Como o baixo retorno financeiro do rock levou à criação de uma das maiores bandas de axé
Por Gustavo Maiato
Postado em 23 de junho de 2025
Antes de virar ícone do axé e sinônimo de Carnaval baiano, Bell Marques tinha os dois pés fincados no rock. No fim dos anos 1970 e início dos 1980, ele era baixista e vocalista da banda Scorpius, grupo que tocava em bailes de formatura e tinha como base um repertório voltado ao rock americano, com influências de nomes como Rod Stewart e Pink Floyd.


A virada aconteceu em 1980, quando a Scorpius foi convidada a puxar um bloco de Carnaval em Salvador, o "Traz os Montes". A experiência mostrou o potencial da música de rua na capital baiana. No ano seguinte, a banda trocou o nome para Chiclete com Banana e começou a transitar por outros estilos, principalmente o axé, que começava a se consolidar como linguagem musical dominante no Carnaval.
Em entrevista ao iBahia, o próprio Bell contou em entrevista que a motivação não foi apenas estética. "Comecei tocando rock e migrei pro axé porque precisava pagar as contas, né?", disse, rindo. A mudança, inicialmente prática, se transformou em um dos maiores acertos da história recente da música brasileira.

Mesmo com a guinada de gênero, o rock nunca saiu do repertório afetivo de Bell. Em shows, já apresentou trechos de músicas do Pink Floyd, como "Another Brick in the Wall" e "In the Flesh?", além de incluir versões de clássicos da Legião Urbana, como "Será?". As homenagens reforçam sua formação roqueira, que continua viva mesmo após décadas embalando trios elétricos.
Em 2013, Bell deixou o Chiclete com Banana para seguir carreira solo, consolidando sua imagem como um dos artistas mais relevantes da música nacional. Sua história, no entanto, guarda essas raízes menos conhecidas, que começaram em casarões de Salvador, onde a Scorpius ensaiava no sótão, como ele relembrou em uma "tour nostálgica" pelas redes sociais (via G1).

Esse mesmo percurso foi contado por Luiz Brasil, guitarrista e ex-integrante da Scorpius, em entrevista ao jornalista Gustavo Maiato. Ele lembra que Bell tocava teclado e órgão na época e que o grupo fazia de tudo um pouco — quase sempre com pouco repertório autoral, mas muita vontade de fazer música. Foi o início de uma história que, por necessidade e talento, reinventou os rumos da música baiana.

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