A pessoa que foi alvo real de Roger Waters em "Pigs", a faixa mais ferina do "Animals"
Por Bruce William
Postado em 21 de junho de 2025
Quando o Pink Floyd lançou "Animals" em 1977, o clima era outro: o punk rugia contra os gigantes do rock, e Roger Waters, mesmo nadando em dinheiro com o sucesso de "The Dark Side of the Moon" e "Wish You Were Here", não escondia o tédio com o estrelato e a raiva contra a elite que via corromper tudo ao redor.
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Inspirado em Animal Farm, de George Orwell, Waters construiu o disco como uma alegoria cruel: os cães, as ovelhas e, no centro, os porcos - símbolos do poder hipócrita. Entre "Dogs" e "Sheep", "Pigs (Three Different Ones)" faz o ataque mais direto, retratando três "porcos" reais que, para ele, resumiam a ganância e a moral torta da época.
Dois alvos ficaram velados nas letras, mas o primeiro verso aponta de forma geral para a classe capitalista, que Waters via tramando nas sombras políticas do Reino Unido. A faixa reflete a suspeita de que o poder financeiro já costurava o avanço de uma nova guinada conservadora, prestes a ganhar força nos anos seguintes.
O segundo alvo é interpretado como uma estocada em Margaret Thatcher, então líder da oposição conservadora. Waters despeja ironia nas imagens de violência contida, chapéu de ferro e arma na mão, uma previsão da postura bélica que ela mostraria ao virar primeira-ministra.

A única nomeada sem rodeios foi Mary Whitehouse, moralista britânica que liderava campanhas para "limpar" a TV de sexo, violência e tudo que ameaçasse sua ideia de pureza. Waters não perdoou: "Hey you, Whitehouse / Ha-ha, charade you are" virou linha direta para quem, segundo ele, espalhava vergonha sexual e culpa pelo país.
Mary Whitehouse continuou até a morte vista como caricatura conservadora, mas Waters enxergava nela algo mais perigoso: a semente de um moralismo sufocante, capaz de varrer a cultura pop e trocar a liberdade criativa por uma sociedade de aparência limpa e mente fechada. Foi esse receio que moldou a fúria de "Pigs", uma música que ainda soa como aviso para quem acredita que toda moralidade disfarçada de virtude não passa, no fundo, de mais um grunhido de porco.

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