mesmo entre gigantes da música, a admiração mútua nunca foi garantia de indulgência e, para Lennon, quando algo precisava ser dito, ele não pensava duas vezes antes de falar.

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